terça-feira, 31 de março de 2020

Ciclismo romântico em tempos de quarentena: Episódio 6

Bento Pessoa e Rui Costa
 
Hoje regressamos a território nacional numa viagem de 120 anos. De José Bento Pessoa e o seu recorde do mundo dos 500m, até Rui Costa e o título mundial de estrada em Florença no ano 2013. Pelo meio o maior ciclista português de sempre: Joaquim Agostinho com os seus momentos de glória, mas também o seu trágico fim de vida.

As lutas épicas entre Nicolau e Trindade são recordadas, assim como os 2 magníficos da década de 50: Alves Barbosa e Ribeiro da Silva tem uma menção honrosa e justa.

Acácio da Silva e as suas camisolas amarelas no Tour de France e rosa no Giro de Itália. Sérgio Paulinho e a prata olímpica em Atenas 2004.

Tudo isto para ver num pequeno vídeo de 15 minutos promovido pela Federação Portuguesa de Ciclismo e que percorre os momentos mais marcantes e românticos do ciclismo português nestes 120 anos de vida.

Autoria: Elisabete Silva e José Carlos Gomes

Argumento e Texto: José Carlos Gomes

Edição e Grafismo: Matéria, Creative Agency

Boas pedaladas

AT
 

segunda-feira, 30 de março de 2020

A Gent-Wevelgem e a Primeira Guerra Mundial

 
Mont Kemmel, 1918
 
O ciclismo está cheio de história e por vezes a própria história do ciclismo é a história dos momentos mais marcantes que todos conhecemos.
 
Os dias que passamos serão marcantes e também será para o ciclismo. Provas canceladas e corridas adiadas. Nunca aconteceu desde a Segunda Guerra Mundial.  Em " tempos normais" hoje seria o dia de discutir mais uma edição da Gent-Wevelgem percorrida ontem.
 
Hoje é pedido um pouco por todo o mundo para ficarmos em casa, quando em outros tempos, mesmo contrariados, muitos tiveram de enfrentar guerras terríveis . Como forma de homenagem o percurso da Gent-Wevelgem é uma viagem aos mais importantes campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.
Foi zona do Kemmelberg que se realizou uma das mais sangrentas batalhas durante a 1ª Guerra Mundial. Essa batalha teve a maior participação de sempre de soldados portugueses. Conhecida como a Batalha de la Lys, que se estendeu á região belga da Flandres e ao Monte Kemmel. Morreram nesta batalha 1861 portugueses.
Durante a corrida de amanhã e no final do Kemmelberg é possível ver o monumento que assinala a terrível “ Bataille du Mont Kemmel
 
Em Ypres, já a caminho da meta em Wevelgem, o pelotão irá passar junto ao famoso Menin Gate, memorial de homenagem aos soldados britânicos que sucumbiram nas terríveis batalhas e que os corpos nunca foram recuperados.
Memorial Menin Gate
 
Também as 3 passagem pelos troços em terra batida estão associados à Primeira Guerra Mundial. Estas estradas são o ponto de ligação ao Ploegsteert Memorial to the Missing, que além de homenagear os soldados desaparecidos também recorda a “ Trégua do Natal ” , onde soldados alemães e britânicos  baixaram as armas e comemoraram junto o Natal. O armistício da Frente Ocidental foi um momento de paz e humanidade num dos períodos mais negros do continente Europeu. Soldados inimigos trocaram as armas por gestos de afetos. Houve distribuição de prendas, sentaram-se à mesma mesa e até disputaram partidas de futebol.


Por momentos a guerra parou!

sábado, 28 de março de 2020

Ciclismo romântico em tempos de quarentena: Episódio 5

Fausto Coppi: Etapa 17 Giro Itália 1949

A etapa 12 do Giro de Itália 2019, disputada entre Cuneo e Pinerolo, celebrou uma das mais míticas epopeias ciclísticas de todos os tempos. A etapa teve apenas 158km e a única dificuldade montanhosa foi a subida inédita a Montoso, mas em 1949 a ligação entre estas duas localidades passou pelas mais difíceis montanhas alpinas. Dos 254km faziam parte as subidas ao Col Maddalena, a Vars, ao terrível Izoard, a Monginevro e a Sestriéres e todas elas foram conquistas por um único homem, sempre em solitário. A 10 de junho de 1949, na 17ª do Giro, Fausto Coppi entrou para a história das lendas ao percorrer sozinho, quase na totalidade, a etapa que viria a dar ao “campionissimo” italiano o seu terceiro Giro de Itália.

