Foram cerca de 1500 votos para
eleger o momento ciclístico romântico do ano de 2018.
Depois de 2 semifinais discutidas
em sprint, o Prémio “Bidon de Ouro 2018 “teve uma final bastante desequilibrada.
Na primeira semifinal Vincenzo Nibali
vence por uma unha negra o belga Tiesj Benoot e disputa a final com o eslovaco
Peter Sagan que ganha a Chistopher Froome ultrapassando-o no último dia de votação.
Final " Bidon Ouro 2018 "
Peter Sagan sucede a Phillipe
Gilbert e leva o troféu “Bidon de Ouro 2018 “
Para ver ou rever, ainda em 2018
ou em 2019, antes ou depois do concerto de ano novo da Filarmónica de Viena,
pois no que ao ciclismo diz respeito, este foi a melhor sinfonia de 2018. Pelo
menos para os leitores e amigos do Aguadeiro Trepador Blog.
A edição 2018 do Paris-Roubaix viu
Peter Sagan insuperável e que vence finalmente a rainha das clássicas. O dia também
ficou marcado pelos piores motivos. O falecimento de Michael Goolaerts.
Obrigado pela participação e votos
de um bom ano 2019.
Ronse é uma pequena cidade belga da
região da Flandres. A sua ligação com ciclismo é naturalmente muito forte. É
palco de passagem das várias corridas belgas de apenas um dia. Por Ronse passa normalmente
a Ronde Van Vlaanderen e o seu Kluisberg com 1km de distancia, 6,5% inclinação média
e 15% máximo.
Ronse também é conhecida pelos dois
mundiais de ciclismo aí disputados: em 1988 ganhos por Maurizio Fondriest e em
1963 vencidos pelo jovem belga Benoni Beheyt, Mundiais esses que acabaram em
polémica.
Quando o tiro de partida foi dado
em Ronse havia um ciclista favorito a vencer os 323km essencialmente acidentados
no típico terreno flamengo. Era o belga Rik van Looy.
Van Looy era na altura uma das maiores
estrelas do ciclismo mundial. Disputava o título de “estrela maior” com nomes
como: Frederico Bahamontes, Jacques Anquetil e Raymond Poulidor. Vencedor dos
mundiais de ciclismo em 1960 e 1961, Van Looy apresentava em 1963 um palmarés notável.
Com 31 anos e num grande momento de forma o belga já tinha vencido os 5
Monumentos do Ciclismo (Paris-Roubaix , Liége-Bastogne-Liége, Ronde van
Vlaanderen, Milano-SanRemo e Giro da Lombardia ). Também tinha no currículo 12
etapas do Giro de Itália e em 1963 no Tour de France venceu 4 etapas. Rik Van
Looy , o Keizer van Herentals como era conhecido, tinha uma seleção
belga preparada inteiramente para o ajudar. A tática era simples: controlar as
fugas de nomes importantes e atacar a corrida no Kluisberg a cerca de 10km da
meta. Quando a corrida passou pelo “Muur” de Kluisberg apenas 26 ciclistas estavam
na frente com os belgas a comandar a corrida com 6 elementos e o seu líder Rik
Van Looy. Tudo corria como previsto e à entrada para o último km já com o risco
de meta à vista não parecia haver grandes dúvidas: entre a multidão todos
gritavam por um nome: o herói belga , o Imperador, Van Looy que estava perto de
conquistar o seu terceiro mundial de ciclismo de estrada.
Van Looy estava prestes a cortar a
meta e a erguer os braços no ar. Mas atrás do grupo da frente vinha outro belga
que se manteve sempre na mesma posição. Era o jovem de 22 anos Benoni Beyeht
que se estreava na seleção do seu país. Aos poucos Beyeht ganhava posições e
estava agora atrás do seu líder Van Looy. Num momento de “loucura “o jovem
ciclista da equipa Wiel’s-Groene Leeuw agarrou no
selim de Van Looy e cruzou a linha de meta em primeiro. Beyeht tinha ganho os
mundiais de ciclismo. Todos estavam incrédulos. Rik Van Looy nem uma palavra dizia,
o seu rosto estava fechado e perto de explodir. A comitiva belga não sabia se
podia festejar ou se se mantinha calada e na multidão havia um silêncio geral e
todos estavam espantados com o que acabaram de ver. O seu Imperador fora
derrotado por um jovem de 22 anos . Esta cena não estava prevista na peça dos
Mundiais de Ciclismo de Ronse e muitos dos fãs de Van Looy apelidaram-na de “ a
Traição de Ronse”.
Beyeht ultrapassa Van Looy em cima da meta
Na cerimónia do pódio o clima era tenso. Van Looy nem levantou a cabeça
, o terceiro classificado , o holandês Jo de Haan, não sabia o que fazer e
mesmo o vencedor Beyeht festejou timidamente a sua maior conquista como
profissional de ciclismo.
