Agora um pouco de história.
Lama, muita lama...uma das caraterística das corridas de cyclocross |
Quando
falamos em competição velocípédica em meses
de Inverno o primeiro nome que nos ocorre é Cyclocross. Até podemos não saber muito bem o que é, mas nos nossos
mais primários conhecimentos sabemos que é esta a principal vertente do
ciclismo quando o vento sopra mais forte, a chuva cai mais intensamente e as
estradas estão cobertas de neve ou de lama.
A História:
Então
é assim: no inicio do século XX a
maioria das estradas ainda estavam por pavimentar, eram de terra batida
sujeitas ás condições climatéricas. Tinham muitos buracos, tinham muitos
obstáculos e no inverno tinham sobretudo muita lama e por vezes muita neve. E
foi nessa altura que começaram a surgir as primeiras corridas de bicicleta. A
competição consistia em ir de uma localidade a outra sem percurso definido.
Cada ciclista escolhia aquele trajeto que lhe parecia mais favorável de modo a
chegar em primeiro lugar ao lugar definido como meta. Por vezes era preciso
sair das estradas, entrar em campos cultivados, saltar cercas, passar por rios,
transpor pequenos muros ou até subir alguns degraus. Valia tudo e todos os
percursos eram aceites. O importante era chegar ao destino. E foi assim que surgiu o Cyclocross.
Valentin Toundeur - 1930 Paris |
A
primeira competição oficial foi o campeonato francês de cross (nome abreviado
de cyclocross) realizado em 1902. A
modalidade começou a ganhar fama e alargou fronteiras, sobretudo para a Bélgica e Holanda, quando em 1910 o
vencedor do Tour Octave Lapize atribui às competições de
Cyclocross realizadas no inverno a sua boa preparação para vencer a Grande Boucle. A partir daí a importância
e sobretudo o prestígio das competições de cyclocross nunca mais parou.
Muitos
foram as estrelas do ciclismo de estrada que não abdicavam da temporada de
cyclocross para manter a forma durante o interregno das competições nos meses
de inverno. Jean Bobic , vencedor do
Tour de France , foi campeão mundial de cyclocross. Os irmãos De Vlaeminck também praticaram a modalidade. Eric foi 7 vezes campeão do mundo e o
seu irmão Roger, um dos 3 ciclistas
com os cinco monumentos do ciclismo de estrada, também o foi por uma vez. Recentemente
temos os casos de Zydenek Stybar, Wout van Aert e Mathieu van der Poel que já foram campeões do
mundo da modalidade sendo hoje três dos nomes mais sonantes do pelotão
internacional de estrada mas não abdicam de uma boa competição em circuito ,
cheia de obstáculos, com muitos paredes para subir e com uma quantidade
razoável de lama , numa espécie de tratamento especial para a pele.
Mas houve outros que alcançaram o estrelado apenas competindo no cyclocross . Adri van der Poel , pai de Mathieu Van der Poel (figura maior do cyclocross nos dias de hoje) . Os belgas Mário De Clercq e Sven Nys também são nomes conhecidos de todos os adeptos .
Eric de Vlaeminck, 7 vezes campeão do mundo |
Mas houve outros que alcançaram o estrelado apenas competindo no cyclocross . Adri van der Poel , pai de Mathieu Van der Poel (figura maior do cyclocross nos dias de hoje) . Os belgas Mário De Clercq e Sven Nys também são nomes conhecidos de todos os adeptos .
Apesar
de originalmente ter começado em França, a Bélgica e a Holanda são os
principais dominadores da competição e as mais importantes provas disputam-se
sobretudo nestes 2 países.
Temporada 2019/2020
A temporada 2019/2020 que arranca no próximo domingo
em Eeklo com a primeira prova do Ethias Cross ,
antigo Brico Cross, começa com uma grande dúvida. Como é
que as duas maiores figuras do cyclocross dos últimos anos vão encarar a competição
que os tornou referências mundiais. Falamos claro que Mathieu van der Poel
e Wout van Aert. A razão é uma: ambos estão completamente integrados no pelotão
do ciclismo de estrada e os resultados alcançados este ano prometem. Haverá
espaço e tempo para o cyclocross?
