quarta-feira, 21 de agosto de 2019

74th La Vuelta ciclista a España : O GUIA


No próximo sábado sai para a estrada a última grande Volta de 2019. A Vuelta a España. Muita montanha, um percurso muito exigente e um pelotão que não tem as maiores figuras da modalidade. Uns por lesão e outros por opção. O que é certo é que os últimos 2 vencedores da prova espanhola não estarão presentes. É a ultima oportunidade para algumas equipas “salvarem “ a época , mas também é a oportunidade para alguns jovens ciclistas mostrarem que estão aptos para as exigências de uma competição que começa no dia 24 de agosto e só termina a 15 de setembro.

O percurso.
Serão 21 etapas num total de 3272,1km. Um percurso muito acidentado com poucas oportunidades para os homens mais rápidos do pelotão. Ao todo serão 8 chegadas que coincidem com contagens de montanha. A prova começa com um contrarrelógio por equipas e na sua etapa 10 a luta contra o relógio é individual. Não existem etapas acima dos 200km. A aposta continua a ser em etapas com finais muito inclinados como são o caso de Alto Mas de la Costa (4km a 12,3%) e o “monstro “Los Machucos com as suas terríveis rampas de 25%.
ETAPA 1. Salinas de Torrevieja > Torrevieja 18 km (CR Equipas)

ETAPA 2. Benidorm > Calpe 193 km


ETAPA 3. Ibi. Ciudad del Juguete > Alicante 186 km

ETAPA 4. Cullera > El Puig 177 km


ETAPA 5. L' Eliana > Observatorio Astrofísico de Javalambre 165.6 km

ETAPA 6. Mora de Rubielos > Ares del Maestrat 196.6 km


ETAPA 7. Onda > Mas de la Costa 182.4 km

ETAPA 8. Valls > Igualada 168 km


ETAPA 9. Andorra la Vella > Cortals d'Encamp 96.6 km


DESCANSO 1. Cortals d'Encamp
ETAPA 10. Jurançon > Pau 36.1 km


ETAPA 11. Saint Palais > Urdax-Dantxarinea 169 km


ETAPA 12. Circuito de Navarra > Bilbao 175 km


ETAPA 13. Bilbao > Los Machucos. Monumento Vaca Pasiega 167.3 km


ETAPA 14. San Vicente de la Barquera > Oviedo 189 km


ETAPA 15. Tineo > Santuario del Acebo 159


ETAPA 16. Pravia > Alto de La Cubilla. Lena 155 km


DESCANSO 2. Alto de La Cubilla. Lena
ETAPA 17. Aranda de Duero > Guadalajara 199.7 km


ETAPA 18. Comunidad de Madrid. Colmenar Viejo > Becerril de la Sierra 180.9 km


ETAPA 19. Ávila > Toledo 163.4 km


ETAPA 20. Arenas de San Pedro > Plataforma de Gredos 189 km


ETAPA 21. Fuenlabrada > Madrid 105.6 km





O pelotão.

Serão 22 equipas e 176 ciclistas que irão partir no próximo sábado para a edição 74 da Vuelta a España. Todas as equipas do escalão World Tour (18) e quatro Pro Continentais: Cofidis- Solutions Crédits ; Euskadi – Murias; Burgos-BH e Caja Rural – RGA.

Ao contrário de edições anteriores muitas ausências de peso nas principais equipas. Destaque para os últimos 2 vencedores da competição. Chris Froome , que venceu em 2017, falha devido a lesão e só regressa à competição em 2020. Também Simon Yates, vencedor do ano passado, não vai defender o título. O britânico da Mitchelton-Scott vem de uma época desgastante onde fez Giro e Tour (2 vitórias em etapas) e saltou a única grande Volta onde já terminou no primeiro lugar da geral individual.

Outras ausências de peso são Eric Mas da Deceuninck-Quick Step que foi segundo classificado em 2018 e também Tom Dumoulin que teve um época 2019 para esquecer devido à queda no Giro de Itália. O holandês falhará a sua última volta de 3 semanas ao serviço da Team Sunweb antes de rumar para a Team Jumbo-Visma.