Nesta altura o ciclismo era marcado por uma rivalidade única. Dois italianos disputavam entre si o reinado do ciclismo. Um, mais velho, tinha vencido a edição do Tour de France de 1948 e assim evitado uma guerra civil em Itália. Outro, mais novo, queria também ficar na história da modalidade e do seu país. Em 1949 Bartali tinha 35 anos e no seu currículo já constavam duas Grande Boucle e três Giros. Coppi com os seus 30 anos e as suas duas camisolas rosas (1940 e 1947) procurava o topo que até aí parecia pertencer ao seu rival. As disputas épicas entre Coppi e Bartali ficaram para sempre recordadas pelos relatos de Dino Buzzati, Mauro Ferreti ou Pierre Chany. Os tempos eram outros e as conquistas no ciclismo eram descritas pela criatividade dos grandes jornalistas que faziam da narração de cada etapa verdadeiros romances que levavam ao êxtase os adeptos da modalidade. Mais que as táticas de corrida ou os tempos ganhos ou perdidos, os amantes de ciclismo procuravam emoção e isso era conseguido com os magníficos textos dos jornais do dia seguinte ou com as emissões de rádio em direto.

Mas voltando à etapa 17ª do Giro de 1949.

A competição não corria de feição a nenhum dos campeões. Bartali estava longe da liderança. Reza a lenda, ou melhor, dizem os relatos da altura que o atraso de Bartali se deve a um episódio logo na primeira etapa da prova. Num dia muito quente, com uma etapa entre Catania e Palermo, Il Pio aceitou a bebida de um espectador. Momentos depois começou a vomitar e não terminou a etapa levando com muito tempo de atraso. Começaram a circular a hipótese, nunca confirmada, que Bartali foi vítima de uma sabotagem e foi envenenado. Corriam os rumores que haveria uma rede de apostas ilegais orquestrada pelo “mafioso” Salvatore Giuliano que era grande fã de Coppi. O objetivo era tirar Gino Bartali da luta pela vitória do Giro 1949. Verdade ou apenas mito, o que é certo é que Bartali esteve sempre com performances muito abaixo das expectativas. Na derradeira oportunidade para vencer a competição, a etapa 17ª que percorria grande parte dos Alpes transalpinos, Bartali já levava mais de 10 minutos de atraso para Adolfo Leoni que vestia a camisola rosa.

Fausto Coppi, ao contrário das suas próprias expectativas e do seu diretor desportivo, também estava atrasado. Com uma diferença de apenas 43s para Adolfo Leoni, Coppi só já tinha esta oportunidade para vencer o Giro de Itália.  

O dia 10 de junho de 1949 acordou chuvoso e o frio fazia-se sentir em Cuneo. A jornada era longa e tinha 254km. O diretor desportivo de Coppi perguntou-lhe o que deveria colocar nos bolsos das camisolas dos seus gregários. O campeão respondeu: “pão, salame e uma lanterna”. A lanterna seria necessária porque Coppi sabia que os companheiros de equipa iam chegar já depois do sol posto. O sinal estava dado. Fausto Coppi preparava algo transcendente.  

A etapa arrancou e logo no início se percebeu que a jornada seria marcada pelas estradas em péssimas condições e cheias de água e lama. Primo Volpi foi o primeiro a atacar e passados uns km Fausto Coppi foi ao seu alcance. Quando passaram no alto da primeira montanha do dia, a Maddalena, já Coppi estava sozinho. A epopeia tinha começado e faltavam ainda 192km para a meta instalada em Pinerolo. Todas as grandes dificuldades do dia foram ultrapassadas por Coppi que km após km via alargada a distância para os seus rivais. Lá atrás, também sozinho, corria o “velho” Bartali numa perseguição desumana com a cara cheia de lama, de boca aberta e com sinais de desfalecer. Não conseguiu alcançar Coppi que chegou sozinho às terríveis rampas finais em La Casse Déserte no Col d´Izoard. Este episódio ficará para sempre no relato de Mauro Ferreti. A emissão radiofónica parou e Ferreti descreveu a corrida com a frase que ficou conhecida como uma das mais famosas do ciclismo e do desporto italiano até os dias de hoje e não precisa de tradução, é universal:

“ un uomo solo é al comando, la sua maglia é bianco-celeste, il suo nome é Fausto Coppi “

Il Campionissimo Fausto Coppi ficou para sempre imortalizado no Col d’Izoard. Foi descrito como um rato na montanha e os espectadores juraram que o italiano flutuava em Casse Déserte desafiando as leis da gravidade.

A etapa foi-se aproximando do fim e quando Fausto Coppi cruzou a meta em Pinerolo o relógio marcou 9h19m55s. Coppi tinha feito o impensável. Sozinho conquistou todas as montanhas do dia e assim levou para casa a camisola rosa de vencedor do Giro de Itália. Gino Bartali chegou 11 minutos depois e o terceiro classificado, Alfredo Martini, a mais de 19 minutos.

O jornalista francês Pierre Chany traduziu o dia de uma forma muito simples. Ao enviar o seu trabalho para o jornal onde trabalhava disse que depois de ver chegar Coppi e Bartali, foi jantar. Comeu um prato completo, com sobremesa e café. “Depois fumei um cigarro e pedi a conta. Paguei e saí. O sexto ciclista ainda não tinha chegado. “

A 10 de junho de 1949 Fausto Coppi fez história. A etapa 17 do Giro de Itália desse ano é o mais brilhante capítulo da bíblia ciclística dedicado ao “ciclismo romântico”.