Para van der Poel os adjetivos não chegam para qualificar o que já
fez na sua primeira época mais a sério em estrada. Competiu pouco é certo, mas
quando se apresentou na linha de partida foi sempre uma referência e um dos
principais ciclistas. Venceu a Dwars door Vlaanderen - A travers la Flandre , a
De Brabantse Pijl - La Flèche Brabançonne e também a Amstel Gold Race de forma
espetacular que vai ficar para sempre na memória dos adeptos de ciclismo. A sua
estreia na prova rainha belga, a Ronde van Vlaanderen, foi marcada pelo azar.
Caiu a cerca de 60km da meta, mas uma recuperação fantástica só ao nível dos predestinados,
levou-o à discussão da corrida terminando em 4º lugar. Mas Mathieu van der Poel
não é apenas cyclocross (venceu tudo o que havia para vencer a época passada,
apenas lhe faltou a Taça do Mundo onde não participou nas duas primeiras provas)
e estrada. O holandês já disse que quer ser campeão olímpico de XCO em Tóquio
2020 e por isso aplicou-se em pormenor na principal competição de XCO: a Taça
do Mundo. Em 6 provas disputadas venceu 3 e mostrou ser o único atleta a dar
luta ao supercampeão Nino Schurter. Das provas de XCO Poel voltou para a
estrada assim que viu o percurso do campeonato do mundo disputado em Yorkshire.
Um “sobe e desce “constante, um “parte pernas “ de mais de 250km que fazem de
Mathieu van der Poel um dos grandes candidatos a vencer a corrida. E com tudo
isto ainda sobra tempo para a sua vertente de eleição. Parece que sim. Já disse
que não abdica da lama, da chuva e da areia. Foi o cyclocross que o viu nascer
para o estrelato e talvez Poel queira ficar para a história como o maior atleta
de todos os tempos. Tal como o ano passado vai falhar as duas primeiras provas
da Taça do Mundo disputadas já em setembro nos USA, a preparação para os
mundiais de Yorshire assim o exige, mas depois de 29 deste mês é provável ver
um Mathieu van der Poel diabólico no Superprestige, no DVV , na Soudal Classics
, na Ethias Cross e a recuperar posições na luta pela Taça do Mundo. Pelo meio
Poel deve querer repetir os títulos de campeão europeu e mundial de cyclocross
para depois se concentrar nas grandes clássicas do World Tour.
van der Poel - vitória memorável na Amstel Gold Race |
Wout van Aert não deve a época
de cyclocross que desejava. O seu lugar foi quase sempre o segundo. Apenas
venceu a prova francesa da Taça do Mundo e o Bredenecross do Brico Cross. Uns furos abaixo de épocas anteriores
e nem conseguiu aproveitar a ausência de van der Poel nas duas primeiras provas
da Taça do Mundo perdendo ambas para Toon Aerts que acabaria por vencer a competição.
Desde março de 2019 que se mudou para a equipa holandesa da Jumbo-Visma e logo aí
começou a ser umas das principais apostas para as clássicas da primavera.
Repetiu o terceiro lugar na Strade Bianche, foi segundo na E3 BinckBank. Estreou-se
na Milano-SanRemo com um sexto posto e foi o grande azarado do Paris-Roubaix
com vários problemas mecânicos e uma queda que o impossibilitou de discutir a
corrida quando parecia ser um dos mais fortes do pelotão. Uma recuperação fantástica
permitiu a van Aert terminar na 22ª posição. As vitórias surgiram no Critérium
du Dauphiné com duas etapas ganhas e a classificação dos pontos. Estreou-se na
maior competição velocipédica com um sabor agridoce. Venceu a etapa 10 à frente
de homens como Elia Viviani ou Caleb Ewan mas o azar voltou a bater-lhe à porta
e no CRI de Pau sofre uma queda com consequências graves. Um enorme rasgão numa
perna que o obrigou a uma cirurgia e a um longo repouso. É por isso que a temporada
de cyclocross de Wout van Aert é uma incógnita. Há informações que apontam o
seu regresso à competição apenas para 2020, ou seja, com uma temporada a meio e
onde o belga pouco ou nada pode fazer. Se tal se confirmar, Wout van Aert pode
apontar a sua preparação quase exclusivamente para a época de estrada onde vai
ser a principal figura da Team Jumbo-Visma para as provas de um dia.