Benoni Beyeht provavélmente sabia o que seria a sua vida daqui para a frente.
Ninguém lhe deu os parabéns. Nem os seus companheiro de seleção. Rik Van Looy
tinha muito poder nos meandros do ciclismo e ninguém queria ficar contra o todo
poderoso Imperador belga.
A “Traição de Ronse” passou a barreira do ciclismo profissional e
nalguns bares e cafés belgas, os poucos adeptos de Beheyt discutiam
ferverosamente com os fãs de Van Looy. Muitas vezes essas discussões terminavam com socos e pontapés.
Rik Van Looy nunca esqueçeu o que Benoni Behety lhe fez naquela tarde de
11 de Agosto de 1963 e os dois nunca mais falaram deste então. Van Looy
continuou a conquistar corridas mas a carreira de Behety não foi a esperada
para um campeão do mundo. Quando o contrato com a sua equipa terminou nenhuma
equipa o quis. Deixou de ser convidado para os principais critérios e a sua
carreira terminou dois anos depois de vencer os Campeonatos do Mundo.
A “ Traição de Ronse” tinha ganho outro capítulo : “ a Maldição de Ronse”
. Ninguém se pode meter com o Keizer van Herentals…
E chegamos à final do Prémio “Bidon de Ouro 2018 “depois de
duas semifinais muito disputadas.
Vincenzo Nibali e a sua fabulosa vitória na Milano-SanRemo
ganhou por apenas 1 voto batendo Tiesj Benoot (Strade Bianche) mesmo em cima
da linha de meta.
Já Peter Sagan (Paris-Roubaix) esteve quase sempre atrás do
seu adversário mas nos momentos finais “arrancou “vitorioso ganhando a Chris Froome ( Etapa 19 Giro de
Itália).
Nibali contra Sagan. Dois monstros do ciclismo a competir
lado a lado em duas grandes vitórias em dois Monumentos.
Quem foi o mais romântico?
Vincenzo Nibali – Milano-San Remo
2018
Nibali , vencedor da Milano-Sanremo 2018
“Un Uomo
solo a Sanremo”
Foi desta forma que a Gazzetta
Sportiva descreveu a brilhante vitória de Vincenzo Nibali no primeiro Monumento
da época: a Milano-SanRemo.
Para perceber a analogia presente
na manchete do principal jornal desportivo italiano é preciso recuar 69 anos.
Em 1949, Mauro Ferreti,
imortalizou Fausto Coppi deixando os italianos a imaginar e a sonhar:
“un uomo solo é al comando, la
sua maglia é bianco-celeste, il suo nome é Fausto Coppi “
No dia 17 de Março de 2018 foi a
vez de Vincenzo Nibali chegar isolado a Via Roma e ganhar a
Milano-SanRemo.
Nibali junta ao seu vasto
palmarés, onde se inclui Tour de France (2014), Giro Itália ( 2013, 2016),
Vuelta a Espanha ( 2010) e Il Lombardia (2015,2017) , a Classicissima “ La
Primavera”. O ataque no Poggio de SanRemo , uma descida louca até aos últimos
2km e a persistência até aos últimos metros valeram-lhe uma das melhores , se
não mesmo a melhor e mais espetacular, vitória da sua carreira.
Desde 2008, com Cancellara, que
uma fuga não tinha êxito na MSR.
Há doze anos que um italiano não ganhava a corrida. O último foi Pozzato em
2006.
26 anos depois um vencedor de uma
Grande Volta - GT (Tour ou Giro ou Vuelta) ganha a Classicíssima MSR. Antes de
Nibali apenas Sean Kelly (Vuelta) em 1992!
Se reduzirmos os números e se
pensarmos em ciclistas que ganharam as três GT e pelo menos dois Monumentos
diferentes teremos apenas: Felice Gimondi, Eddy Merckx, Bernault Hinault e
agora Vicenzo Nibali. Notável!!!!!
De todas as mensagens de
felicitação que Nibali terá recebido, certamente uma ficará para sempre na
sua memória! O telefonema de Eddy Merckx : “ Nibali hoje foste grande “
Para recordar, com a emoção de um
italiano a comentar:
Peter Sagan
– Paris Roubaix 2018
Sagan vence Paris-Roubaix
O eslovaco partia como grande
favorito a vencer a edição 116 do Inferno do Norte. Desta vez Sagan não podia
falhar! O ano passado furou a 30km de Roubaix e nunca mais conseguiu alcançar
os homens da frente. Na partida em Compiègne os holofotes estavam apontados
para o tricampeão do mundo.
