quinta-feira, 7 de março de 2019

Strade Bianche 2019: uma “Clássica”?.


 
No próximo sábado corre-se a 13ª edição da Strade Bianche . Aquela prova que alguns já apelidam de clássica e que tem a particularidade de ter no percurso os famosos troços em terra batida!

O traçado é maioritariamente rural e percorre a bonita região da Toscana.

Apesar de disputada apenas desde 2007, as “estradas brancas” percorridas pelos melhores ciclista da atualidade tem muita história para contar. Além de fazer parte do dia a dia de uma zona que vive maioritariamente da agricultura e da vinha e que necessita destes estradões para chegar aos seus locais de trabalho, foram nestas estradas de terra batida que Gino Bartali “salvou “ centenas de judeus italianos de cair nas mãos do regime de Roma e Berlim. A fantástica “aventura” de Bartali já foicontada no Aguadeiro Trepador Blog.
 

Originalmente disputada apenas por um conjunto de amantes das bicicletas , a Strade Bianche teve como primeiro nome de batismo L’ Eroica. A prova cresceu e em 2007 virou competição. A L Eroica, prova muito famosa que ainda se disputa e que tem a particularidade de limitar a inscrição a bicicletas antigas, deu lugar ao nome Monte Paschi Eroica . Teve como primeiro vencedor o russo Alexandr Kolobnev.

A prova ganhou fama e apesar de fazer parte do principal calendário da UCI apenas desde 2017 depressa cativou os principais homens  especialistas em provas de um dia . Cancellara ganhou a prova três vezes e é o recordista de vitorias, Gilbert também a venceu em 2011, Moreno Moser em 2013 , Zdenek Stybar em 2015 e o polaco Michał Kwiatkowski duas vezes vencedor em 2014 e 2017. O ano passado a corrida foi épica. Num terreno completamente encharcado onde o pó branco foi transformado em lama e numa prova atacada desde o seu início foi Tiesj Benoot (sim a sua cara estava irreconhecível, mas foi mesmo ele) que cruzou em primeiro a linha de meta na bonita Piazza il Campo. Um dos grandes momentos da temporada. De todos os vencedores apenas três estarão presentes na edição 2019: Moreno Moser pela italiana Nippo Vini Fantini, o checo Zdenek Stybar da Deceuninck Quick-Step e o belga Tiesj Benoot ( Lotto Soudal).
Benoot, ganhou em 2018. Memorável
 
O percurso
Strade Bianche 2019
 
O traçado da edição de 2019 é idêntico ao percorrido nos anos anteriores. De Siena a Siena numa volta de 184km passando pelos já tradicionais Montalcino , Monte Sante Marie, troço de terra batida de 11,5km onde Fabian Cancellara está homenageado, o Le Tolfe a 12km da meta com os seus 18% de inclinação máxima em estrada não asfaltada e por fim os já famosos 700metros da Via Santa Catarina que são a porta de entrada para a Piazza del Campo berço da cidade de Siena , património mundial da UNESCO.

 
Strade Bianche 2019: últimos 20km
 
 

Pelotão (ver startlist )

O pelotão é de elite. Há, no entanto, algumas ausências. Peter Sagan, que nunca ganhou a competição é talvez a principal “falta de presença”. Também Michal  Kwiatkowski da Team Sky é uma ausência de peso. O polaco perde assim a oportunidade de se juntar a Fabian Cancellara com três triunfos na Strade Bianche.

Também o campeão do mundo Alejandro Valverde (Movistar Team) não marca presença em Sienna. O mesmo para o vice-campeão mundial e segundo na Strande Bianche em 2018. Romain Bardet ( AG2R La Mondiale) estará ausente e aponta baterias para outras latitudes.

Mas sobra muito qualidade, vejamos.

A Lotto Soudal traz a sua melhor dupla para provas duras de um dia. Tiesj Benoot é o dorsal número 1 e tem legitimas aspirações a repetir a fantástica vitória de 2018. Não se sabe as mazelas da queda sofrida na Omloop Het Nieuwsblad, mas espirito de sacrifício já sabemos que o belga tem. Basta ver a repetição da corrida do ano passado. Se o dorsal nº 1 não estiver nos seus dias a solução é o nº 7: Tim Wellens. O belga apresentou-se em bom plano no sábado passado acabando no pódio, terceiro lugar. Essa é também a melhor prestação de Wellens na prova italiana.

Da Astana Pro Team destacam-se dois nomes: Jakob Fuglsang e Alexey Lutstenko. O dinamarquês apenas participa pela segunda vez na Strade Bianche . Em 2016 foi 11º. O que se destaca em Fulgslang é a sua forma ao conquistar de forma convincente a Volta à Andaluzia. Já Lutstenko tem algumas presenças, nada de relevante a assinalar. O cazaque demonstra no entanto que está neste inicio de temporada com pernas e pulmões “afinados” . Foi 4º na Omloop Het Nieuwsblad e conquistou pela segunda vez o Tour de Oman. Lutstenko é presença habitual no grupo principal da corrida quando o elástico parte e se começa a fazer as principais seleções.