Wout van Aert estreia-se no Tour com uma vitória em etapa e com uma grave lesão |
Quem corre por fora de todas estas equações é o atual vencedor da Taça
do Mundo. Toon Aerts da equipa Telenet Baloise Lions. Não deu o “pulo total”
para a estrada e parece ter aqui uma boa oportunidade para pelo menos repetir a
grande temporada de cyclocross de 2018/2019 onde venceu a taça do mundo e três provas
e também triunfou no mítico Koppenbergcross do troféu DVV e nos campeonatos
belgas de cyclocross.
Toon Aerts venceu no mítico Koppenberg |
Nomes também a ter em conta serão certamente: Laurens Sweeck (BEL),
Van der Haar ( NED) , Tom Meeusen (BEL), Corne Van Kessel
(NED), Klaas Vantornout (BEL), Michael Vanthourenhout (BEL), Quinten Hermans (BEL), Marcel Meisen (GER), Tim Merlier (BEL) e Gianni Vermeersch (BEL). Será que vai ser a afirmação dos jovens prodígios Tom Pidcock ( GRB) e Eli Iserbyt (BEL)
As provas
Podemos
dizer que existem 7 grandes provas de cyclocross : 2 campeonatos: do mundo e da
Europa e 5 taças e troféus com várias provas.
Num
país onde o Cyclocross já marcou presença com algumas provas importantes realizam-se em Silvelle ( Pádua) os campeonato da Europa. Mathieu van der Poel é o atual campeão
europeu e o principal alvo a abater.
É a
principal competição organizada pela UCI com 9 provas entre o continente
americano e a Europa. São atribuídos pontos pelas classificações nas nove
provas e o vencedor é o que no final reunir o maior número de pontos. Este ano é disputada em 6 países.
O
grande recordista de vitorias é o belga Sven Nys com seis títulos. Dos atletas
inscritos este ano apenas 4 já levaram o trofeu: Toon Aerts (1) , o holandês
Lars Van der Haar ( 1) , o atual campeão do mundo Mathieu van der Poel ( 2) e também o belga Wout van Aert (1) , isto se vier a competir na taça do mundo.
Toon Aerts ganha a taça do mundo na época passada num duelo com Wout van Aert até aos últimos metros. Foram apenas 2 pontos a separar os dois belgas. Das 9 provas disputadas o belga ganhou 2. Pontuando também nas restantes. Poel vai "tirar férias"depois de uma época onde não parou de pedalar e vai faltar às 2 provas americanas. Com a possível ausência de Wout van Aert , Toon Aerts tem uma boa oportunidade começar a taça do mundo com alguns pontos de vantagem.
Calendário
-
20/10/2019- Bern, SUIÇA (link)
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16/11/2019 - Tabor, REP. CHECA (link)
- 24/11/2019
- Koksijde, BÉLGICA (link)
-
22/12/2019 - Namur, BÉLGICA (link)
-
26/12/2019 - Heusden - Zolder, BÉLGICA (link)
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19/01/2020 - Pont-Chateau, FRANÇA (link)
-
26/01/2020 - Hoogerheide Province Noord-Brabant, HOLANDA (link)
Transmissão
TV: todas as provas serão transmitidas no canal Youtube UCI (Link)
É a
festa do povo para os lados da Bélgica. Faça chuva, faça vento, frio ou até se
estiver a nevar não há razões para ficar em casa. É quase religioso. Os
domingos são dias para calçar as galochas, vestir um casaco, meter um gorro
pela cabeça e um cachecol no pescoço e segurar num bom copo de cerveja ao mesmo
tempo que vê passar os heróis da lama. No troféu Superprestige ninguém é tão
herói como o Sven Nys.
É o recordista com 13 vitorias e um herói nacional. Se
um dia perguntarem a um miúdo belga quem querem ser quando forem grandes
ouvirão de certeza uma de duas respostas: Tom Boonen (estrada) ou Sven Nys
(cross). Ambos já deixaram a modalidade.
