segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Orcières - Merlette : a epopeia de Luis Ocaña.

 

Orcières - Merlette : 1971

A primeira chegada em alto do Tour de France 2020 acontecerá hoje na estância de ski de Orcières- Mertette. Uma 1ª Cat com 7,1km de extensão e uma média de inclinação de 6,7%. As percentagens ao longo da subida são constantes e regulares e por isso a subida a Orcières – Merlette não deverá provocar grandes diferenças entre os favoritos a vencer o Tour de France. É a quinta vez que a pequena estância de ski situada nos Hautes-Alpes a 1825m de atitude recebe uma chegada da Grande Boucle. Se hoje é de esperar que não haverá diferenças significativas entre os principais favoritos, o mesmo não se passou a 8 julho de 1971. Um dos dias mais espetaculares do Tour. Um dia em que no seu expoente máximo de domínio, o merckxismo foi derrotado por KO!

A edição 58 do Tour de France partiu para a estrada em Mulhouse com três grandes candidatos a vencer a competição. Eddy Merckx tinha ganho nos dois anos anteriores com grande margem de vantagem para os seus adversários. Em 1969, o ano da sua primeira vitória no Tour, o “Canibal “belga vence todas as camisolas e acaba em Paris com 17m54s a menos que o francês Roger Pingeon.  Da Holanda vinha um jovem trepador que deu nas vistas na Vuelta disputada no mês de maio ganhando a classificação da montanha. Falamos de Joop Zoetemelk que haveria mais tarde de vencer o Tour de France (1980) , a Vuelta ( 1979) , os campeonatos do mundo ( 1985) além de outras provas de grande prestigio. E finalmente de Cuenca, Espanha, o ciclista da BIC Luis Ocaña que havia vencido a Vuelta 1970 e em 1971 apresentava-se num excelente momento de forma ao ponto do próprio ciclista espanhol a afirmar que no Tour de 1971 iria vencer Merckx. Isso não aconteceu e já vamos saber porquê.

Luis Ocaña e Eddy Merckx - Tour 1971

Ocaña não venceu o Tour de 1971, mas foi o seu grande herói.

Na etapa 8 com final em Puy de Dome, Luis Ocaña ataca a 5km da meta sendo perseguido por Agostinho e Zoetemelk. Merckx é o último dos grandes favoritos a responder, mas consegue encurtar a distância para o espanhol de tal forma que chega ao cume de Puy de Dome com apenas 15s de atraso para Ocaña. Eram apenas 15s, mas foi a primeira vez que o Canibal foi desafiado e sai derrotado. A margem de 15s de Ocaña para Merckx seria alargada na jornada entre Saint-Étienne e Grenoble. Merckx fura e na frente Ocaña e o holandês Zoetemelk aceleram para ganhar 1m36s ao Canibal. Zoop era agora o novo camisola amarela.

Até que chega o grande dia. O dia em que Ocaña faz uma epopeia a recordar Bartali e Coppi. Uma jornada de apenas 136km onde o espanhol arrasa a concorrência a muitos quilómetros da meta instalada em Orciéres- Merlette. Um dia de loucos onde logo na Côte de Laffrey o português Joaquim Agostinho, nesse ano a correr pela Hoover tendo terminado em 5º lugar, é o primeiro a atacar forte a corrida. De tal forma que o pelotão foi completamente dizimado nas primeiras inclinações de “a Rampa “, como é apelidada localmente a Cotê de Laffrey. O ritmo de Tinô era impressionante e começa a abrir um espaço interessante para os restantes adversários. Lá atrás, Ocaña decide avaliar as condições físicas de Merckx. Ao ritmo forte do espanhol em busca do português, o belga não tem capacidade de responder e mais uma vez verga perante a força de um Luís Ocaña que parece voar nas rampas do Tour 1971. Misteriosamente o diretor da Hoover manda Agostinho esperar pelo trio que fugiu do pelotão e no cume da Cotê de Lafrrey o português foi o primeiro a passar, mas já com a companhia de luxo de Van Impe, Zoetemelk e Ocaña

