Para
os mais distraídos ou para os menos experientes e novatos nesta época do ano
onde os campos começam a florear, os dias ficam maiores e os pássaros andam numa
cantoria e que se chama “Clássicas “( por engano alguns chamam-lhe Primavera ),
informamos que começa amanhã a 1ª clássica
do ano - a Omloop Het Nieuwsblad (OHN) , seguida da Kuurne – Bruxelles-Kuurne
no domingo.
A
partir de agora, se o COVID-19 deixar, a atenção do mundo do ciclismo a sério dirige-se
maioritariamente para a Bélgica, com algumas incursões na Itália e França. Para a região da Flanders tudo começa amanhã e
culminará no grande dia. Esse dia é o Tour Flandres que é como quem diz em
flamengo: Ronde van Vlaanderen (RVV). Esse maldito dia onde cada “flemish “bebe
a maior quantidade possível de cerveja produzida pelo vizinho ao mesmo tempo
que vê passar os homens das bicicletas nas estradas empedradas e construídas pelo
bisavô depois da devastação da 1º guerra mundial. Esse dia de celebração
acontecerá no próximo dia 5 de Abril e na altura certa falaremos dele.
Agora
a OHN.
Omloop
Het Nieuwsblad 2020
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OHN 2020 |
Quase
todos os nomes importantes belgas já a ganharam: Merckx, Vlaeminck , Maertens,
van Petegem, Museeuw, Planckaert, Gilbert e Avermat. Greg Avermat é o vencedor
das duas últimas edições ganhas por belgas (2016 e 2917). Quase todos ganharam a OHN. Quase. Falta um.
Por sinal o belga com maior palmarés em provas importantes de 1 dia: Tom Boonen.
Em 2019 foi o checo Zdenek Stybar a levar o troféu. Ele que também ficou com a
vitória na E3 BinckBank Classic e um honroso 4º lugar na Strade Bianche.
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Zdenek Stybar venceu em 2019 |
Há
outra particularidade importante a registar em relação à OHN. Para os mais
desatentos nós dizemos: a OHN é a única “grande” corrida de um 1 dia ganha por
Sep Vanmarcke. Foi no longínquo ano de 2012. Ele que é o ciclista mais azarado
do mundo e anda SEP= Sempre Em Perseguição.
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Percurso OHN 2020 |
A
edição de 2020, tal como em 2018 e 2019, marca uma grande diferença em relação
a anos anteriores: o percurso. O início em Gent mantem-se e a meta em Ninove
também e isso significa dificuldade e provavelmente uma prova muito mais
seletiva. Só nos últimos 40km de prova teremos: o Leberg, o Berendries , o
Valkenberg , o TenBosse e principalmente teremos , e estes já em pavê, os bem
conhecidos Muur e o Bosberg lembrando os finais da Ronde de outrora. Quando
terminarem os 980m do Bosberg faltarão apenas 12km para o fim.
Pelotão: Os Outros
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Kapelmuur |
O Bosberg parece
querer ganhar o protagonismo de outros tempos. Aqui brilharam Boonen e também
Edwig Van Hooydonck que atacou para ganhar isolado a RVV de 1989 e 1991
adquirindo assim a alcunha de “ Eddy Bosberg”.
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Bosberg |
O Pelotão: os Belgas
Os
belgas, como é natural, tem dominado a OHN e partem como fortes candidatos a
vencer embora nos últimos anos tivemos vitórias de Stannard , que venceu contra
3 Quick Step , Luca Paolini , Flecha , Langveld e Hushovd , em 2018 Michael
Valgren e o ano passado Zdenek Stybar.
Greg
Avermaet (CCC Team) estará presente e será um dos principais candidatos. Se
ganhar a edição de 2020 Avermat junta-se ao restrito lote de homens tricampeões
na OHN: Van Petegem, Joseph Bruyère e Ernest Sterckx.
Tim
Wellens ( Lotto Soudal) está em boa forma
como se viu na Algarvia e se for preciso atacar de longe para ganhar vantagem
Wellens não terá qualquer problema e todos sabemos como ele o faz. E faz muito bem.
Tim Wellens foi terceiro em 2019 e no seu palmarés falta-lhe uma grande clássica
belga.
Também
o companheiro de equipa de Wellens, Philippe Gilbert, aparece no lote de belgas
candidatos à vitoria em Ninove. A qualidade de Gilbert é inegável e já ganhou a
prova por duas vezes. Quando em boa forma é um luxo ver correr o valão, mas
para este ano o grande objetivo é outro , o objetivo de uma carreira desportiva.
Gilbert corre à procura do único Monumento que lhe falta: Milano-Sanremo ( COVID-19 não estragues a festa) !!!