Como é habitual esta será uma Vuelta a España para trepadores. As oitos chegadas em alto ditarão o vencedor final numa luta onde os principais favoritos deverão ser: Primoz Roglic e Steven Kruijswijk (Team Jumbo-Visma) ; Richard Carapaz e Nairo Quintana ( Movistar Team) e Miguel Angel Lopez e Jakob Fuglsang ( Astana Pro Team ).

A presença portuguesa será assegurada por Nuno Bico e Ricardo Vilela (Burgos BH), Domingos Gonçalves ( Caja Rural -RGA), Nelson Oliveira ( Movistar Team) e Ruben Guerreiro (Team Katusha Alpecin).

Ag2R La Mondiale

Os franceses da Ag2R la Mondiale apostam as fichas todas em Pierre Latour. Está muito longe de ser um dos candidatos a vencer a geral, mas já sabe o que é conquistar uma etapa de alta montanha na Vuelta a España (2016).

Astana Pro Team

A Astana Pro Team apresenta-se na Vuelta a España com dois líderes. Jakob Fuglsang que vem de uma época excelente apesar da desistência no Tour de France e o colombiano Miguel Angel Lopez que ainda não conseguiu melhor que um terceiro lugar em grandes voltas. Os irmãos Izaguirre e Dario Cataldo serão ajudas importantes nas etapas de montanha.

Bahrain Merida

A Bahrain Merida vai ter poucas oportunidades para ter êxito nesta Vuelta a España. Apenas Dylan Theuns nas etapas mais acidentadas e Phil Bauhaus nas poucas chegadas com final em sprint.

Bora – hansgrohe

Os alemães da Bora-hansgrohe podem lutar por 2 camisolas: a verde com Sam Bennett e a de melhor trepador com David Formolo ou Rafal Majka. Além de Bennett para as etapas ao sprint, a equipa traz bons nomes que podem vencer quando a fuga triunfar em etapas montanhosas.

Burgos-BH

É uma das equipas Pro Continentais espanholas presentes e por isso as 3 semanas de competição serão aproveitadas para “mostrar serviço “e tentar vencer uma etapa o que já seria espantoso para uma equipa que não tem nomes para competir com as principais equipas do pelotão. Ricardo Vilela e Nuno Bico que se estreia em grandes voltas serão os representantes portugueses da Burgos-BH.

Caja Rural – RGA

Outra das equipas Pro Continentais convidadas é a Caja Rural – RGA. Jon Aberasturi é a aposta para bons resultados em etapas ao sprint sendo que o principal objetivo dos outros elementos serão as fugas. Domingos Gonçalves que desistiu da Volta a Portugal fará a sua estreia na Vuelta a España.

CCC Team

Uma equipa inteira praticamente a estrear-se na Vuelta a España. Dos oitos elementos apenas Francisco Ventoso sabe o que é começar e terminar a prova espanhola. Poucas expectativas de sucesso para a equipa polaca.

Cofidis – Solution Credits

Os franceses são equipa Pro Continental, mas o facto de ter um bom contingente espanhol pode ter pesado no convite atribuído pela organização. Jesus Herrada , Darwin Atapuma e Nicolas Edet que venceu a camisola de melhor trepador em 2013 , são as apostas para um resultado razoável na geral mas também para vencer uma etapa montanhosa.

Deceuninck-Quick Step

A Wolfpack é a líder do ranking UCI mas aparece na Vuelta a España com poucas ambições. É certo que fez o Tour de France, mas Eric Mas, que não estará presente deveria ser o líder da equipa uma vez que o ano passado fez segundo lugar. Assim teremos apenas Fabio Jakobsen para tentar vencer ao sprint ou Philippe Gilbert que pode  despedir-se da Deceuninck - Quick Step com uma vitória em etapa.