Agostinho, Ocaña, Zoetemelk e van Impe - Etapa 11 : Tour 1971

Depois no Col du Noyer todos vergaram perante a exibição de Ocaña que sozinho, em contrarelógio, enfrenta a derradeira subida final a Orcières- Merlette. Ao cruzar a meta o inimaginável no Tour 1971. Luis Ocaña termina a etapa vestido de amarelo. Atenção, com 8m42s de vantagem para Eddy Merckx. Sim, em 1971, Ocaña derrota Merckx de tal forma que o belga chega a afirmar: “Ocaña matou-nos a todos, como os toureiros fazem nas touradas” . E conclui: “é isto o desporto. Na vida, como no desporto, assistimos a acontecimentos fantásticos. Não há mais nada a dizer. É essa a regra, saber reconhecer o mérito”.

Ocaña - Orciéres- Merlette
O Tour de France de 1971 estava perto de estar decidido. À entrada para a última semana de competição, nos Pirenéus, a vantagem de Ocaña para Zoetemelk que ocupava a segunda posição era de 8m43s e para Eddy Merckx (5º lugar) uns impensáveis 9m46. Com a moral em alto seria um passeio para o espanhol que viveu em França desde tenra idade. Mas não foi. Massacrado por várias quedas ao longo da carreira, Ocaña vê mais uma vez o azar bater-lhe à porta.

A chuva, o vento e o granizo apareceram de forma intensa na etapa 14 que ligava Revel a Luchon. Na descida do col de Menté Eddy Merckx procura distanciar-se de Ocaña de tal forma que falha uma curva e cai. O espanhol não consegue evitar o embate e vai também ao chão. Enquanto Merckx se levanta e recomeça, Ocaña fica no chão com o pé preso no pedal. Zoetemellk também não consegue evitar a queda e bate de frente com o espanhol. O camisola amarela fica muito mal tratado temendo-se o pior. É o abandono de Luis Ocaña que é transportado para o hospital de helicóptero. Merckx vence a etapa e veste também de amarelo. Não foi bem assim. Ao saber do sucedido a Ocaña, o Canibal recusa-se a subir ao pódio em Luchon e recusa-se também a vestir a camisola amarela, pois para Merckx essa “é do Luis com todo o mérito”. Foi até mais longe, não queria vestir a camisola mais desejada até ao final em Paris. Depois de muito insistir, a organização lá convenceu o belga a usar o símbolo de líder da Grande Boucle e é de amarelo vestido que Merckx vence o contrarrelógio final de Versailles a Paris onde Joaquim Agostinho foi segundo classificado.

Ocaña: Col de Menté

Ocaña recupera do trágico acidente e apresenta-se no Tour do ano seguinte pronto para mais uma vez desafiar Eddy Merckx. O belga não tinha o Tour de 1972 nos seus planos, mas devido aos críticos que afirmavam que o Canibal só tinha vencido o seu terceiro Tour por causa da infelicidade de Ocaña, Merckx muda o seu calendário e apresenta-se para o tão aguardado duelo. Só que Ocaña é um ciclista de azar e uma grave crise de bronquite força-o a abandonar a competição nas etapas dos Pirinéus.

Em 1973, aproveitando a ausência de Merckx que compete e ganha o Giro e Vuelta, o ciclista de Cuenca vence o Tour de France em 1973 ainda ao serviço da BIC com a ajuda do português Joaquim Agostinho.

Luis Ocaña, Tour 1973

Luis Ocaña morre de forma trágica em 1994 com 48 anos de idade, mas isso agora não interessa para nada! 