 

 
 
 

segunda-feira, 23 de março de 2020

Ciclismo romântico em tempos de quarentena - Episódio 4

Alberto Contador : Angliru 2017


O episódio de hoje leva-nos até Espanha. Alberto Contador é a personagem principal. Muitos episódios de ciclismo romântico poderiam ter o “Pistolero” como protagonista, mas nós escolhemos o seu último disparo como ciclista profissional. Foi no dia 09 de setembro de 2017 no Alto do Angliru. Para sempre ficaram na memória as imagens da multidão em êxtase nas rampas de 24% em Cueñas Les Cabres ou já perto do fim um adepto ajoelhado a fazer a devida vénia a Alberto Contador.

Para rever este grande momento depois de conhecer toda a história do Alto do Angliru.

O mítico Angliru !  
Mas o que faz uma subida que foi percorrida apenas 7 vezes em competição ser alvo de tanta adoração, curiosidade e respeito? A resposta é simples : a  sua dureza e a forma como foi descoberta fizeram com que  El Gamonal ( o outro nome ) figurasse nalgumas listas das ascensões  lendárias. É justo ? Veremos.
Vamos por partes, primeiro a geografia.
 
O Angliru fica situado no norte de Espanha , na região das Astúrias. No meio de uma vasta zona de pastagem. Os seus 1570m de altitude fazem parte do coração da serra de Aramo no concelho asturiano de Riosa. Quem tiver coragem para subir ao alto terá de se deslocar à aldeia de La Vega de Riosa. A subida ao “Olimpo do Ciclismo” começa aí…

El Angliru: serra de Aramo nas Astúrias

Mas porque é que a 1ª subida ao alto do Angliru apenas foi percorrida em competição em 1999? Pela mesma razão que as “montanhas “que só nós conhecemos nas nossas voltas de domingo raramente fazem parte da Volta a Portugal. Não são conhecidas.  O Angliru também não o era.  A primeira vez que se deu a conhecer ao mundo do ciclismo foi na edição de fevereiro de 1996 da revista espanhola “Ciclismo a Fundo” . Apartir daí a sua “vida” mudaria por completo.
O responsável pela sua descoberta foi Miguel Prieto, diretor de comunicação da Organização Nacional de Cegos Espanha ( ONCE) para sempre conhecido como o “ visionário cego “ . Prieto não fez por menos.  A 23 de setembro de 1997 escreveu uma carta (ver a carta)  aos responsáveis máximos da organização da Vuelta : Enrique Franco e Alberto Gadea. Tentava então convencê-los que a subida ao Angliru seria umas das mais espetaculares de sempre… Apenas conhecida por pastores locais que a utilizavam para movimentar o seu gado , agora que foi pavimentada não havia razões para não fazer parte do percurso. Para Prieto , se a Itália tinha o Mortirolo e a França o Mont Ventoux então a Espanha não podia ter “apenas “ os Lagos Covadonga. Tinha de ter algo mais difícil e duro. A resposta só podia estar em La Veja de Riosa e no seu Angliru.
Zona de pastagem de gado, El Gomonal nasceu para o ciclismo em 1999
 
Franco e Gadea acompanhados de Prieto fizeram o seu reconhecimento em 1998 e encontraram “ a misteriosa montanha asturiana. A mais dura subida jamais vista” . Passados 13 dias na apresentação da Vuelta a surpresa. Era oficial, o Angliru iria ser palco de um final de etapa. O mundo ciclístico tinha então os olhos postos neste monstro asturiano e as reações não se fizeram tardar. Um dos melhores trepadores de então, o italiano Leonardo Piepoli, visitou o Angliru uns dias antes do inicio da Vuelta 1999 e descobriu como “era impossível “ principalmente a zona de Cueña les Cabres e as suas rampas de 24% de inclinação . Outros críticos perguntavam o que queria a organização: “sangue ?”. Vicente Belda, diretor desportivo da equipa Kelme , estava indignado. “Como queriam um ciclismo limpo se depois os corredores subiam estas barbaridades …” antecipando-se ao escândalo de doping onde a sua equipa esteve envolvida anos mais tarde.
Cuenã les Cabres : rampas de 24% inclinação
 