EF Education First

Quem é o líder dos americanos da EF Education First ? Rigoberto Uran que nunca fez melhor que um sétimo lugar? Tejay Van Garderen que falha quase sempre nas grandes Voltas ou o jovem colombiano Daniel Martinez que pode aproveitar a Vuelta para se afirmar como ciclista de 3 semanas? Não sabemos! Secalhar a principal figura da equipa até pode ser Hugh Carthy. A estrada irá responder a todas estas questões.

Euskadi-Murias

Sempre muito interventivos na prova rainha espanhola os bascos da Euskadi-Murias tem ambição de repetir a vitória de etapa de 2018. O protagonista deverá ser o mesmo: Oscar Rodriguez. O ano passado o espanhol venceu em La Camperona .
Groupama FDJ

Com esta formação, muito pouco ou quase nada podem os franceses fazerem para conseguir resultados positivos. Uma equipa World Tour que deverá ser menos protagonista que as 4 equipas Pro Continentais.

Lotto Soudal

Os belgas da Lotto Soudal não irão repetir o êxito das 4 vitorias alcançadas na último Tour de France nesta Vuelta a España. A grande figura da equipa é Thomas de Gendt e é a aposta mais segura para vencer etapas. Também o polaco Tomasz Marczynski gosta de ir para as fugas e sabe muito bem o que é vencer na prova espanhola.

Mitchelton – Scott

Os australianos não trazem o vencedor de 2018 Simon Yates e por isso a liderança da equipa será atribuída ao colombiano Esteban Chaves que o melhor resultado que tem na prova espanhola é o terceiro lugar de 2016. O seu principal escudeiro é o veterano Mike Nieve. A aposta da equipa para as chegadas rápidas é Luka Mezgec.

Movistar Team

Em relação ao Tour de France saiu Mikel Landa e era para entrar Richard Carapaz que venceu o Giro de Itália. Mas as contas saíram furadas à Movistar e Carapaz não marcará presença na partida do próximo sábado  Ou seja, a equipa espanhola começa a prova rainha do seu país com dois lideres que vem de um Tour de France. Valverde ou Quintana? Quem trabalha para quem?  Como será gerida esta liderança bipartida? Com a Movistar tudo é uma incógnita. Nelson Oliveira depois de um Tour de France muito discreto volta a marcar presença na Vuelta a España.

Team Dimension Data

Para vencer etapas os sul africanos trazem Ben King que muito êxito deu à equipa com as duas vitórias na edição de 2018 e também Edvald Boasson Hagen que pode aproveitar uma distração do pelotão nos metros finais das etapas que vão terminar em sprint. Para a geral, apesar da época não estar a correr bem a aposta é em Louis Meintjes.

Team Ineos

Sem Egan Bernal, Chris Froome e Geraint Thomas, a Team Ineos pode arriscar nos jovens Owain Doull e Tao Hart Geoghegan para obter um bom resultado na Vuelta. Outra opção é ter como líder Wout Poels que tem como melhor resultado um 6º lugar. Kenny Elissonde que já venceu no Alto de Angliru é baixa de ultima hora e para o seu lugar entra David de la Cruz , sétimo classificado da edição de 2016. 

Team Jumbo-Visma.

É talvez a formação mais forte na Vuelta a España, mas tal como a Movistar Team também não tem um líder assumido. Se no Giro esse papel foi de Primoz Roglic e no Tour de Steven Kruijswijk quem assumirá a liderança na Vuelta? Para “complicar” ainda mais as contas a formação holandesa traz ainda George Bennett. Escudeiros de luxo serão Robert Gesink e Sepp Kuss.

Team Katusha Alpecin.

Um pouco como a Groupama – FDJ , os suíços da Team Katusha Alpecin tem escassas hipóteses nesta Vuelta. Ruben Guerreiro irá estrear-se em grandes Voltas.
Team Sunweb

Sem Tom Dumoulin a Team Sunweb não tem equipa para discutir a Vuelta a España. Wilco Kelderman é porventura o único capaz de alcançar um resultado digno de registo no final das 21 etapas.

