sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Finalmente um Monumento - A História da "La Classicissima" Milano - Sanremo


Os Monumentos do Ciclismo começam hoje com "La Classicissima " ou “La Primavera” . Até aqui tudo normal ! Mas estamos em agosto. A Primavera já lá vai e ficou o Sars-Cov 2 ! A esta altura da temporada resta apenas um Monumento para disputar : Il Lombardia. Este ano ainda faltam as 5 grandes corridas de um dia ! 


São 305 km que ligam Milano a San Remo. Mais ou menos de Lisboa ao Porto. O mais longo dos Monumentos. Uma das provas mais longas do calendário mundial.


Quando recentemente se discutiu se a Strade Bianche já era um dos monumentos do ciclismo ou se um dia iria ser, a nossa resposta foi bastante clara. Concluímos que não! Pelo menos por agora! Está a fazer o seu percurso, mas para ser “Monumento “há um longo caminho a percorrer e muitas estórias para contar. Na Milano-San Remo esse caminho começou em 1907. A Strade Bianche ainda é uma jovem com 14 anos de idade.

Milano-SanRemo: o primeiro “Monumento”


A prova foi organizada pelo jornal desportivo “Gazeta dello Sport” e teve a distância de 288km. Estavam escritos 62 ciclistas, mas na linha de partida em Milano apenas se apresentaram 33. Mais de metade desistiu durante a prova e em San Remo apenas 14 “heróis “cruzaram a linha de meta. O francês Lucien Petit-Breton foi o mais rápido a percorrer a ligação. Nesta altura fazer 288km significavam muitas horas em cima das bicicletas e Lucien “Petit-Breton” levou 11h04m. Uma média de 26km/h. Uma grande performance para a altura. Atrás do francês chegou o seu compatriota Gustave Garrigou e em terceiro o italiano Giovanni Gerbi, o famoso “Diabo Vermelho” que já falamos aqui.
Lucien " Petit Breton" o 1º vencedor
 
Nesta época provas com distâncias elevadas não tinham apenas a vertente de competição desportiva. Eram também provas de superação da resistência humana e nalgumas vezes de sobrevivência.

Além da elevada distância as estradas eram péssimas e muitas vezes as condições meteorológicas eram dantescas. Numa das primeiras edições os ciclistas tiveram mesmo de “furar” pela neve para continuar na direção de San Remo. Aconteceu em 1910.

A edição de 1910 foi particularmente difícil. Começou pelas 6 da manhã e logo nos primeiros km os ciclistas encontraram uma tempestade de neve.


MSR 1910: " a furar a neve"


Ao chegar ao Passo de Turchino muitos ciclistas não aguentaram e voltaram para trás. Outros pediram refúgio nas casas que encontraram e depois de aquecerem o corpo recusaram-se a continuar em prova e foram diretos para casa. Depois do Passo de Turchino apenas 30 ciclistas continuaram em prova. Um deles foi Eugène Christophe que viria a ser o primeiro em San Remo. A meio da prova Christophe foi obrigado a vestir umas calças para se proteger do frio. Ao passar por Savona , o francês assumiu a liderança mas por pouco tempo. As suas calças entalaram-se na corrente da bicicleta e Christophe viu-se obrigado a pedir ajuda numa pequena localidade. Enquanto lhe cortavam as calças, libertando-o da bicicleta, o ciclista aproveitou para se alimentar abastecendo-se convenientemente para o resto da prova. Apesar do tempo perdido Christophe ganhou um novo folego e conseguiu alcançar a frente da corrida. Sem as calças e bem alimentado passou direto para a liderança e chegou a San Remo com mais de 1 hora de vantagem para o segundo classificado. A epopeia de Eugene Christophe durou 12h24m. A mais lenta das edições da Milano – San Remo. No final o francês foi hospitalizado por queimaduras nas mãos e cara. Esteve mais de um mês no hospital de San Remo e só voltou a competir passados 2 anos.
Eugene Christophe vencedor em 1910
 
Mais recentemente a neve também fez a sua aparição durante a prova. Foi em 2013. Os ciclistas não se refugiaram nas casas por onde passavam, mas sim nos autocarros e carros das suas equipas. Mas tal como em 1910 muitos já não regressaram á competição.


Nos anos seguintes a prova foi ganha pelos grandes nomes da altura: Alfredo Binda, Constante Girardengo ou Henry Pellissier.