Viva Don Luis de Cuenca!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

GUIA TOUR DE FRANCE 2020

 



107ª edição do Tour de France foi anunciada ainda em outubro de 2019 mas, entretanto, o mundo mudou! E como sabemos não mudou para melhor. Em março de 2020 é decretada o estado de pandemia (uma epidemia global onde a doença está presente ao mesmo tempo em todas as regiões do mundo) devido ao novo coronavírus: o SARS-COV 2. Cedo o ciclismo foi dos primeiros desportos a “confinar “e só voltou no passado mês de agosto em grande força. Significa isto que as datas habituais do Tour de France foram alteradas. Do tradicional mês de julho passamos para o final de agosto e mês de setembro. O número de etapas manteve-se, ou seja, 21 etapas distribuídas em 23 dias. O Tour de France 2020 começará no próximo sábado em Nice, dia 28 de agosto e termina a 20 de setembro nos Champs Elysées em Paris. Esperemos nós! 

Se só por isto este Tour seria “especial “imaginem correr um Tour sem a certeza que ele terminará de forma natural e prevista e com menos quilómetros nas pernas devido à falta de competição e pelo que já vimos nas provas anteriores, é provável que neste Tour todos andem a “abrir” como se fosse o fim do mundo. Fim do mundo é exagero, mas devido à situação pandémica em França com os casos de Covid-19 a aumentarem mais de 3000 diariamente, nunca saberemos se o camisola amarela do "início da segunda semana" será o vencedor da Grande Boucle se esta tiver de ser interrompida abruptamente. Na cabeça de todos, desde ciclistas a directores desportivos, organizadores e até público e adeptos, tal como indica a sondagem feita pelo site www.procyclingstats.com, estará sempre esta duvida: lutar pela camisola amarela desde do primeiro dia porque não saberemos quando é que o Tour de France acabará. De tão estranho que isto possa parecer poderá até trazer muita incerteza e espectáculo à maior prova de ciclismo mundial. 

Não é a primeira vez na história que a Grande Boucle é disputada durante uma pandemia. Em 1919, enquanto centenas de milhares de pessoas ainda morriam devido à Gripe Espanhola (1918-1920), Firmin Lambot tornava-se o segundo belga a vencer a competição. Cem anos depois, o conhecimento científico é outro e a ASO (organizadora), a UCI e o governo francês colocaram em marcha um rigoroso plano sanitário para prevenir a infecção por SARS COV- 2 na caravana e sobretudo no pelotão. Esse plano sanitário resume-se a quatro pontos fulcrais: 
 - Fechar as subidas dois dias antes da passagem do pelotão para evitar os aglomerados de pessoas; 
 - Dois casos positivos entre ciclistas e staff levará de imediato à expulsão da equipa; 
- Testar ciclistas 6 e 3 dias antes do Tour começar e depois em cada um dos dias de descanso;  
- As equipas permanecem numa “Bolha “de modo a evitar o contacto entre si. 

Do ponto de vista desportivo este poderá ser o Tour de fim de ciclo. Falamos como é lógico na Team Ineos Gardenier. Ou pelo menos é, aparentemente, o Tour onde a equipa britânica tem maior concorrência. E essa concorrência vem dos holandeses da Team Jumbo-Visma que apresenta um bloco impressionante com Roglic, Dumoulin, Gesink, Kuss e Bennett. Acresce o facto da Ineos Gardenier deixar de fora Geraint Thomas e Chris Froome. Bernal aparece assim como líder inquestionável da equipa, mas com uma estrutura mais fraca para ajudar o colombiano a renovar o título de campeão da Grande Boucle. Mesmo que não seja o fim de ciclo para a Ineos, será certamente o fim do ciclo de britânicos a dominar a equipa que venceu 7 dos últimos 8 Tour’s de France disputados. 

Egan Bernal - vencedor em 2019

O percurso da edição 2020 apresenta algumas novidades. É bastante montanhoso e tem algumas estreias interessantes como é o Grand Colombier e o monstro Col de Loze. O tradicional CRI irá aparecer apenas ao penúltimo dia e termina com a cronoesclada a La Planche de Belles Fines. Com tanta montanha e com um CRI destas características será que Tibhaut Pinot se consegue intrometer na luta entre a Team Ineos e Team Jumbo-Visma e dar a maior alegria desportiva aos franceses? É que o povo gaulês anda sedento de vitórias e a desesperar por quebrar um jejum de 35 anos. 