José Maria Jiménez: primeiro vencedor no Alto de Angliru
Mas o grande momento chegou. A etapa ligava a cidade de Léon ao Alto do Angliru e num duelo digno de um filme de suspense o espanhol José Maria Jiménez bate o russo Pavel Tonkov sobre a linha de meta e torna-se o primeiro a conquistar El Gamonal. No final dedica a vitoria ao seu amigo Pantani : “ Nunca subi uma montanha tão dura. É exageradamente forte. Aqui Pantani e eu faríamos estragos “. Com apenas meses de diferença, no Inverno de 2003 a 2004, Pantani e Jiménez, dois dos trepadores mais talentosos da sua geração morriam de overdose de cocaína. Ao dar a noticia da morte de “ Chava “ Jiménez o jornal ABC escreveu “ El primer hombre en la luna ( o al menos en el Angliru )” .
 O Angliru regressou no ano seguinte ( 2000) e o seu vencedor foi o italiano Gilberto Simoni. O impacto da sua vitória no colosso espanhol foi tão grande que em Itália os responsáveis pelo Giro estavam desesperados para recuperar o título de “subida mais dura” que o Angliru tinha roubado ao Mortirolo. Como solução em 2003 incluíram no percurso do Giro de Itália o Monte Zoncolan e também o Col de Finestre com os seus famosos 8km em terra.
Mais 4 edições da Vuelta escalaram a subida: 2002 ( Roberto Heras) , 2008 ( Alberto Contador), 2011 ( Juan Cobo), 2013 ( Kenny Elissonde) e 2017 ( a ultima vitória de Alberto Contador ).
" El Olimpo de Ciclsmo" - Ayuntamiento de Riosa
El Gamonal ganhou fama , e La Veja de Riosa é hoje procurada por quem quer testar as suas capacidades físicas e mentais. Seja a pé ou de bicicleta todos aqueles que visitam a região de Riosa querem conquistar o “Olimpo do Ciclismo “ . A expressão é do Alcaide José Antonio Muñiz que viu na ascensão ao Angliru uma boa forma de promover o seu concelho. Será com certeza exagerada, mas na Serra de Aramo os argumentos esgotam-se tão rapidamente como as forças nas pernas e o ar nos pulmões quando temos pela frente rampas tao duras a ultrapassar os 20% de inclinação.
 
Se o Angliru fará parte do “ Olimpo do Ciclismo” ao lado do Mont Ventoux, Tourmalet, Izoard ou  Alpe D´Huez isso não sabemos . Precisa de muita coisa, principalmente de história. E também no ciclismo a história precisa de tempo e o Angliru ainda é muito novo.
 
Desde La Vega de Riosa
Altitude : 1573m
Distancia: 12,5k
Desnível: 1266m
Média: 10,13%
Máxima: 23,5%
 
 
 
 


Boas Pedaladas
AT

sábado, 21 de março de 2020

Milano - Sanremo : A história da " La Classicíssima"


 
Hoje seria o dia do primeiro Monumento da temporada. A Milano-SanRemo , a "La Classicíssima " ou " La Primavera" . Não fosse o maldito vírus e hoje seria também o dia onde bebíamos 10 cervejas " Abadia" para comemorar a vitória de Philippe Gilbert no único Monumento que não faz parte do seu palmarés. Hoje Gilbert junta-se ao lote dos " três Magnificos" : Merckx , Van Looy e Vlaeminck .

Mas outros mais já brilharam no final da Via Roma. Coppi até descansou para beber um café e Nibali colocou a cereja em cima do bolo extraordinário que é a sua carreira.

Aqui ficam algumas histórias da " La Classicíssima"

 

Milano-SanRemo: o primeiro “Monumento”

 
A prova foi organizada pelo jornal desportivo “Gazeta dello Sport” e teve a distância de 288km. Estavam escritos 62 ciclistas, mas na linha de partida em Milano apenas se apresentaram 33. Mais de metade desistiu durante a prova e em San Remo apenas 14 “heróis “cruzaram a linha de meta. O francês Lucien Petit-Breton foi o mais rápido a percorrer a ligação. Nesta altura fazer 288km significavam muitas horas em cima das bicicletas e Lucien “Petit-Breton” levou 11h04m. Uma média de 26km/h. Uma grande performance para a altura. Atrás do francês chegou o seu compatriota Gustave Garrigou e em terceiro o italiano Giovanni Gerbi, o famoso “Diabo Vermelho” que já falamos aqui.
Lucien " Petit Breton" o 1º vencedor
 

Nesta época provas com distâncias elevadas não tinham apenas a vertente de competição desportiva. Eram também provas de superação da resistência humana e nalgumas vezes de sobrevivência.

Além da elevada distância as estradas eram péssimas e muitas vezes as condições meteorológicas eram dantescas. Numa das primeiras edições os ciclistas tiveram mesmo de “furar” pela neve para continuar na direção de San Remo. Aconteceu em 1910.

A edição de 1910 foi particularmente difícil. Começou pelas 6 da manhã e logo nos primeiros km os ciclistas encontraram uma tempestade de neve.

MSR 1910: " a furar a neve"

Ao chegar ao Passo de Turchino , subida que se mantem e que fará parte do percurso da edição de 2019, muitos ciclistas não aguentaram e voltaram para trás. Outros pediram refúgio nas casas que encontraram e depois de aquecerem o corpo recusaram-se a continuar em prova e foram diretos para casa. Depois do Passo de Turchino apenas 30 ciclistas continuaram em prova. Um deles foi Eugène Christophe que viria a ser o primeiro em San Remo. A meio da prova Christophe foi obrigado a vestir umas calças para se proteger do frio. Ao passar por Savona , o francês assumiu a liderança mas por pouco tempo. As suas calças entalaram-se na corrente da bicicleta e Christophe viu-se obrigado a pedir ajuda numa pequena localidade. Enquanto lhe cortavam as calças, libertando-o da bicicleta, o ciclista aproveitou para se alimentar abastecendo-se convenientemente para o resto da prova. Apesar do tempo perdido Christophe ganhou um novo folego e conseguiu alcançar a frente da corrida. Sem as calças e bem alimentado passou direto para a liderança e chegou a San Remo com mais de 1 hora de vantagem para o segundo classificado. A epopeia de Eugene Christophe durou 12h24m. A mais lenta das edições da Milano – San Remo. No final o francês foi hospitalizado por queimaduras nas mãos e cara. Esteve mais de um mês no hospital de San Remo e só voltou a competir passados 2 anos.
Eugene Christophe vencedor em 1910
 
