A chegada da etapa de hoje em Valloire pôs
fim à primeira batalha da “Guerra dos Alpes”. Irá ser nesta área geográfica do
globo que se decide a 106ª edição do Tour de France. Mas já lá vamos. Agora a ciência!
O cérebro humano é um órgão que desperta
muita curiosidade entre cientistas e leigos. No meio de tantas pesquisas e
experiências, restam ainda muitas dúvidas sobre o funcionamento do sistema
nervoso. Tem sido muito difícil e complexo para a ciência entender o verdadeiro
funcionamento deste órgão. Desmistificar algumas teorias e descobrir alguns
comportamentos é um dos maiores desafios da humanidade.
Um dos expoentes máximos de complexidade
do cérebro humano e apontado pelos maiores cientistas do mundo é o comportamento
esquizofrénico dos diretores desportivos da equipa de ciclismo Movistar. São vários
os exemplos ao longo dos últimos anos. Hoje foi apenas mais um bom capítulo
para esse grande livro que se chama: “ o Sistema Nervoso da equipa Movistar” .
Muitos cientistas já tentaram explicar o
que se passou hoje, mas não conseguem. O que se passou dentro do cérebro do
diretor desportivo. Não sabemos se o Diretor desportivo é o mítico Eusébio
Unzué, se for, o fenómeno que aconteceu hoje é um pouco mais fácil de entender.
Resumidamente foi assim: Nairo Quintana,
que venceu a etapa com um ataque a 7km do cume do Col du Galibier, integrou a
numerosa fuga do dia. O colombiano, sensivelmente a meio da etapa, quase que
liderava a geral individual “virtual”. Os 9 minutos de avanço que a fuga tinha
para o pelotão davam esperanças ao colombiano da Movistar . Quando a fuga começa
a subir para o mítico Col d’ Izoard o pelotão começa a ser misteriosamente
comandado pelos homens da equipa espanhola. O grupo foi completamente dizimado
pelo ritmo alucinante de Marc Soler seguido de Valverde e depois Mikel Landa. Como
consequência disso também a vantagem para a fuga foi abruptamente diminuída. Naturalmente
que o objetivo era um ataque de Mikel Landa ainda no Izoard na perspetiva de
alcançar Quintana já no Galibier , para ambos fazerem estragos na geral individual.
Ora, isto era o que iria acontecer se o cérebro de quem dirige a Movistar
tivesse comportamentos normais. Nada disto aconteceu. Landa não se mexeu no grupo
do camisola amarela ….mas Soler continuou a diminuir o tempo para a frente da
corrida. Quintana termina o dia de hoje 1m10s à frente do ciclista basco na classificação
geral, bateu o recorde de subida do Galibier , foi sempre a ganhar tempo ao grupo principal e
ainda lhe foi retirado cerca de 2 minutos pela própria equipa com o trabalho de
Soler no Col d´Izoard para Landa nada fazer. É um verdadeiro fenómeno paranormal
a tática da Movistar. O sistema nervoso de quem vai no carro dos espanhóis parece
uma montanha russa. Ora ataca, ora defende ou faz as duas coisas ao mesmo tempo.
É por isto que esta área da ciência é tão apaixonante e tem tanto ainda por
explicar. Moral da história. Quintana venceu a etapa com 5m18s de avanço para
os principais homens do pelotão. Consegue subir no dia de hoje 5 lugares na
geral individual e à entrada do antepenúltimo dia de Tour de France ocupa a 7º posição
a 3m54s do camisola amarela Julian Alaphilippe. Fica a pergunta que a ciência não
consegue responder: e se Eusébio Unzué fosse um Diretor Desportivo? Onde tinha
chegado a vantagem de Nairo Quintana?
Passado este episódio de neurociência ,
como foi a primeira batalha dos Alpes?
Poucos tiros e nenhum morto. Em Valloire
e depois de passar pelo Izoard e Galibier todos chegaram bem vivos para continuar
a disputar a camisola amarela nas duas etapas com chegada em alto que se disputam
amanhã e sábado.