Vamos a isto? Que “corra tudo bem “ !!!

O PERCURSO

O percurso da 107ª edição do Tour de France é um dos mais montanhosos dos últimos anos. De Nice a Paris serão 23 dias (2 de descanso) e percorridas 65 contagens de montanha. Aos tradicionais Pirenéus e Alpes (2 vezes) iremos na edição “especial “de 2020 ao Maciço Central e também à região da cadeia montanhosa do Jura. Apesar de montanhoso, ficam de fora algumas das montanhas mais famosas do Tour de France e que tradicionalmente aparecem quase todos os anos. Uma aposta arriscada mas que era necessária e só saberemos o seu sucesso no dia 20 de setembro quando o pelotão da Grande Boucle terminar a última etapa nos Champs- Elysées.

Serão 23 dias, 21 etapas num total de 3484km distribuídos da seguinte forma:

- 9 etapas planas;

- 3 etapas acidentadas “rompe pernas”.

- 8 etapas de montanha com 4 chegadas em alto: Orciéres – Merlette ; Puy Mary Cantal ; Grand Colombier e Col de La Loze

- 1 contrarrelógio individual (com chegada a La Planche des Belles Filles)

 Ver percurso completo aqui.

Resumo das etapas: 

1ªetapa: Nice-Nice, 156km, plano
2ªetapa: Nice – Nice, 186km, montanha
3ªetapa: Nice – Sisteron, 198km, plano
4ªetapa: Sisteron – Orcières-Merlette, 160,5km, acidentado
5ªetapa: Gap – Privas, 183km, plano
6ªetapa:  Le Teil – Mont Aigoual, 191km, acidentado

7ªetapa: Milau – Lavaur , 168km, plano
8ªetapa: Cazères-sur-Garonne - Loudenvielle, 141km, montanha
9ªetapa: Pau – Laruns , 153km, montanha

1ºdia de descanso

10ªetapa: Ile d´Oléron – Ile de Ré, 168,5km , plano
11ªetapa: Châtelaillon-Plage – Poitiers , 167,5km, plano 
12ªetapa: Chauvigny – Sarran Corrèze , 218km, acidentado
13ªetapa: Châtel Guyon – Puy Mary Cantal, 191,5km, montanha 
14ªetapa: Clermont – Ferrand – Lyon , 194km, plano
15ªetapa: Lyon – Grand Colombier , 174,5km, montanha


2ºdia de descanso

16ªetapa: La Tour-du-Pin – Villard de Lans, 164km, montanha
17ªetapa: Grenoble – Méribel ( Col de la Loze ) , 170km , montanha
18ªetapa: Méribel – La Roche-sur-Foron , 175km, montanha
19ªetapa: Bourg-en-Bresse – Champagnole , 166,5km, plano
20ªetapa: Lure – La Planche des Belles Filles , 36,2km, CRI
21ªetapaMantes-La-Jolie - Paris Champs Elysées, 122km , plano

ETAPA 1 - Nice-Nice, 156km, plano, 29 agosto

O Tour de France de 2020 arranca na cidade mediterrânea de Nice. É a segunda vez que a “ Grand Depart “ acontece na “cidade do Sol” . Em 1981 Bernard Hinault venceu o prólogo inicial. Desta vez serão 156km de ida e volta até Nice. Pelo meio estarão 3 voltas ao redor da cidade com duas passagens pela linha de meta. A Côte de Rimiez aos 48km (5,8km a 5,1%, 3ª cat ) é a primeira dificuldade montanhosa da Grande Boucle de 2020, repetindo-se ao km 97. Os últimos 30km são planos, mas pelo sobe e desce anterior certamente não irão proporcionar um sprint típico de primeira etapa de Tour. Quem sairá com a 1ª camisola amarela depois de terminada a etapa no bonito Passeio dos Ingleses? Pode ser um bom dia para ciclistas que gostam de atacar de longe. Será que vamos ter o primeiro carimbo de Thomas de Gendt com a sua tradicional fuga? Se a etapa for discutida ao sprint é provável ver na frente homens como Peter Sagan, Matteo Trentin, Wout van Aert ou Greg van Avermaet. 