Mais recentemente a neve também fez a sua aparição durante a prova. Foi em 2013. Os ciclistas não se refugiaram nas casas por onde passavam, mas sim nos autocarros e carros das suas equipas. Mas tal como em 1910 muitos já não regressaram á competição.

Nos anos seguintes a prova foi ganha pelos grandes nomes da altura: Alfredo Binda, Constante Girardengo ou Henry Pellissier.

 
Também a Milano San-Remo foi palco de batalha da maior e mais bonita rivalidade do ciclismo: Gino Bartali vs Fausto Coppi. A luta entre os dois não se fez apenas no Izoard (Alpes) ver aqui, ou no Tourmalet (Pirenéus ) ou noutra qualquer grande subida do Tour de France ou do Giro de Itália. Para a historia ficam também as edições da década de 40 onde os dois italianos disputavam a “Classicíssima “como se fosse a última corrida da vida. Num ano era Bartali que fugia logo no Passo de Turchino conquistando a corrida com uma longa escapada de centenas de quilómetros. No ano seguinte era a vez de Coppi pedalar com elegância e distanciar-se de Bartali acabando em San Remo com muitos minutos de vantagem. Na edição de 1946 a vantagem de Coppi era tão grande que o “Campionissimo” parou para tomar café seguindo mesmo assim destacado na frente. Entre 1940 e 1950 a corrida foi disputada nove vezes (paragem de dois anos devido à Segunda Guerra Mundial). Dessas nove edições Bartali e Coppi venceram seis.

O " famoso" café onde Coppi bebeu um café em plena MSR 1946
 

O palmarés da Milano-Sanremo é vasto e rico em nomes importantes: Eddy Merckx é o seu recordista. O Belga ganhou 7 vezes. Tambem Rik van Looy e Roger de Vlaeminck venceram a prova italiana para completar o penta dos “Monumentos “. Franscesco Moser e Laurent Fignon também tem o nome inscrito na placa do primeiro lugar, assim como Laurent Jalaber, Erik Zabel, Cancelllara, Cavendish ….

 

As últimas 3 edições da prova foram espetaculares.

Em 2017 a “ La Primavera” foi ganha pelo polaco Michał Kwiatkowski num sprint muito comentado e discutido com o francês Alaphillipe e o campeão do mundo Peter Sagan. Todos os três são dos principais favoritos a ganhar a edição 2019 da “Classicíssima”.

Em 2018 foi a vez do tubarão de Messima. Vincenzo Nibali juntou ao seu vasto palmarés a Milano-SanRemo, numa vitória que ficará para sempre na memória do próprio, dos seus fãs e de todos aqueles que gostam de ciclismo espetacular. Nibali ataca no Poggio de SanRemo para ser apanhado já depois de cruzar a linha de meta na Via Roma. ( ver aqui)

O ano passado foi a vez do francês Julian Alaphillippe atacar o Poggio de Sanremo e partir a corrida para depois vencer ao sprint num grupo reduzido.
 

 

sexta-feira, 20 de março de 2020

Ciclismo romântico em tempos de quarentena – Episódio 3


Mundiais 1973: vitória de Felice Gimondi
Nunca um final da prova de fundo masculina foi tão falado e discutido como aquele que aconteceu no final da tarde de 2 de setembro de 1973. O sprint, depois da subida ao castelo de Montjuic teve 4 protagonistas: os belgas Eddy Merckx (vencedor do Giro e Vuelta desse ano) e o irreverente Freddy Maertens , o italiano Felice Gimondi e a estrela espanhola Luís Ocaña que tinha acabado de dar a Espanha o sei segundo triunfo no Tour de France.

Os mundiais de 73 começaram mesmo antes do tiro de partida.  Da Bélgica vinham duas figuras. O jovem de 21 anos Freddy Maertens e Eddy Merckx . Em 1973 o “Canibal” já tinha ganho tudo o que havia para ganhar: as 3 grandes voltas, os 5 monumentos e os mundiais de ciclismo.  Mas Maertens ainda não tinha vitórias no seu currículo. Nesse ano, a sua primeira temporada como profissional, alcançou um prestigiante segundo lugar no Tour de Flanders e um quinto posto no “Inferno do Norte”: Paris – Roubaix. A sua irreverência e ousadia valeram-lhe desde cedo uma boa base de fãs. O seu potencial era muito e depressa chegou à melhor equipa de ciclismo do mundo: a Flandria. Para todos, incluindo para a equipa belga, o jovem Freddy seria o fiel escudeiro de Merckx na busca pelo seu terceiro título mundial. Maertens não concordou e depressa fez saber que não iria a Barcelona para correr para Eddy.

