sábado, 19 de maio de 2018

Monte Zoncolan : O futebol e o ciclismo de mãos dadas !


Monte Zoncolan
 
Apesar de ser pouco reconhecido pelo público em geral, muitas vezes o futebol e o ciclismo, as duas modalidades desportivas mais populares do mundo, tem caminhado de mãos dadas.
É o caso do Monte Zoncolan. Uma subida relativamente recente na história do ciclismo, mas que já viu o seu nome entrar para o lote das ascensões míticas. A razão é simples: o Monte Zoncolan é das subidas mais difíceis do ciclismo profissional.
Localizado nos belíssimos Dolomitas, nos Alpes Cárnicos, integrado na região de Friuli e antes de conhecido para os adeptos da modalidade, o Monte Zoncolan e os seus 1730m de altitude não passavam de mais um pico. Uma fachada de pedra no seio de uma massa de calcário onde se vislumbram montanhas misteriosas e terríveis. Ao contrário dos Celtas, povo hospitaleiro, que ali se estabeleceram para mais tarde sucumbirem ao Império Romano, os montes ao redor de Friuli eram inóspitos. O clima a que estavam sujeitos e os declives acentuados faziam daquela região uma das menos agradáveis para habitar.
Se as condições eram difíceis para viver, também o seriam para pedalar. Os cicloturistas da região, aqueles mais ávidos das emoções das montanhas há muito que falavam do Monte Zoncolan. Mesmo sem o subir até ao cume, e em conversas de café, blogs e fóruns na internet, o Zoncolan já era considerada uma das subidas pavimentada mais difíceis de Itália. Para alguns o Zoncolan seria mesmo mais terrível que o monstro Mortirolo. Só que a fama do Zoncolan ainda era local. Era um segredo muito bem guardado.
Guidolin, apaixonado pelo futebol e ciclismo
 
Entre aqueles que defendiam esta última tese, estavam Francesco Guidolin. O italiano foi um mediano jogador profissional de futebol chegando a jogar na serie A italiana em clubes como o Veneza e o Hellas Verona. A sua carreira de jogador foi curta e Guidolin depressa se dedicou ao treino onde obteve mais sucesso. Ainda no ativo, mas atualmente sem clube, Francesco Guidolin treinou o seu último clube em 2016, o Swansea City AFC do País de Gales.
Mas voltamos ao que interessa. Em 1998 Guidolin treinava o Udinese Calcio, o clube da capital friuliana de Udine. Além da paixão pelo futebol, o “mister” tinha outro amor: o ciclismo. Francesco era um cicloturista entusiasta e ambicioso. Um colecionador de montanhas que agora morava no sítio certo para engrossar a sua lista de conquistas.  Num dia de Verão e sem treino de futebol previsto, Guidolin saiu para a estrada com um velho amigo local. A meio do passeio este segredou-lhe que estavam a poucos km da mais difícil subida que Guidolin iria consqusitar. Eram apenas 10km, mas com inclinações brutais. Chegaram ao topo do Monte Zoncolan e Francesco estava exausto confessando que nunca tinha visto algo assim. Para ele o Monte Zoncolan eram “as portas do inferno” para qualquer amante de ciclismo, profissional ou simples amador.
Entretido com a sua carreira de treinador Guidolin nunca mais falou do Zoncolan mas também nunca mais o esqueceu! Até que em 2002 a organização da Vuelta a Espanha anuncia “a mais difícil subida do mundo “: o Angliru ! Francesco ao ouvir esse anúncio sorriu. Ele tinha a solução para da prova italiana.  Afinal estávamos numa época onde as organizações de Vuelta e Giro disputavam a medalha de “subida mais difícil “.  O treinador de futebol movimentava-se com facilidade nos meios de comunicação italianos e depressa entrou em contacto com os seus amigos jornalistas Auro Bulbarelli e Davide Cassani e com o cronista da Gazzetta dello Sport Angelo Zomegnan. Todos pediram uma reunião urgente com Carmine Castellano, chefe do Giro.  Foi o treinador de futebol que apresentou ao diretor da prova italiana o “Kaiser” o Zoncolan:
“Olá Castellano, este é o Monte Zoncolan, e chuta o Angliru para canto “