A equipa que todos querem derrotar é a Deceuninck Quick Step. A Wolfpack belga tem o pleno em clássicas na presente temporada. Zdenek Stybar  e Bob Jungels vencem de forma categórica a Omloop Het Nieuwsblad e a Kuurne-Bruxelles-Kuurne respetivamente. Na ultima terca -feira foi a vez de Florian Sénéchal ganhar o GP Le Samyn. Na formação que se apresentará em Siena o líder será Stybar. Vencedor da edição 2012 o checo é um dos principais destaques deste início de temporada.
Stybar venceu em 2015
Os sinais que deu ao vencer a etapa final da Volta ao Algarve indiciavam a boa preparação que o checo terá feito para se apresentar nas clássicas da primavera como um dos líder de uma equipa que tem várias soluções para a mesma corrida. E é isso mesmo que acontece com a Deceuninck Quick Step nesta Strade Bianchi. Se a corrida não estiver de feição para Stybar , o que deverá ser difícil , porque não pode David Bramati apostar em Julian Alaphillippe ? Ou em Pieter Serry ? Pode apostar sim senhor. E aposta bem! Á falta de um Stybar que parece ser o principal favorito a vencer a Strade Bianche os belgas tem nestes  dois nomes boas soluções para continuarem a sua senda vitoriosa.

Depois há Greg Avermat (CCC Team), Vincenzo Nibali ( Bahrain Merida), Gianni Moscon Geraint Thomas e Diego Rosa ( Team Sky), Moreno Moser ( Nippo Vini Fantini), Michael Valgren e Roman Kreuziger (Team Dimension Data), Stefan Kung ( Groupama FDJ) e Oscar Gatto e Daniel Oss ( Bora-hansgrohe). Uns porque são eternos candidatos a vencer outros porque apresentam um ritmo e uma forma assinalável e são especialistas em provas de um dia.
Quem deverá andar de novo com os homens da frente é o belga Wout van Aert agora na Team Jumbo-Visma. De novo porque van Aert no passado sábado na Omloop Het Newsblad fui um dos homens a estar no grupo que saiu na frente da passagem pelo Kapelmuur. De novo também porque Wout van Aert andou sempre na frente e ao ataque na edição de 2018. O belga pode aproveitar a técnica necessária na vertente de cyclocross e aplicá-la ao percurso da Strade Bianche.  Aert pode fazer da Strade Bianche mais uma prova da taça do mundo de cross, apesar de que esta temporada o tricampeão do mundo ficou uns furos abaixo do esperado. Não foi bom no cyclocross , mas o ano 2019 pode ser o inicio de uma excelente carreira também na vertente de estrada. Wout van Aert tem muita qualidade, isso é certo. Veremos se tem reserva suficiente para passar a Via Santa Catarina e discutir a vitoria na magistral Piazza Campo.  
Wout van Aert na "implacável" Via Santa Catarina
 
A participação portuguesa está a cargo de Nelson Oliveira ( Movistar Team), Ruben Guerreiro ( Team Katusha – Alpecin) e Rui Costa ( UAE Team Emirates). A possibilidade de sucesso para  tripla portuguesa é muito muito reduzida. Fazer melhor que José Gonçalves e o seu 11º lugar será tarefa muito difícil.
 

A Strade Bianche não faz parte dos “monumentos do ciclismo” nem saberemos se um dia irá ser o 6º monumento. Mas uma coisa temos a certeza. A rampa da Via de Santa Catarina não é o Koppenberg , a Trouée de Arenberg , o Poggio, La Redoute ou o Muro di Sormano , mas nos últimos anos tem sido palco dos finais mais bonitos a que temos assistido . Quem não se lembra de Sagan entrar á morte em 2014 para depois ser ele a morrer ao primeiro esticão de Kwia? Ou de Brambilla que andou isolado uma prova inteira para depois ser “comido “por Cancellara e Stybar nos metros finais? Ou do sofrimento de Wout van Aert que colapsou fisicamente? Começam a ser 700m com muita historia.

A Strade Bianche está a fazer o seu caminho para a história. Devagar para não escorregar. Pois as estradas brancas da Toscana são perigosas e qualquer erro pode ser fatal. Até agora a Strade Bianche nunca falhou. Foi sempre espetacular!!!
 
Startlist: ver aqui

Percurso: ver aqui
Transmissão TV : Eurosport 2 pelas 13h00
Hastag: #stradebianche #stradebianche2019 #stradebianche19

Boas Pedaladas,

AT

 

 

 

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