ETAPA 2 - Nice – Nice, 186km, montanha, 30 agosto

A edição 107 do Tour de France traz-nos a primeira contagem de montanha de 1ª Cat logo ao segundo dia. Outra vez uma etapa com partida e chegada a Nice. São 186km numa etapa muito parecida com o último dia do Paris-Nice. É a primeira oportunidade para os trepadores do pelotão serem os principais protagonistas e é muito provável que a camisola amarela mude de dono no final do dia. Os primeiros 45km são relativamente planos e sem grandes dificuldades. Apartir daí a estrada ganha relevo e até ao final não haverá terreno direito. O Col de Colmiane (16,3 km, 6,3% , 1ª cat )  começa aos 46km de etapa levando o pelotão aos 1500m de altitude. É a terceira vez que o Col de Colmiane ou Col de Saint Martin marca presença na principal prova de ciclismo. O último ciclista a conquistá-lo foi o belga Lucien Van Impe no ano de 1975. Depois da longa descida o pelotão deverá estar reduzido e será assim que irá enfrentar o difícil Col de Turini (14,9km , 7,4% , 1º Cat ) com rampas a passar dos dois dígitos. O Col de Turini é conhecido do pelotão internacional, é um “habitué” do Paris-Nice. Em 2019 foi Daniel Martinez o primeiro a passar os 1607metros de altitude. Os cerca de 50km de descida levarão o que resta do pelotão até ao nível do mar e de regresso a Nice. Segue-se o famoso Col d’ Èze (7,8km, 6,1% , 2º cat) que termina a 33km da meta e deverá ser o palco das maiores decisões para o desfecho final. De volta a Nice , uma passagem pela meta no Passeio do Ingleses, e última dificuldade do dia: Col des Quatre Chemins ( 5,5km, 5,5%) que não é mais que parte da subida ao Col d´Éze. Quem por lá passar nas primeiras posições receberá um bonús de 8s, 5s e 2s, respectivamente. A descida final de 9km até Nice será alucinante e rápida. Este é um dia que tanto pode dar para ciclistas que gostam de atacar em terreno montanhoso, como para os homens candidatos à geral individual. O segundo dia de competição será a primeira batalha entre os tubarões do pelotão ou um dia perfeito para homens de barba rija que não viram a luta a uma boa escalada e uma descida vertiginosa: Julian Alaphilippe , Matej Mohoric, Pavel Sivakov e Thomas de Gendt .

Será certamente uma grande etapa!

ETAPA 3 - Nice – Sisteron, 198km, plano, 31 agosto

Depois de deixar os ares perfumados de Nice o pelotão ruma aos Alpes-de-Haute- Provence percorrendo a rota de Napoleão. Será um dia bastante mais calmo que os anteriores, mas mesmo assim terá cerca de 3100m de desnível acumulado e quatro contagens de montanha:  três de 3ª cat e uma de 4ª cat. O final na vila histórica de Sisteron será plano com vista para a sua imponente cidadela erguida num penhasco. As equipas com os melhores sprinters não deverão deixar passa esta oportunidade até porque não haverão muitas etapas a terminar em sprint. Caleb Ewan, Elia Viviani, Sam Bennett, Nicolo Nizzolo ou Peter Sagan serão os principais favoritos a vencer.