Superprestige - a festa do povo |
A época
de 2018/2019 foi totalmente dominada por Mathieu Van der Poel. Venceu todas as provas disputadas. Com apenas 24 anos e quatro vitórias
no Superprestige pode ser o principal sucessor de Sven Nys, isto se optar
exclusivamente pelo cyclocross, situação que aparentemente parece pouco
provável tais são os resultados que o holandês já apresenta no ciclismo de
estrada em competições importantes e também no MTB.
Mathieu Van der Poel - 1º lugar Superprestige 18/19 |
Calendário:
-
13/10/2019 – Gieten, NED (link)
- 19/10/2019, Boom, BEL (link)
- 27/10/2019 – Gavere, BEL (link)
-03/11/2019 – Ruddervoorde, BEL (link)
- 08/12/2019 - Zonhoven, NED (link)
- 19/10/2019, Boom, BEL (link)
- 27/10/2019 – Gavere, BEL (link)
-03/11/2019 – Ruddervoorde, BEL (link)
- 08/12/2019 - Zonhoven, NED (link)
-29/12/2019
– Diegem, BEL (link)
-
09/02/2020 – Hoogstraten, BEL ( llink)
-
15/02/2020 – Middelkerke, BEL (link)
Transmissão TV: normalmente : https://www.vrt.be/vrtnu/
5- DVV Verzekeringen Trofee (link oficial):
1/11/2019 a 08/2/2020, BEL
Troféu
também com muito prestigio realizado totalmente na Bélgica composto por 8
provas. Aqui o que conta não são os pontos, mas sim o tempo. Quem terminar o trofeu (as 8 provas) com o menor
tempo será o vencedor.
Mais
uma vez Sven Nys é o grande dominador com 9 vitórias. Dominadores totais são os
ciclistas belgas que sempre ganharam o DVV Verzekeringen Trofee.
Na
época passada a vitória foi de Mathieu van der Poel, que venceu 7 das 8 provas disputadas.
Koppenbergcross: e o mítico Koppenberg |
Calendário:
-
01/11/2019 – Koppenbergcross, Oudennarde, BEL (link)
-
17/11/2019 – Flandriencross, Hamme, BEL (link)
-30/11/2019 - Kortrijk, BEL
-14/12/2019
– Hotondcross , Ronse , BEL
-
27/12/2018 – Azencross, Loenhout, BEL
- 01/01/2020
– GP Sven Nys, Baal, BEL
-
08/02/2018 – Krawatencross, Lille, BEL
Transmissão TV: https://www.vrt.be/vrtnu/
6- Ethias Cross (link oficial): 8/09/2019
a 16/02/2020 , BEL
Calendário:
-
08/09/2019 – Eeklo, BEL , (Link)
-
05/10/2019 – Berencross, Meulebeke, BEL (link)
-
12/10/2019 – Kruibeke, BEL (link)
-
26/10/2019 – Beringen BEL (Link)
-
07/12/2019 – Essen, BEL (link)
-
30/12/2019 – Bredene, BEL (link)
- 05/02/2020 - Maldegem, BEL (link)
- 16/02/2019 - Hulst, BEL ( link)
7 – Rectavit Series (link oficial):
6/10/2019 a 26/02/2020, BEL
É um trofeu de “segunda linha” que normalmente é aproveitado
para outros ciclistas tentarem obter as vitórias da temporada.
Calendário:
-
06/10/2019 – GP Neerpelt , Neerpelt, BEL
- 11/11/2019 – Niel BEL
- 11/11/2019 – Niel BEL
-
21/12/2018 – Waaslaandcross, Sint-Niklaas, BEL
- 22/02/2020 – Cyclocross Leuven, BEL
- 22/02/2020 – Cyclocross Leuven, BEL
As Equipas:
Corendon-Circus ( BEL) - Site
Creafin (BEL)
Pauwels Sauzen - Bingoal (BEL) - Site
Tarteletto Isorex (BEL) - Site
Telenet Baloise Lions (BEL) - Site
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Boas Pedaladas !
AT
muito bom artigo, parabéns.
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