Trek Segafredo

O alemão Jonh Degenkolb é a principal figura dos americanos da Trek-Segafredo. Não terá muitas hipóteses pois as etapas para sprinters serão escassas. O jovem Niklas EG estreia-se numa grande Volta e pode surpreender pela positiva.

UAE – Team Emirates

A UAE – Team Emirates tem em Fábio Aru, vencedor da Vuelta a España em 2015 o nome mais sonante. No entanto, o italiano parece estar longe de atingir o nível e performance de outros anos. Atenção ao jovem Tadej Pogacar que pode ser a grande sensação da Vuelta 2019. Fernando Gaviria é o homem para tentar vencer nas etapas em sprint.
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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Clubes com futebol no ciclismo? Talvez! Clubite e Futebolização, não!



Nota prévia:
O Aguadeiro Trepador é um blog. De comentário, de histórias e sobretudo de opinião.
De livre espírito e livre pensamento. Sem lápis azul ou de outra cor qualquer. Escreve-se o que se pensa. Pensar é grátis!
Como tal, irão encontra, se não o fizeram já, textos que concordam e outros que detestam. É normal e bastante saudável até.
Sempre que encontrarem aqui alguma coisa de que não gostam ou não concordam fazemos o convite para argumentarem. A única coisa que pedimos, como já dissemos, é o livre espírito e livre pensamento. São as duas regras principais do Aguadeiro Trepador Blog.
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É inegável e por diversas vezes já abordamos o tema (aqui e aqui), que há uma profunda ligação histórica entre dois desportos: o futebol e o ciclismo. Sempre andaram de mãos dadas e sempre disputaram entre si o título de “o desporto mais popular “. Em Portugal e um pouco por todo o mundo, futebol e ciclismo despertam paixões, movem multidões e até, nalguns casos “evitam “guerras (aqui)! A ligação é quase umbilical e a razão para o sucesso dos dois desporto parece ser apenas uma: todos, ou quase todos nós, na nossa infância e juventude demos pontapés em bolas para marcar golos e fizemos corridas de bicicleta para cortar a meta no primeiro lugar. E o que nós fazemos quando somos crianças e adolescentes marca-nos para o resto das nossas vidas.
Os principais e mais antigos clubes desportivos em Portugal sempre viram no futebol e no ciclismo a sua principal base para angariar adeptos e simpatizantes e não é por acaso que nos anos 30 do século passado Benfica e Sporting protagonizaram a primeira grande rivalidade clubística em Portugal. E ao contrário do que atualmente a maioria pensa, a razão dessa rivalidade foi o ciclismo. Na altura os dois clubes não tinham expressão nacional e a sua base de adeptos era apenas regional. Benfica e Sporting eram rivais apenas na cidade de Lisboa. Os grandes eventos desportivos não passavam da capital e praticamente não existiam adeptos noutras regiões do país.
Primeira grande rivalidade desportiva em Portugal: Nicolau vs Trindade
 
A Volta a Portugal de 1931 mudou um pouco esse paradigma. O Benfica apresentava nas suas fileiras um ciclista de grande porte atlético. José Maria Nicolau arrancou para a Volta como principal candidato e apenas outro ciclista conseguiu competir lado a lado com o gigante benfiquista. Foi Alfredo Trindade, ciclista magro e baixinho que na altura corria pela União Clube Rio de Janeiro, clube bairrista da zona do Bairro Alto em Lisboa. A luta foi titânica e Nicolau venceu a Volta com apenas 29s de vantagem para Trindade começando aí a maior rivalidade de sempre no ciclismo nacional. No ano seguinte novo duelo entre “David “(Trindade) e “Golias” (Nicolau) com a vitória a sorrir ao ciclista do Rio de Janeiro. Estava feita desforra. Mas nem tudo foi mau para o Benfica, pois numa altura em que os meios de comunicação social não chegavam a todos nem a todas as regiões do país, o clube benfiquista aproveitou a Volta a Portugal para conquistar simpatias e adeptos. Muitos viram pela primeira vez uma camisola do clube ao vivo nas grandes escapadas de José Maria Nicolau e o ciclista tornou-se o maior desportista do Benfica.
 
