Se na primeira batalha da “Guerra dos
Alpes “poucos tiros foram disparados, no dia de hoje foi descarregada a bomba atómica.
Já todos sabem o que aconteceu e já lá vamos.
Ao contrário do que dissemos ontem, afinal a primeira batalha da “Guerra
dos Alpes” provocou baixas importantes. Ou pelo menos indicou que algo podia acontecer
no dia de hoje. Todos vimos o mesmo.
Ontem Pinot, apesar de não ter perdido tempo na luta pela geral, parecia em
baixo. Não era o Pinot da segunda semana que loucamente atacava as dificuldades
montanhosas. Os rumores começaram ainda ontem de noite. E o início da etapa 19
de hoje confirmaram o pior cenário. Thibaut Pinot com problemas de saúde ao
nível muscular é obrigado a abandonar o Tour de France na altura em que lutava
pela desejada camisola amarela. Pinot diz adeus ao sonho de um povo numa altura
em que se apresentava provavelmente na melhor forma física e mental da sua
carreira.
E hoje esse sonho francês acabou!
A etapa era curta, mas de elevada
dificuldade. O monstro Col de l'Iseran iria impor a sua lei. Assim foi. Julian Alaphilippe tem muito
panache, é um resistente e resiliente, tem fibra e espírito de sacrifício , mas
hoje logo nas primeiras rampas de 10% do monstro alpino via-se a cara de
esforço do ciclista francês. Ao primeiro abanão Alaphillipe cedeu. O tiro foi de
Geraint Thomas e depois de Egan Bernal que disparou muito forte em direção aos
2770m de altitude do Col de I’ Iseran. Quando chegaram ao cume Egan Bernal já levava
1minuto de vantagem para o grupo onde vinha o colega de equipa Thomas,
Kruijswijk e Buchmann e 2 minutos de avanço para Alaphilippe que lutava de
forma heroica. Em tempos de “guerra” Loulou caíu como um herói. De pé! Não vai
ganhar o Tour de France , não se sabe se fica no pódio, mas ganhou 2 etapas e é
sem dúvida uma das grandes figuras , senão mesmo a grande figura do Tour de
France 2019. Essa avaliação vai depender muito de quem chegar a Paris de
amarelo.
E por falar em Paris, a capital francesa
atravessa uma forte onda de calor atingindo ontem os 43ºC . Mas no sul do Alpes
franceses a situação desta tarde foi bem diferente. Depois dos primeiros km de
descida o impensável aparecia nos ecrãs das TV’s e no rádio Volta. Uma forte tempestade
de granizo, neve , muita água e lama devido a deslizes de terra, impediam os
ciclistas de chegar à ascensão final em Tignes. O diretor da prova Christian
Prudhomme teve de tomar a decisão. Haveria porventura 3 hipóteses:
- a etapa continuava!
- a etapa era cancelada!
- a etapa era neutralizada num ponto
especifico.
A primeira hipótese foi completamente rejeitada.
Não sabemos disso, mas só pode. Também não sabemos se neste caso foi ativado o Extreme
Weather Protocol - EWP” da UCI que já falamos aqui.
A etapa também não foi cancelada. Prudhomme
decidiu neutralizar a corrida e atribuir os tempos na passagem pelo Col d L ‘
Iseran. É uma decisão acertada. A razão foi só uma: proteger a segurança e
saúde dos intervenientes. Em especial dos ciclistas. Não haviam condições para
garantir a integridade física dos homens do pelotão.
Na etapa de hoje não há vencedor da etapa
e Egan Bernal chega à camisola amarela sem vencer! Um sentimento agridoce para
o colombiano da Team Ineos que parecia voar para uma exibição memorável.
É certo que muitas dúvidas irão ser
levantadas e muitas criticas atiradas à cara da direção de corrida, mas desta
vez a resposta de Prudhomme a um incidente de corrida foi a mais certa.
E do ponto de vista desportivo quem saiu
beneficiado e quem saiu prejudicado? Aqui entramos no campo da futurologia. Não
sabemos se Thomas conseguia chegar a Bernal na última subida nem sabemos se Bernal
por sua vez fugia de vez na ascensão a Tignes. E porque não dizer que
Alaphilippe também saiu prejudicado porque conseguia reduzir espaço na descida
do Iseran? Ou Kruijswijk e Buchmann que podeiam correr de outra forma se
soubessem que o tempo parava nos 2770m do Col d’ Iseran? Bem, se todos percebessem
que a corrida parava na contagem de categoria HC as cartas eram jogadas de
forma bem diferente por todos. Esta é talvez a maior critica/duvida que se pode
apontar à direção de corrida: porque não foram os ciclistas avisados (até podia
ser em plena ascensão) que a “meta” seria no L’ Iseran ? Mas por outro lado
teria Prudhomme a oportunidade e o timing para fazer isso? Só sabendo quando é
que teve conhecimento do estado do percurso e em que fase da corrida estávamos.
Há aqui outro aspeto também a considerar
e que até agora não conseguimos ver as conclusões. É que TODOS os ciclistas tem
de ter o tempo de chegado ao Col de L’ Iseran para ser contabilizado o tempo
perdido para Egan Bernal. Porque esse tempo perdido não pode contar apenas para
a luta pela amarela. A razão é só uma e muito simples: quando no domingo o pelotão
fizer a última volta aos Campos Elísios, os Km’s cronometrados entre a camisola
amarela e o lanterna vermelha tem de ser precisamente os mesmos! É importante e
obrigatório saber a classificação do primeiro ao último lugar até porque há
pontos UCI por distribuir. Esta é uma situação que irá dar uma grande noitada e
grandes dores de cabeça ao colégio de comissários.
E no dia em que acaba o sonho francês,
começa o sonho colombiano. Egan Bernal pode tornar-se o primeiro colombiano de
sempre a vencer a Grande Boucle. Se um francês ganhasse o Tour podemos imaginar
a festa que seria em Paris, se for Egan Bernal nem por sonhos imaginamos o que
se passará em Bogotá nos próximos dias. Além de ser o primeiro colombiano, Egan
Bernal está bem posicionado para se tornar também vencedor do Tour mais jovem desde
1909.
Amanhã termina a “Guerra dos Alpes “numa
etapa curta e muito acidentada. Nós, os adeptos só queremos uma coisa. Muitos
tiros e muito espetáculo num dos Tour de France mais disputados dos últimos anos.
Boas pedaladas!
AG
Classificação Geral : Etapa 19 :
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