A corrida foi espetacular. Sagan
atacou a mais de 50km da meta. Acelerou no importante setor de “Mons-on-Pévéle.
Ficou na frente no “Carrefour de l’Arbre” juntamente com um valente Dillier que
sobreviveu na frente da corrida depois de andar na fuga que dominou a prova.
No velódromo em Roubaix era favorito e não teve grandes dificuldades para
vencer o suíço e assim ganhar o seu segundo Monumento.
Sagan vence Paris Roubaix e Ronde
van Vlaanderen de arco iris vestido.
Temos então na final o italiano
Vincenzo Nibali e a sua vitória na Milano Sanremo e o eslovaco Peter Sagan com
a conquista do seu primeiro “Inferno do Norte”
Depois de vencer
a primeira semifinal do Prémio “Bidon de Ouro 2018” , Vincenzo Nibali espera
confortavelmente pelo seu adversário para a grande final.
Nibali terá pela
frente uma das grandes figuras do ciclismo mundial. Ou o tricampeão mundial
Peter Saganou o tetracampeão do Tour Chris Froome. Sagan e Froome disputam o
estatuto da maior figura do ciclismo de estrada na atualidade. Aqui não é isso
que estará em causa. Deixaremos isso para as discussões de “café” ou de “redes
socias”.
Começa hoje a votação
da segunda semifinal do “Bidon de Ouro 2018”. O que foi mais romântico: a vitória
de Sagan no Paris-Roubaix com um ataque a 56km do velódromo ou a cavalgada de Froome
iniciada no monstruoso Colle delle Finestre a mais de 80km.
Quem se junta a
Nibali na final do Prémio “Bidon de Ouro 2018 “?
Peter Sagan – Paris
Roubaix 2018
O eslovaco partia como grande favorito a vencer a edição 116
do Inferno do Norte. Desta vez Sagan não podia falhar! O ano passado furou a
30km de Roubaix e nunca mais conseguiu alcançar os homens da frente. Na partida
em Compiègne os holofotes estavam apontados para o tricampeão do mundo.
A corrida foi espetacular. Sagan
atacou a mais de 50km da meta. Acelerou no importante setor de “Mons-on-Pévéle.
Ficou na frente no “Carrefour de l’Arbre” juntamente com um valente
Dillier que sobreviveu na frente da corrida depois de andar na fuga que dominou
a prova.
No velódromo em Roubaix era favorito e não teve grandes dificuldades para
vencer o suíço e assim ganhar o seu segundo Monumento.
Sagan vence Paris Roubaix e Ronde
van Vlaanderen de arco iris vestido.
Chris Froome
– Giro Itália: etapa 19: Venaria Reale › Bardonecchia ( Colle delle
Finestre)
Christopher Froome entrou para o Giro de Itália com as duas últimas grandes
voltas ganhas: Tour 2017 e Vuelta 2017. Um Giro onde Simon Yates entrou a todo o
gás. O britânico da Mitchelton-Scott venceu em Gran Sasso e Osimo e ganhou
tempo à concorrência. Froome perdeu sempre para Yates. Quando a corrida chegou
ao Monte Zoncolan Froome consegue a sua primeira vitória, mas pouco encurtou a
distância para Yates que no dia seguinte alargou a liderança da camisola rosa
com a conquista da etapa 15 em Sappada.
E é com o domínio de Yates que entramos nas últimas etapas do Giro. À
entrada para a etapa 19 Froome é 4º da geral a 3m22s da liderança. À sua frente
encontram-se Pozzovvivo, Dumoulin e Yates. Não restam alternativas ao corredor
da Team Sky: “ ou vai ou racha” …e foi mesmo.
Quando a corrida entrou no mítico colle delle Finestre , aquele monstro
com os últimos Km em terra batida Yates não aguenta o ritmo da armada Team Sky
e perde tempo para a frente da corrida. Dumoulin era quem mais parecia lucrar
com a perda do Simon. Estavamos ainda a metade do Colle delle Finestre e a 86km
da meta em Bardonecchia.
Quando a corrida entra nos primeiros troços de terra batida Kelly
Elissonde entra “à morte “ , o ritmo é impressionante e apenas Froome parece
ter capacidade para seguir na roda do francês. Estava a vista de todos. Froome
ia tentar o impossível: arranca sozinho a 80km da meta. Quando passa sozinho na
Cima Coppi tem 38s de vantagem para o líder virtual Tom Dumoulin. Se a sua exibição
já estava a ser espetacular, mellhor foi mesmo ver Froome a ganhar tempo
à restante concorrência. Ora a subir, ora em plano e a rolar, mas também a
descer.
Froome chega isolado a Bardonecchia, vence a etapa com 3m de vantagem e
sobe ao primeiro lugar da geral individual.