No próximo sábado corre-se a 13ª
edição da Strade Bianche . Aquela prova que alguns já apelidam de clássica e
que tem a particularidade de ter no percurso os famosos troços em terra batida!
O traçado é maioritariamente rural
e percorre a bonita região da Toscana.
Apesar de disputada apenas desde
2007, as “estradas brancas” percorridas pelos melhores ciclista da atualidade
tem muita história para contar. Além de fazer parte do dia a dia de uma zona
que vive maioritariamente da agricultura e da vinha e que necessita destes
estradões para chegar aos seus locais de trabalho, foram nestas estradas de
terra batida que Gino Bartali “salvou “ centenas de judeus italianos de cair
nas mãos do regime de Roma e Berlim. A fantástica “aventura” de Bartali já foicontada no Aguadeiro Trepador Blog.
Originalmente disputada apenas por
um conjunto de amantes das bicicletas , a Strade Bianche teve como primeiro
nome de batismo L’ Eroica. A prova cresceu e em 2007 virou competição. A L Eroica,
prova muito famosa que ainda se disputa e que tem a particularidade de limitar
a inscrição a bicicletas antigas, deu lugar ao nome Monte Paschi Eroica . Teve
como primeiro vencedor o russo Alexandr Kolobnev.
A prova ganhou fama e apesar de fazer
parte do principal calendário da UCI apenas desde 2017 depressa cativou os
principais homens especialistas em provas
de um dia . Cancellara ganhou a prova três vezes e é o recordista de vitorias,
Gilbert também a venceu em 2011, Moreno Moser em 2013 , Zdenek Stybar em 2015 e
o polaco Michał Kwiatkowski
duas vezes vencedor em 2014 e 2017. O ano passado a corrida foi épica. Num
terreno completamente encharcado onde o pó branco foi transformado em lama e
numa prova atacada desde o seu início foi Tiesj Benoot (sim a sua cara estava irreconhecível,
mas foi mesmo ele) que cruzou em primeiro a linha de meta na bonita Piazza il
Campo. Um dos grandes momentos da temporada. De todos os vencedores apenas três
estarão presentes na edição 2019: Moreno Moser pela italiana Nippo Vini Fantini, o checo Zdenek Stybar da Deceuninck Quick-Step e o belga Tiesj Benoot ( Lotto Soudal).
Benoot, ganhou em 2018. Memorável |
O percurso
Strade Bianche 2019 |
O traçado da edição de 2019 é
idêntico ao percorrido nos anos anteriores. De Siena a Siena numa volta de
184km passando pelos já tradicionais Montalcino , Monte Sante Marie, troço de
terra batida de 11,5km onde Fabian Cancellara está homenageado, o Le Tolfe a
12km da meta com os seus 18% de inclinação máxima em estrada não asfaltada e
por fim os já famosos 700metros da Via Santa Catarina que são a porta de
entrada para a Piazza del Campo berço da cidade de Siena , património mundial
da UNESCO.
Pelotão (ver startlist )
O pelotão é de elite. Há, no
entanto, algumas ausências. Peter Sagan, que nunca ganhou a competição é talvez
a principal “falta de presença”. Também Michal Kwiatkowski da Team Sky é uma ausência
de peso. O polaco perde assim a oportunidade de se juntar a Fabian Cancellara
com três triunfos na Strade Bianche.
Também o campeão do mundo Alejandro
Valverde (Movistar Team) não marca presença em Sienna. O mesmo para o vice-campeão
mundial e segundo na Strande Bianche em 2018.
Romain Bardet ( AG2R La Mondiale) estará ausente e aponta baterias para outras latitudes.
Mas sobra muito qualidade, vejamos.
A Lotto Soudal traz a sua melhor
dupla para provas duras de um dia. Tiesj Benoot é o dorsal número 1 e tem
legitimas aspirações a repetir a fantástica vitória de 2018. Não se sabe as
mazelas da queda sofrida na Omloop Het Nieuwsblad, mas espirito de sacrifício já
sabemos que o belga tem. Basta ver a repetição da corrida do ano passado. Se o
dorsal nº 1 não estiver nos seus dias a solução é o nº 7: Tim Wellens. O belga
apresentou-se em bom plano no sábado passado acabando no pódio, terceiro lugar.
Essa é também a melhor prestação de Wellens na prova italiana.
Da Astana Pro Team destacam-se dois
nomes: Jakob Fuglsang e Alexey Lutstenko. O dinamarquês apenas participa pela
segunda vez na Strade Bianche . Em 2016 foi 11º. O que se destaca em Fulgslang
é a sua forma ao conquistar de forma convincente a Volta à Andaluzia. Já
Lutstenko tem algumas presenças, nada de relevante a assinalar. O cazaque demonstra
no entanto que está neste inicio de temporada com pernas e pulmões “afinados” .