Castelhano, sedento de responder ao desafio espanhol aceitou a sugestão e o Monte Zoncolan entrou para o percurso do Giro de Itália logo no ano seguinte. Mas para o diretor da prova havia um problema: o Monte Zoncolan era ingreme, é certo, mas não passava de um caminho de gado onde as condições de segurança poderiam estar em causa. Por um lado, ele tinha razão. Aquele “caminho de cabras” foi feito em 1939 por 400 homens. A obra durou 18 meses, mas se soubessem o que iria acontecer cinco anos depois, jamais teriam todo aquele esforço. A 2 de março de 1945 as tropas nazis chegaram a Ovaro através da estrada construída para o Monte Zoncolan. Na pequena localidade encontraram alguma resistência popular, mas 22 pessoas foram mortas.  
Gilberto Simoni , vencedor em 2003
Castellano queria subir ao Monte Zoncolan no Giro de 2003 mas dando-lhe uma versão menos trágica e segura. A opção foi subir desde Sutrio (13,5km a 8,9%). Gilberto Simoni foi o vencedor, o primeiro ciclista profissional a ganhar uma etapa no cimo do Monte Zoncolan. Mesmo utilizando um andamento baixo 39/27, o italiano classificou o último quilometro da subida como “o mais duro que subi em toda a minha vida “. Nesse ano, Mário Cipollini utilizou uma bicicleta com andamentos BTT mas ao chegar a meio da subida encostou e desistiu. No dia seguinte a imprensa italiana era unânime: o Monte Zoncolan cunpriu, era um monstro, era o “Angliru italiano” .
Mas Francesco Guidolin não estava contente. Se ele subiu ao “Kaiser” por Ovaro, porque não haveriam de subir também os profissionais? Porque não tornar o Monte Zoncolan “a verdadeira subida mais difícil do mundo “?  
Em 2005 Zomegnan, um dos jornalistas que ouviu o segredo de Guidolin, tornou-se diretor do Giro de Itália e prometeu ao treinador que iria fazer todos os possíveis para ser incluida na prova a subida pelo vertente mais difícil: a vertente de Ovaro com os seus 10km, 11,9% de média com rampas a ultrapassar os 22%. Meteu mãos ao trabalho, falou com o presidente da comunidade Enzo Cainero que se disponibilizou para fazer algumas reparações e em 2007 todos ouviram aquilo que desejavam. O Monte Zoncolan era o final da etapa 17 do Giro. Melhor, a sua ascensão seria por Ovaro. Fez-se “justiça” a Franscesco Guidolin mas também a todos os cicloturistas daquela região italiana que há muito reclamavam que a subida mais difícil do mundo estava à porta das suas casas!
Simoni em 1º e Piepoli em 2º , anos loucos na Saunier Duval
 Em 2007 Gilberto Simoni bisou, ganhando a alcunha de “senhor Zoncolan”. O italiano foi o vencedor das duas primeiras vezes que a subida fez parte do percurso da prova rainha do ciclismo italiano. Na escalada por Ovaro Simoni utilizou uma desmultiplicação de 34/27 e ao chegar ao cimo tem a melhor descrição possível do monstro italiano:
“a parte mais fácil desta subida é mais difícil que a parte mais difícil de qualquer subida do Tour de France “
Desde então o Monte Zoncolan foi conquistado em 2010 por Ivan Basso, em 2011 por Igor Anton, em 2014 por Michael Rogers e o ano passado por Chris Froome.
Ultimo vencedor no Monte Zoncolan, Froome , 2018

Claro que todos sabemos que o Zoncolan não será na realidade a subida mais difícil da Europa. É talvez para o ciclismo profissional e é de certeza absoluta a subida mais difícil que os ciclistas têm de enfrentar por terras italianas.
 
O anfiteatro natural do Monte Zoncolan
 
Desde Ovaro
Altitude : 1730m
Distancia: 10km
Desnível: 1230m
Média: 11,9%
Máxima: 22 %
 

A ascensão ao Monte Zoncolan irá fazer-se por Ovaro e são 10km a 12% de inclinação média com rampas constantes a superar os 20%. Uma das mais difíceis subidas da Europa. Um anfiteatro perfeito para um grande espetáculo em pers
Boas pedaladas
AT  
Não será fácil para ninguém. Afinal amanha teremos 5 contagens de montanha (três de 3ª cat , uma de 2ª cat e uma de 1ª cat) . A ascensão ao Monte Zoncolan irá fazer-se por Ovaro e são 10km a 12% de inclinação média com rampas constantes a superar os 20%. Uma das mais difíceis subidas da Europa. Um anfiteatro perfeito para um grande espetáculo em pe
A ascensão ao Monte Zoncolan irá fazer-se por Ovaro e são 10km a 12% de inclinação média com rampas constantes a superar os 20%. Uma das mais difíceis subidas da Europa. Um anfiteatro perfeito para um grande e
Não será fácil para ninguém. Afinal amanha teremos 5 contagens de montanha (três de 3ª cat , uma de 2ª cat e uma de 1ª cat) . A ascensão ao Monte Zoncolan irá fazer-se por Ovaro e são 10km a 12% de inclinação média com rampas constantes a superar os 20%. Uma das mais difíceis subidas da Europa. Um anfiteatro perfeito para um grande espetácul

1 comentário:

  1. muito bom artigo . Subi em 2011 e foi o dia mais difícil da minha vida em cima de uma bicicleta, mas cheguei lá acima sem nunca ter posto o pé no chão. MÉDIA DE 7.1 k/h.

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