O clima na seleção da Bélgica era de cortar à faca e pior ficou quando a 100km da meta , Eddy Merckx acelera na frente da corrida ficando isolado. O seu plano era chegar sozinho à linha de meta instalada em Montjuic. Maertens apenas teria que controlar os adversários, mas ao contrário do esperado foi ele próprio que persegue o seu líder e o grupo da frente rola compacto outra vez. A 30km do fim e na penúltima ascensão a Montjuic o “Canibal” insiste novamente e elimina todos os seus adversários. No momento ninguém responde, mas passados alguns metros é de novo Maertens a ter as despesas da perseguição. A comitiva belga estava incrédula. Arrastados pelo jovem belga, Felice Gimondi e Luis Ocaña alcançam Merckx e os últimos quilómetros são percorridos por um quarteto de luxo.

Merckx e Maertens tinham obrigatoriamente de se entenderem. Em maioria no grupo, o título de campeão do mundo não poderia fugir às cores belgas. O acordo entre os dois era o seguinte: Maertens iria acelerar nos km´s finais lançando Merckx para a vitória. A recompensa seria um chorudo cheque de francos suíços. Freddy acelerou e tudo corria como previsto, mas a 500m da meta o jovem corredor da Flandria força ainda mais e quando olha para trás apercebe-se que Merckx não consegue seguir na roda. Tarde demais, a meta estava a escassos 30m e era preciso sprintar. Gimondi apercebe-se do sucedido, aproveita o desentendimento entre os belgas  e lança-se nos metros finais conseguindo assim o seu primeiro e único título de campeão do mundo de estrada.

O escândalo e a controversa reinavam na seleção belga. Gritos e discussões junto dos carros de apoio e mais tarde no hotel. Maertens acusa os adeptos de Merckx de lhe lançarem água gelada e outros objetos durante a prova. Ambos acusaram um e outro de traição.  À custa do sprint do mundial de 1973 os 2 estiveram 34 anos sem se falar.  

Em 2007 , durante o Tour de France, os 2 ex – clclistas belgas tem um encontro inesperado. Maertens está a fumar e Merckx pede-lhe um cigarro e conversa.

“ Freddy temos de falar sobre Montjuic”

“ Ok Eddy, concordo”

Estiveram horas a falar e no final da noite apertaram as mãos como 2 grandes campeões .

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Freddy Maertens fui um dos melhores sprinters de todos os tempos. O belga alcançou 221 vitórias enquanto profissional com destaque para os dois títulos mundiais : 76 e 81, as 15 etapas no Tour de France, as 7 no Giro de Itália e as 13 na Vuelta a Espanha numa única edição. É um recorde que se mantém até aos dias de hoje e que lhe valeu a vitória na geral individual da prova espanhola de 1977. É o único sprinter a vencer uma grande volta.

O currículo de Maertens tem uma falha: nunca ganhou um dos 5 Monumentos do ciclismo mundial. No museu da Ronde Van Vlaanderen em Oudennarde a placa do vencedor da edição de 1977 tem o nome de Roger de Vlaeminck . Por cima aparece outra mais pequena: “ Vencedor Moral : Freddy Maertens” . Mas essa estória fica para outra ocasião.

Boas pedaladas,
AT

terça-feira, 17 de março de 2020

Volta ao Alentejo : Passado , Presente e Futuro


 
Adiada para data incerta devido à situação de pandemia pelo novo coronavírus : COVID - 19, começaria hoje  a 38ª edição da Volta ao Alentejo em Bicicleta, carinhosamente apelidada de “A Alentejana”.

Tal como nas pessoas também nos eventos, se o “nome próprio” é substituído por uma alcunha é sinal de prestigio e de autenticidade. A Alentejana é única! É no ponto de vista desportivo, apenas na edição de 2017 se repetiu um vencedor, mas também o é do ponto de vista social e cultural. A Alentejana é a montra de uma cultura e de um povo. É o maior evento de promoção da região Alentejo com periodicidade anual.

A Alentejana também é feita de convívio. Em nenhuma outra prova realizada em Portugal essa componente foi tão importante para o nascimento e para o crescer de uma prova de ciclismo. É certo que essa componente já não está tão vincada na fase adulta da Volta ao Alentejo.

A primeira edição foi em 1983.

O Passado: a breve estória da Volta ao Alentejo

A Alentejana nasceu em 1983 através de um conjunto de amigos. Todos tinham em comum duas características: eram alentejanos e entusiastas do ciclismo.
Joaquim Mendes: impulsionador da Volta ao Alentejo
 
Tudo começou com Joaquim Mendes, na altura vereador da Câmara Municipal de Évora, ao propor uma prova desportiva que percorresse o território da região Alentejo. A ideia era ter um acontecimento desportivo de impacto nacional, mas também criar um evento de promoção do património cultural do Alentejo. A proposta foi aceite e estava lançada a primeira pedra da Alentejana.  