Foi 4º na Omloop Het Nieuwsblad e conquistou pela segunda vez o Tour de Oman. Lutstenko
é presença habitual no grupo principal da corrida quando o elástico parte e se
começa a fazer as principais seleções.
A equipa que todos querem derrotar
é a Deceuninck Quick Step. A Wolfpack belga tem o pleno em clássicas na presente
temporada. Zdenek Stybar e Bob Jungels
vencem de forma categórica a Omloop Het Nieuwsblad e a Kuurne-Bruxelles-Kuurne
respetivamente. Na ultima terca -feira foi a vez de Florian Sénéchal ganhar o
GP Le Samyn. Na formação que se apresentará em Siena o líder será Stybar. Vencedor
da edição 2012 o checo é um dos principais destaques deste início de temporada.
Os sinais que deu ao vencer a etapa final da Volta ao Algarve indiciavam a boa preparação
que o checo terá feito para se apresentar nas clássicas da primavera como um dos
líder de uma equipa que tem várias soluções para a mesma corrida. E é isso
mesmo que acontece com a Deceuninck Quick Step nesta Strade Bianchi. Se a
corrida não estiver de feição para Stybar , o que deverá ser difícil , porque não
pode David Bramati apostar em Julian Alaphillippe ? Ou em Pieter Serry ? Pode
apostar sim senhor. E aposta bem! Á falta de um Stybar que parece ser o
principal favorito a vencer a Strade Bianche os belgas tem nestes dois
nomes boas soluções para continuarem a sua senda vitoriosa.
Stybar venceu em 2015 |
Depois há Greg Avermat (CCC Team), Vincenzo
Nibali ( Bahrain Merida), Gianni Moscon Geraint Thomas e Diego Rosa ( Team
Sky), Moreno Moser ( Nippo Vini Fantini), Michael Valgren e Roman Kreuziger (Team
Dimension Data), Stefan Kung ( Groupama FDJ) e Oscar Gatto e Daniel Oss (
Bora-hansgrohe). Uns porque são eternos candidatos a vencer outros porque
apresentam um ritmo e uma forma assinalável e são especialistas em provas de um
dia.
Quem deverá andar de novo com os
homens da frente é o belga Wout van Aert agora na Team Jumbo-Visma. De novo
porque van Aert no passado sábado na Omloop Het Newsblad fui um dos homens a
estar no grupo que saiu na frente da passagem pelo Kapelmuur. De novo também porque
Wout van Aert andou sempre na frente e ao ataque na edição de 2018. O belga
pode aproveitar a técnica necessária na vertente de cyclocross e aplicá-la ao
percurso da Strade Bianche. Aert pode
fazer da Strade Bianche mais uma prova da taça do mundo de cross, apesar de que
esta temporada o tricampeão do mundo ficou uns furos abaixo do esperado. Não
foi bom no cyclocross , mas o ano 2019 pode ser o inicio de uma excelente carreira
também na vertente de estrada. Wout van Aert tem muita qualidade, isso é certo.
Veremos se tem reserva suficiente para passar a Via Santa Catarina e discutir a
vitoria na magistral Piazza Campo.
Wout van Aert na "implacável" Via Santa Catarina |
A participação portuguesa está a
cargo de Nelson Oliveira ( Movistar Team), Ruben Guerreiro ( Team Katusha –
Alpecin) e Rui Costa ( UAE Team Emirates). A possibilidade de sucesso para tripla portuguesa é muito muito reduzida.
Fazer melhor que José Gonçalves e o seu 11º lugar será tarefa muito difícil.
A Strade Bianche não faz parte dos
“monumentos do ciclismo” nem saberemos se um dia irá ser o 6º monumento. Mas
uma coisa temos a certeza. A rampa da Via de Santa Catarina não é o Koppenberg
, a Trouée de Arenberg , o Poggio, La Redoute ou o Muro di Sormano , mas nos
últimos anos tem sido palco dos finais mais bonitos a que temos assistido .
Quem não se lembra de Sagan entrar á morte em 2014 para depois ser ele a morrer
ao primeiro esticão de Kwia? Ou de Brambilla que andou isolado uma prova
inteira para depois ser “comido “por Cancellara e Stybar nos metros finais? Ou
do sofrimento de Wout van Aert que colapsou fisicamente? Começam a ser 700m com muita historia.
A Strade Bianche está a fazer o seu
caminho para a história. Devagar para não escorregar. Pois as estradas brancas
da Toscana são perigosas e qualquer erro pode ser fatal. Até agora a Strade Bianche
nunca falhou. Foi sempre espetacular!!!
Percurso: ver aqui
Transmissão TV : Eurosport 2 pelas 13h00
Hastag: #stradebianche
#stradebianche2019 #stradebianche19
Boas Pedaladas,
AT
Sem comentários:
Enviar um comentário