A principal conclusão é que, tal como já
dissemos, Julian Alaphilippe segurou a camisola amarela. Para o segundo classificado
a vantagem é de 1m30s. Ou seja, o francês tem praticamente a mesma vantagem
para o seu primeiro perseguidor. Digamos que foi quase como que a etapa não fizesse
mossa a Alaphilippe e tudo ficou na mesma. Continua com 1 minuto e meio. Perdeu
apenas 5s !
Esperava-se mais ação e logo no Izoard
entre os 6 primeiros da geral. Nada disso aconteceu! Enquanto na frente da
corrida Quintana ganhava vantagem na subida ao Galibier , nos favoritos a
subida era feita num ritmo não muito elevado. Egan Bernal disparou a primeira e
única bala e rapidamente ganhou espaço. Estranho foi o contra-ataque do seu
colega de equipa Geraint Thomas numa altura que o pelotão era comandado por
Enric Mas e estava a perder terreno perigoso para Bernal. Com o ritmo a acelerar,
Alaphilippe descolou a 500m do cume. Esta atitude de Thomas, por mais irónico que
possa parecer, prejudicou Bernal que podia acabar o dia mais perto de
Alaphilippe e beneficiou o francês que veste de amarelo. É que descolar Julian
Alaphilippe a 500m do Galibier para ganhar 20s teve consequências nulas para Thomas,
pois o homem da Deceuninck-Quick-Step rapidamente recuperou na vertiginosa
descida em direção à meta. Conclusão: Alaphilippe até recuperou o tempo perdido
na subida e acaba o dia com os mesmos 1m30s para o segundo classificado que
agora é Egan Bernal. O colombiano da Team Ineos sobe três posições na luta pela
camisola amarela.
Espera-se mais de Pinot e Kruijswijk.
Pinot acabou a segunda semana de competição em grande forma e era muito grande
a expectativa em redor do francês. O ciclista da Groupama-FDJ apenas reagiu ao
contra-ataque de Thomas e hoje perdeu-se uma boa oportunidade de Pinot tentar
fazer o assalto à camisola amarela. Restam assim 2 etapas para o vencedor do Tourmalet
disparar cartuchos suficientes e certeiros. Será que Pinot ainda tem muitas munições
nos bolsos? Quem pareceu completamente desarmado foi o holandês da Jumbo-Visma.
Não perdeu tempo, é certo. Mas nada fez para manter a sua posição. Hoje a sua
equipa não apareceu com o comboio do costume e Kruijswijk limitou-se a seguir
na roda dos seus adversários.
Destaque para Romain Bardet que terminou a etapa na segunda posição. Arredado
muito cedo da possibilidade de lutar pelos lugares cimeiros da classificação integrou
a fuga do dia amealhando pontos importantes para a classificação de melhor
trepador. Hoje a camisola branca às bolinhas vermelhas passou de Tim Wellens
para o corpo do francês da AG2R. Um mal menor pois Bardet partia para este Tour com aspirações a repetir pelo menos o segundo lugar mais alto do pódio que é a sua melhor classificação na prova rainha por etapas.
Na “Guerra dos Alpes” as decisões foram
adiadas para amanhã. O dia será curto mas intenso. São apenas 126km e uma chegada
em alto no Monteé de Tignes com os seus 7,4km a 6,9% de inclinação média. A
meio o Col de L´Iseran , uma categoria especial que chega aos 2751km, o ponto
mais alto do Tour de France. Se o objetivo é tirar a camisola a Loulou, então é
no Iseran que a pólvora tem de começar a ser utilizada caso contrário poderemos
ter uma boa surpresa na chegada a Tignes. E a surpresa é Alaphilippe continuar
de amarelo vestido para a ultima e decisiva batalha alpina.
Agora tudo para a cama, tudo a descansar
o cérebro em homenagem à equipa Movistar !
Boas pedaladas!
AG
Etapa 18ª – Top 10:
Geral Individual:
Sem comentários:
Enviar um comentário