Mas era preciso mais! Eram precisos patrocínios, organização e comunicação social.

Para o sucesso da primeira edição muito contribuíram alguns nomes. Com certeza muitos mais do que aqueles mencionados de seguida.

Aníbal Oliveira, da Federação Portuguesa de Ciclismo, foi um deles.  Nas primeiras edições da prova teve um papel fundamental na definição de percursos e também na ligação entre a organização e a FPC. Para Aníbal Oliveira a Alentejana era única: “…havia uma coisa que era fantástica e que não acontecia em mais lado nenhum. No final das etapas havia sempre uma confraternização, íamos todos jantar ao mesmo sitio, havia sempre um rancho ou um grupa de cantares. Era totalmente diferente das outras. A Volta ao Alentejo era fascinante “

Outro nome incontornável na estória da Alentejana e também do ciclismo alentejano foi Manuel Francisco, mais conhecido por Manuel da Gaita.

Manuel da Gaita: eborense e ex ciclista
Ciclista na sua juventude e um amante da sua região, Manuel da Gaita tinha um sonho: ver uma prova de ciclismo a percorrer as estradas do seu Alentejo. Decisivo na ajuda em fundar a Alentejana, foi Manuel da Gaita que acompanhou Joaquim Mendes na visita com sucesso à FPC para convencer Aníbal Oliveira. O ex ciclista eborense era um polivalente na organização da prova: responsável pelas metas, pelos alojamentos, pela marcação dos percursos ou até pelos patrocínios, Manuel Francisco desenrascava qualquer situação. Afinal de contas ele conhecia toda a gente no Alentejo e todos conheciam o “famoso “ciclista …Manuel da Gaita.

Faleceu nas vésperas da 24ª edição da Volta ao Alentejo.

A prova ia ganhando impacto e importância edição após edição. Aparecia nas televisões e também nos jornais. Nunca o Alentejo tinha tido uma cobertura tão grande.
Teixeira Correia: além de jornalista já fez de speaker da Alentejana. Tem 36 Voltas ao Alentejo no curriculum 
 
A comunicação social desempenhou também um papel de relevo e de grande importância. No inicio muito contribuíram nomes como Homero Serpa do Jornal A Bola e a suas crónicas sobre a vertente desportiva, mas também sobre a cultura alentejana. Guita Júnior do Diário de Notícias, que acompanhou a prova desde a sua primeira edição e também os alentejanos Fernando Emílio e Teixeira Correia. Os dois ainda hoje são nomes incontornáveis da Volta ao Alentejo e responsáveis pela divulgação da prova alentejana.
F.Emílio: um dos principais nomes do jornalismo de ciclismo em Portugal
 

A edição de 1996 ficará para a historia e Fernando Emílio está intrinsecamente ligado ao ano de maior sucesso desportivo da Alentejana: a participação de Miguel Indurain, a maior figura do pelotão internacional. Foi Fernando Emílio atualmente no jornal A Bola, na altura também correspondente do jornal desportivo “A Marca” que apresentou, Alfredo Barroso, diretor da prova e um dos nomes mais importantes da Alentejana e Armando Oliveira à equipa do campeão espanhol: Banesto. Tudo aconteceu num hotel em Málaga no final de uma etapa da Volta à Andaluzia. Fernando Emílio conta que: “foi nesse momento que conseguimos convencer o manager da equipa e trouxemos o Miguel Indurain a Portugal…a partir dai a Alentejana projetou-se a nível internacional “

A vinda de Miguel Indurain foi um verdadeiro sucesso: imagens do Alentejo nas televisões espanholas, mais de uma centena de jornalista a acompanhar a prova e multidões nas chegadas e nas partidas à procura de um autografo. Um colégio de freiras de Badajoz chegou mesmo a ir a Elvas, apenas para ver Miguel Indurain, conta Armando Oliveira.

Miguel Indurain ganhou o contrarrelógio inicial de Sines e nunca mais despiu a camisola amarela da edição de 1996.  A Volta ao Alentejo tinha agora um penta campeão do Tour de France.
Miguel Indurain (vencedor em 1996), Alfredo Barroso (Diretor de Prova) e Abílio Fernandes ( Pres. CM Évora)
 
A Alentejana tem-se mantido até aos dias de hoje com os altos e baixos próprios de um desporto que vive muito de patrocínios.  Apesar de manter sempre o estatuto internacional a prova passou por uma longa fase onde apenas participavam as equipas portuguesas.

A edição do ano 2017 do ponto de vista competitivo voltou a trazer bons nomes e boas equipas. Muito contribuíram 2 fatores: a prova subiu de escalão UCI e passou a 2.1 e disputou-se na semana seguinte à Volta ao Algarve aproveitando a presença de equipas World Tour e Pro Continentais. Foi na edição de 2017 que se quebrou a tradição e a Alentejana foi ganha por um repetente: Carlos Barbero da Movistar.