O Sporting não podia ficar para trás. Se em Lisboa estava agarrado às elites sociais, o clube leonino tinha de conquistar o apoio e a simpatia popular. A solução foi a contratação de Alfredo Trindade, solução essa que viria a dar resultados logo nesse ano, uma vez que Trindade ganha a Volta a Portugal de 1933 vestido de verde e branco. Começava aí a grande rivalidade Benfica -Sporting, não só na Volta a Portugal, mas também noutras competições velocipédicas nacionais e na generalidade dos desportos onde os dois clubes, agora de dimensão nacional, disputavam energicamente entre si sucessos e vitórias. Adversários em cima de bicicletas, amigos na vida, José Maria Nicolau e Alfredo Trindade protagonizaram a mais bonita e saudável rivalidade clubística do desporto nacional.
Fora de competição , uma saudável amizade.
 

 
Ao Benfica e ao Sporting, também o FC Porto se juntou ao ciclismo com brilhantes vitórias nas principais provas nacional. Dias dos Santos e Fernando Moreira foram os primeiros a vencer com a camisola branca e azul e mais tarde também Marco Chagas ou Manuel Zeferino deram muitas alegrias aos adeptos azuis e brancos. O FC Porto continua a ser nos dias de hoje o clube dos chamados “3 grandes “com mais títulos na prova rainha do ciclismo em Portugal.
Aos poucos o ciclismo desapareceu do Benfica, do FC Porto e do Sporting, o futebol dominou os clubes e também dominou os adeptos. A rivalidade clubística entre os maiores clubes nacionais está assente no “ desporto rei “ , só que essa rivalidade está nos dias de hoje , por culpa dos dirigentes dos próprios clubes, da comunicação social e de alguns adeptos, a passar o limite da razoabilidade , do bom senso e da disputa saudável para ver quem é o melhor e caminha a passos largos para tudo o que não é digno no desporto. E isso tem um nome, chama-se “clubite aguda”.
O regresso recente de Benfica, FC Porto e Sporting ao ciclismo (atualmente o Benfica não tem equipa e o Sporting vai abandonar o projeto com o Clube Tavira) trouxe aspetos positivos para a modalidade: o apoio financeiro indispensável para manter uma estrutura de ciclismo, a exposição mediática e adeptos para a beira da estrada. Trouxe também tudo o que existe de mau na rivalidade clubística. Trouxe a clubite futebolística para o ciclismo e isso de positivo nada tem.

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A Volta a Portugal que terminou no último domingo foi repleta de maus exemplos. De exemplos em que não importa o desporto, não importa o ciclismo. O que realmente interessa é cor da camisola. Interessam as lutas futebolísticas e a estupidez. As redes sociais foram nestes dias um oceano inteiro de adeptos ocasionais ou não que, de um momento para outro, viram na Volta a Portugal, o local ideal para continuar a guerrilha futebolística. Tivemos de tudo. O típico adepto que diz que a culpa é do comissário (o árbitro do ciclismo), mas também apareceu o adepto de ciclismo que diz que o presidente de outro clube comprou os comissários com “fruta”. Claro, também houve teorias da conspiração com direito a vídeos e até fotomontagens. Houve também artistas que decidiram provocar os rivais no futebol colocando tarjas em viadutos e a cereja em cima de bolo uma reportagem realizada pela organização da Volta em que o “jornalista “tenta brincar com um resultado de um jogo de futebol. Tudo matéria a mais no ciclismo, até porque a modalidade já tem assuntos internos suficientes para se auto consumir e destruir.
Vamos por partes e de forma cronológica porque de tão parvo que é chega a ser divertido!

Episódio 1: “Joni Brandão levou penalização de 10s”
Depressa aparecem os “adeptos “a dizer que já estão a “roubar “para o “Porto” e que a “fruta” já chegou ao ciclismo. Na mente destes “adeptos” claro que o presidente Pinto da Costa já “comprou os comissários”, pois como o Benfica ganhou o campeonato de futebol, o FC Porto tem de ganhar “nas bicicletas “.