Oliver
Naesen da AG2R la Mondiale é também um homem a ter em conta. Tal como também é
Jasper Stuyven da Trek Segrafredo .
Yves
Lampaert (Deceuninck Quick Step), Dylan Teuns (Bahrain MacLaren), Tiesj Benoot
(Team Sunweb) e Sep Vanmarcke (EF Education First) não são candidatos principais,
mas não deixarão de aproveitar a oportunidade para vencer a primeira clássica
do ano.
Um
destaque especial para o super Wout van Aert (Team Jumbo-Visma). Para quem não sabe,
van Aert vem do cyclocross . Disputa há anos o top da modalidade com o super
Mathieu van der Poel (ausente da OHN 2020 por motivos de doença). A época de cross de van Aert não
correu muito bem. Perdeu grande parte da temporada devido à queda sofrida no
Tour de France 2019 onde conquistou uma etapa de forma espetacular. Wout van
Aert tem muita qualidade e aquilo que não conseguiu “dar “na temporada de cyclocross
pode consegui-lo na sua segunda grande época de ciclismo de estrada e logo numa
das principais equipas: a Team Jumbo-Visma. A aposta da equipa holandesa em van
Aert é forte. Na OHN foi 32º em 2018 e 13º em 2019, mas as exibições de Wout
van Aert na Strade Bianche 2019 ( 3º), na Milano Sanremo 2019 ( 6º ), na E3
BinckBank Classic ( 2º), na Ronde van Vlaanderen de 2018 ( 9º),
na Gent-Wevelgem 2018 (10º) , no Paris-Roubaix 2018 (13º) e principalmente na Strade Bianche
2018 onde terminou no terceiro posto depois de uma corrida literalmente ao
ataque deste os primeiros quilómetros, deixam água na boca e a perspetiva de
que no futuro Wout van Aert poderá ser uma das principais referências em provas
muito duras de apenas 1 dia. Esperamos que sim. Wout van Aert bem merece e os
adeptos de ciclismo querem ver as épicas lutas nas pistas de cross entre o
belga e o holandês Mathieu van der Poel repetidas no alcatrão e nos empedrados
das clássicas de um dia.
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Wout van Aert |
Além
dos ciclistas belgas há outros nomes a apontar.
Mathieu
van der Poel, estava previsto na partida da OHN 2020. Apresentava-se como um
dos grandes favoritos, senão mesmo o grande favorito a vencer. Não irá participar
devido a doença. A sua estreia na temporada de clássicas fica assim adianta
para a Strade Bianche a disputar no próximo dia 7 de março.
Mas
há mais !
Zdenek
Stybar , o checo da Deceuninck Quick-Step venceu a prova do ano passado e por
isso aparece este ano com o dorsal nº 1. Stybar sabe o que é fazer pódio em
provas de muita dificuldade e onde pequenas, mas duras subidas, marquem o resultado.
Stybar divide a liderança da Wolfpack com o dinamarquês Kasper Asgreen e com o luxemburguês
Bob Jungels que também são boas apostas para a equipa de Lefévère.
Mads
Pedersen ( Trek Segafredo) apesar de trazer a camisola do arco-iris pode
surpreender na primeira grande clássica do ano aproveitando a “ marcação “
entre ciclistas mais favoritos.
O
vencedor do ano 2018 Michael Valgren (NTT Pro Cycling) podem dar “chapelada “aos
homens nascidos na terra do Tintin. Valgren é a principal aposta da equipa sul
africana para as clássicas da primavera. O dinamarquês teve uma grande época 2018
ao triunfar na OHN e depois na Amstel Gold Race . O ano passado as coisas não correram
nada bem e o melhor que alcançou foi um quarto lugar na Bretagne Classic -
Ouest-France. Em 2020 Valgren quer regressar aos triunfos e nada melhor que
começar a vencer onde realmente é um dos melhores do pelotão: corridas de 1
dia.
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Michael Valgren venceu em 2018 |
Para muitos a
verdadeira época e todo o esplendor do ciclismo começa amanhã. Sabemos que isso
não é totalmente verdade, até porque já temos ciclismo desde os primeiros dias
de janeiro Mas uma coisa é certa! Flanders + Helligen + prova de 1 dia =
espetáculo e emoção. Por vezes os 200km de provas como aquela que se inicia em
Gent e termina em Ninove valem muito mais que os 3000km das grandes provas de
três semanas.
Que comecem os
muros de empedrado, as provas atacadas logo desde o inicio e as fugas com
sucesso!
Que comece o
CICLISMO ROMÂNTICO!!!!!