Nos últimos dois anos voltaram as vitórias portuguesas. Desde 2006 que a Alentejana não era vencida por um ciclista luso. Foi Luis Mendonça da Aviludo-Louletano que acabou vestido de amarelo na Praça do Giraldo em Évora em 2018 e em 2019 foi a vez do algarvia João Rodrigues vencer a Alentejana antes de triunfar na Volta a Portugal em Bicicleta.
Luis Mendonça: vencedor em 2018
 
E foi assim que chegamos à 38ª edição da Volta ao Alentejo.

Fonte: A Alentejana: CIMAC


O Presente: Volta ao Alentejo 2020.
Infelizmente a edição de 2020 foi anulada. Não há datas previstas , nem sabemos se a competição irá para a estrada ainda durante este ano.

O percurso e as equipas que iriam percorrer os mais de 800km durante os  5 dias de competição podem ser consultadas AQUI.

Continua a faltar imaginação na escolha dos trajetos da Alentejana. O CRI individual era repetido pela terceira vez consecutiva na Volta ao Alentejo e se contarmos com as duas últimas edições da Volta a Portugal do Futuro, é a quinta vez que estes 8km seriam realizados em CRI.


Não há uma etapa de montanha e há tanto por onde escolher na bonita Serra de São Mamede. A ideia de criar uma etapa curta e explosiva não parece corresponder com o trajeto desenhado. Mantendo as localidades de partida e de chegada e também a mesma quilometragem, a zona de Portalegre tem dificuldades que cheguem para partir o pelotão e dar emotividade à Volta ao Alentejo. De fora ficam constantemente, nesta etapa que se apresenta sempre como a mais difícil, no que diz respeito a inclinações do terreno: a serra de São Mamede, parte da subida a Marvão ou a curta, mas inclinada rampa de Porto de Espada.


Bem sabemos que a escolha de partidas e chegadas de uma volta é sempre um processo complicado. Mas acreditamos que o adepto já tem saudades de uma chegada da Volta ao Alentejo na rampa das antenas da Serra de São Mamede, no Cabeço do Mouro ou na histórica vila de Marvão. Afinal uma prova de ciclismo, o “desporto do povo “, deve agradar a quem?
Bruno Pires : 2008. A última chegada da Volta ao Alentejo na Serra São Mamede


O Futuro.


Aquela mística e alma que se viveram no inicio da prova, perderam-se um pouco e a vertente desportiva também, com a exceção que foi a agradável surpresa da edição de 2017. Mesmo assim a Volta ao Alentejo continua a ser o maior evento realizado na região.
Pode a Alentejana voltar a ser uma festa de confraternização e ao mesmo tempo ter ambição desportiva? A Alentejana é propriedade da CIMAC: Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central. Será que desportivamente está “amarrada “ao poder local? Mas esta ligação ao poder local é o que mantem a chama acesa da Alentejana? E se um dia a Alentejana sair da CIMAC? Irá perder a autenticidade e as suas características até hoje únicas nas provas de ciclismo organizadas em Portugal? Para que lado deverá pender a balança?
São muitas e importantes perguntas para poucas respostas o que é injusto para quem tem o trabalho de ano após ano organizar a prova. Afinal de contas a Alentejana nasceu em 1983 e nunca falhou um ano.
Em 2017, ao colar a Volta ao Alentejo com a Algarvia os resultados foram visíveis. Subida de escalão e presença de equipas World Tour e Pro Continentais de elevado valor. Do Algarve ao Alentejo é um “pulinho” e algumas equipas permaneceram em Portugal e fizeram as duas competições numa altura em que ainda faz muito frio e neva no resto da Europa. Tal como o Algarve também o Alentejo tem bom tempo, boas estradas e boa hotelaria.  Sim, é verdade. Equipas World Tour apenas participou a Movistar, mas há muito tempo que a Alentejana não tinha uma equipa da elite do pelotão internacional.
O grande problema da Volta ao Alentejo para as principais equipas mundiais é a logística. Esse foi o factor que em 2017 afastou algumas equipas Word Tour que fizeram a Volta ao Algarve e não competiram no Alentejo. Ao contrário do que acontece no Algarve, onde as equipas ficam instaladas no mesmo hotel durante uma semana e as deslocações para os locais de partida e das chegadas aos hotéis são relativamente curtas, no Alentejo isso é impossível e as equipas tem de mudar frequentemente de hotel ou então percorrer longas distâncias todos os dias. As equipas World Tour não querem isso. Infelizmente ainda consideram a Alentejana uma prova de baixo valor competitivo levando a sua “capacidade instalada” de logística para outras partes do mundo.
Mas se queremos uma Volta ao Alentejo a percorrer todos os distritos da região esta situação permanecerá. Não à volta a dar. O Alentejo é um terço de Portugal continental e nós, alentejanos, gostamos dele assim ao mesmo tempo que continuamos a gostar da nossa Alentejana com ou sem equipas da elite mundial.
A " Alentejana"