 
Episódio 2: “A Etapa da Torre não tem o espetáculo esperado “
Quando na nossa página de Facebook escrevemos que a Etapa 4, com final no alto da Torre na Serra da Estrela, foi de alguma forma uma desilusão porque esperavam-se mais dos principais homens do pelotão, claro que fomos logo acusados de escrever tal opinião porque “venceu o Porto”. E como todos sabem o Aguadeiro Trepador Blog é do Benfica ou do Sporting!
 

Episódio 3: “Final em Bragança atribulado, várias quedas no último km e Joni Brandou “inventou” uma queda/avaria”.

Há a regra dos 3km finais que foi aplicada nesta etapa e há também os “adeptos “que ao jeito de Vídeo Arbitro de Futebol começam a fazer vídeos para “frame a frame”, justificar aquilo que não sabem ou fingem não saber. Para eles Joni Brandão simulou uma queda ou uma avaria, ou outra coisa qualquer para desculpar o atraso de alguns minutos quando cruzou a meta. Pouco importa o que diz a regra dos 3km, pouco importa que essa mesma regra de forma simplificada diz que: se acontecer qualquer incidente dentro dos últimos 3km o ciclista fica com o mesmo tempo do grupo onde está inserido e Joni Brandão estava mesmo ao pé dos ciclistas da W52 FC Porto que infelizmente caíram, pouco importa isso tudo . O que é certo é que “como demonstra o vídeo e de acordo com a publicação da própria EFAPEL”, Joni Brandão deveria levar 3 ou 4 ou 5 minutos de atraso.


 

 
Episódio 4: Tarja alusiva ao futebol na Etapa entre Viana do Castelo e Felgueiras

Qual é o clube dos chamados “3 grandes “que não participou na Volta a Portugal? Pois, foi o Benfica. E é então que meia dúzia de adeptos decidiu colocar uma tarja num viaduto que dizia: “A nossa meta 38 “, que é como quem diz: Porto e Sporting, vocês andam a competir no ciclismo, mas o que interessa é mesmo o futebol. Uma atitude provocatória de “adeptos” de um clube onde o ciclismo teve um papel preponderante para a sua expansão nacional e isso até está bem patente, por enquanto, no próprio símbolo. Desconsideram por completo uma modalidade e nem o seu próprio legado sabem respeitar. Um excelente exemplo de futebolização do ciclismo atual mesma para clubes que não tem neste momento a modalidade.




Episódio 5: Joni Brandão entregou bidons de água a ciclistas do Sporting-Tavira e a ciclistas da Radio Popular-Boavista.

Onde é que já se viu alianças entre ciclistas de equipas diferentes? Um escândalo! Era o que diziam os “adeptos” ocasionais. É muito provável que esse tipo de comentário venha de alguém que não saiba, entre as centenas de exemplos que poderiam ser dados, o que fez Ribeiro da Silva a Jacques Anquetil no Tour de France de 1957 ou a forma como Joaquim Agostinho ajudou o italiano Felice Gimondi passados uns anos também em terras francesas. Pois bem, houve alianças e entreajuda em ciclistas de equipas diferentes. Muito provavelmente o que se passou na aproximação à Senhora da Graça foi que ambas as equipas, RP-Boavista e EFAPEL, tinham objetivos em comum. Joni Brandão levava a camisola amarela e a RP -Boavista liderava a classificação por equipas e além disso levava muita ambição para conquistar mais uma etapa. Pelo que a situação na frente da corrida não interessava a nenhum dos intervenientes. A “aliança”, apesar de não ser muito comum, foi lógica e deve o propósito de beneficiar ao mesmo tempo duas equipas. Claro que depois apareceram logo os “adeptos” que deram a sua sentença: “Se ganhar não é merecido “ …"Poooooortttooooo".
 