Também a Milano San-Remo foi palco de batalha da maior e mais bonita rivalidade do ciclismo: Gino Bartali vs Fausto Coppi. A luta entre os dois não se fez apenas no Izoard (Alpes) ver aqui, ou no Tourmalet (Pirenéus ) ou noutra qualquer grande subida do Tour de France ou do Giro de Itália. Para a historia ficam também as edições da década de 40 onde os dois italianos disputavam a “Classicíssima “como se fosse a última corrida da vida. Num ano era Bartali que fugia logo no Passo de Turchino conquistando a corrida com uma longa escapada de centenas de quilómetros. No ano seguinte era a vez de Coppi pedalar com elegância e distanciar-se de Bartali acabando em San Remo com muitos minutos de vantagem. Na edição de 1946 a vantagem de Coppi era tão grande que o “Campionissimo” parou para tomar café seguindo mesmo assim destacado na frente. Entre 1940 e 1950 a corrida foi disputada nove vezes (paragem de dois anos devido à Segunda Guerra Mundial). Dessas nove edições Bartali e Coppi venceram seis.


O " famoso" café onde Coppi bebeu um café em plena MSR 1946
 
O palmarés da Milano-Sanremo é vasto e rico em nomes importantes: Eddy Merckx é o seu recordista. O Belga ganhou 7 vezes. Tambem Rik van Looy e Roger de Vlaeminck venceram a prova italiana para completar o penta dos “Monumentos “. Franscesco Moser e Laurent Fignon também tem o nome inscrito na placa do primeiro lugar, assim como Laurent Jalaber, Erik Zabel, Cancelllara, Cavendish ….

As últimas três edições da prova foram espetaculares.

Em 2017 a “ La Primavera” foi ganha pelo polaco Michał Kwiatkowski num sprint muito comentado e discutido com o francês Alaphillipe e o campeão do mundo Peter Sagan. Todos os três são dos principais favoritos a ganhar a edição 2020 da “Classicíssima”

Michał Kwiatkowski vence em 2017

No ano de 2018 foi a vez do tubarão de Messima. Vincenzo Nibali juntou ao seu vasto palmarés a Milano-SanRemo, numa vitória que ficará para sempre na memória do próprio, dos seus fãs e de todos aqueles que gostam de ciclismo espetacular. Nibali ataca no Poggio de SanRemo para ser apanhado já depois de cruzar a linha de meta na Via Roma.

Nibali 2018

E finalmente em 2019 Julian Alaphilippe venceu a prova e o seu primeiro Monumento depois de bater ao sprint um grupo reduzido de 10 elementos que se destacou no Poggio di Sanremo. 

Alaphilippe ganhou em 2019 

Milan-San Remo 2020

A edição de 2020 não deve fugir muito ao filme dos últimos anos. No entanto, o percurso é diferente .Devido à pandemia alguma localidades proibiram a passagem da caravana e do pelotao. Serão 305km , mas não haverá Passo del Turchino nem os 3 famosos Capos: Capo Mele , Capo Cerve e o Capo Berta. 
Milano - Sanremo 2020

 
Mas temos Cipressa e Poggio di Sanremo. Na Cipressa o posicionamento é fundamental pois a corrida começa a desenrolar-se a uma velocidade bastante elevada. Uma boa entrada no Poggio di Sanremo é sinonimo de sair dele numa posição bastante razoável e em condições de discutir a corrida na Via Roma. O Poggio di Sanremo com os seus 3,7km com média de 3,7% e max 8% fará a seleção dos candidatos uma vez que os restantes 5km serão em descida até entrarem no km final.

Cipressa + Poggio di SanRemo
 

 
Em 2017 foi na parte final do Poggio di Sanremo que Sagan atacou levando na roda Alaphillipe e Kwiatkowski que acabou por ser o vencedor ganhando o seu primeiro monumento. Foi também no final da subida que em 2018 Nibali ganha metros importantes ao restante pelotão para conquistar a mais bela vitória da sua carreira.

Favoritos: 
 ***** Michael Matthews, Mathieu van der Poel, Wout Van Aert
**** Julian Alaphilippe, Michal Kwiatkowski, Caleb Ewan
*** Iván García, Vincenzo Nibali, Peter Sagan, Arnaud Démare
** Sam Bennett, Fernando Gaviria, Matej Mohoric, Oliver Naesen
* Alexey Lutsenko, Nacer Bouhanni, Alexander Kristoff, Giacomo Nizzolo


Startlistaqui

Percursoaqui

Transmissão TV: Eurosport 1 pelas 14h50m

Hastag: #MSR #MSR20 #MSR2020

 

Boas pedaladas !

AT

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