Episódio 6: “Os comissários enganaram-se a contar os tempos de chegada na Senhora da Graça”


Numa etapa que foi espetacular e que teve uma vitória soberba de António Carvalho da W52 FC Porto o mais importante foi que, aos olhos de alguns adeptos, os comissários enganaram-se a contar o tempo de atraso de Joni Brandão para João Rodrigues. Alguns juravam que tinham contado 2 segundos em vez de 1 segundo. O mais insólito de tudo é que, à boa maneira do futebol, aldrabaram a imagem de um site bem conhecido para colocar Brandão a 2 segundos de Rodrigues que assim deveria ser a camisola amarela à entrada para o CRI final de domingo. Pouco importa o chip que as bicicletas transportam. Pouco importa que esse chip conte até às milésimas de segundo. O que é importante é que a olho nu e na “transmissão “contaram 2 segundos. Grande roubo por parte dos comissários (os árbitros do ciclismo).



Episódio 7: “Jornalista da Volta a Portugal “ brinca “ com ciclistas do Sporting- Tavira por causa de resultado no futebol “


Se até aqui exemplificamos a futebolização desta Volta a Portugal com “adeptos” e mensagens em redes sociais, os próximos dois episódios são talvez os mais graves. Na partida para a etapa 5 , na Guarda, um “ jornalista” da Volta a Portugal decide fazer um direto para o Facebook onde brinca/ goza com ciclistas do Sporting-Tavira por causa do resultado da final da Super Taça de Futebol onde o Benfica venceu o Sporting por 5-0. “Dá cá mais cinco Frederico” foi a forma encontrada para cumprimentar o ciclista do Sporting-Tavira! Qual o resultado disto? Obvio! Uma chuva de insultos e de mensagens nas redes sociais em páginas relacionadas com a Volta a Portugal, mas tudo sobre futebol! Mas vale tarde que nunca e o vídeo foi apagado da página oficial Facebook da competição.
 
Episódio 8: “ W52 FC Porto comemora a vitória na Volta a Portugal com uma mensagem típica de futebol “
A W52 FC Porto foi a grande vencedora de uma das Voltas mais disputadas e renhidas de sempre. Só decidida nos últimos 19,5km. Venceu a geral individual, a coletiva, venceu também a segunda camisola mais importante: a verde, venceu 4 etapas e consegue colocar 4 ciclistas nas 5 primeiras posições. É indiscutível a superioridade da equipa liderada por Nuno Ribeiro quando comparada com as suas principais rivais.  Havia mil e uma formas de escrever uma mensagem de vitória, mas quem gere a página oficial da equipa decidiu colocar um bombástico “Contra tudo e Contra Todos!” Uma mensagem típica do futebol! O que é “tudo “? E quem são “todos”? No ciclismo não percebemos, nem o ciclismo é propicio a mensagens desta índole que mais não são do que réplicas da guerrilha futebolística. Que falta de noção e que falta de gosto!
 
Se é para isto que os clubes com futebol estão no ciclismo então mais vale saírem. Talvez só pela nostalgia de ver de novo os grandes duelos nas estradas entre Benfica, Sporting e Porto. Só mesmo por isso, porque atualmente a futebolização dos clubes e o estado de histeria geral à volta do futebol só prejudica o ciclismo.
No domingo uma multidão que há muito não se via nas ruas para ver uma prova de ciclismo. Arriscamos a dizer que entre Gaia e a Avenida dos Aliados estavam centenas de milhares de pessoas. Alguns, muito poucos, assobiaram a passagem de Joni Brandão. Outro, ainda menos, provocaram-no com mensagens bem audíveis na TV. Estes são os mesmo adeptos dos exemplos anteriores. Felizmente ainda são a minoria, mas se continuarmos com esta onda de futebolização e clubite aguda um dia podem ser eles a mandar. Temos o "caldo entornado" !
Benfica, Sporting e Porto no ciclismo? Talvez. Mas se for para a clubite generalizada o melhor mesmo é levarem com um cartão bem vermelho. Rua!