ETAPA 
4 - Sisteron – Orcières-Merlette, 160,5km, acidentado, 1 setembro



Ao quarto dia chega a primeira chegada em alto do Tour de France numa etapa quase toda percorrida nos Haute-Alpes. Apesar de ondulante os 160,5km de extensão de Sisteron até Orcières – Merlette não trazem muitas dificuldades e por isso o pelotão deverá ser numeroso quando enfrentar os últimos 7km de corrida. A subida final para a estância de ski de Orcières- Merlette é de primeira categoria (7,1km, 6,7% 1ª cat ) , tem inclinações regulares e por isso não deverá provocar grandes diferenças entre os favoritos a vencer o Tour de France. A última vez que o Tour chegou a Orcières – Merlette foi em 1989 com um contrarrelógio individual ganho pelo holandês Steven Rooks. Apesar de dia importante o final da etapa 4 deverá sorrir a quem tiver mais pernas para sprintar num reduzido grupo de ciclistas, seja entre os fugitivos do dia, seja entre os candidatos à camisola amarela.

ETAPA 5 - Gap – Privas, 183km, plano, 2 setembro


A Cidade de Gap, no sopé dos Alpes, é uma das chegadas mais tradicionais no Tour de France e é também um local fetiche para o ciclismo nacional . Em Gap Sérgio Paulinho venceu em 2010 e Rui Costa repetiu o êxito em 2013. Mas desta vez Gap será o palco de partida de uma etapa de 183km maioritariamente planos, apenas duas contagens de montanha de 4ª cat : Col de la Serre de Colon ( 4,1km , 3,7% , 4ª cat ) e Côte de Saint-Vincent-de- Barrés ( 2,7km , 4,2%, 4ª cat ) e onde a principal dificuldade do dia poderá ser o vento quando o pelotão passar pelo vale do Ródano e provocar as famosas “bordures”. Em Privas, a capital do creme dos marrons franceses, a chegada será inédita e em falso plano. Por isso é preciso potência para levar de vencido um pelotão inteiro. A etapa pode também proporcionar um ataque de um puncheur à entrada do último km e por isso os principais candidatos a vencer é Peter Sagan e Wout van Aert.


ETAPA 6 -   Le Teil – Mont Aigoual, 191km, acidentado, 3 setembro


O Tour de France entra no Maciço Central pela sua parte mais a sul. De Teil a Mont Aigoual serão percorridos 191km em terreno praticamente plano até à entrada para o ultimo terço da etapa. Por volta do km 155 o cenário é outro. Serão praticamente 34km sempre a subir. Uma subida dividida em 3 etapas. O Col des Mourèzes ( 6km, 4,8%, 3ª cat ) inaugura o terreno montanhoso mas depressa o pelotão chegará à parte mais difícil da etapa. O Col de la Lusette (11,7km, 7,3%, 1ª cat ) terá rampas a mais de 10% de inclinação e será o palco perfeito para os principais ataques do dia. Quem por lá passar nas primeiras posições recebe a respectiva bonificação de tempo. Do Col de la Lusette , que nunca foi ultrapassado no Tour de France , até à meta em Mont Aigoual são 14km e os últimos 8km serão sempre em subida com a pendente média de 4%. O cenário desta etapa é uma incógnita. Apesar de não ser a mais difícil das etapas, os 34km sempre a subir poderão provocar estragos importantes entre os candidatos. Os quilómetros finais do Col de la Lusette apresentam uma pendente média de 10% e serão um bom momento para uma “pequena” guerra entre os favoritos a chegar de amarelo a Paris. Alguém que descole nas rampas mais difíceis e com cerca de 14km para a meta pode perder tempo irrecuperável. Se tivéssemos que colocar as fichas todas num único ciclista, esse homem seria Tadej Pogacar

Um dia que promete!

ETAPA 7 - Milau – Lavaur , 168km, plano, 4 setembro

A etapa 7 percorre a região de Aveyron e Tarn , o que significa que os 168km serão sempre em terreno ondulado. Isso acontecerá até o pelotão chegar a Castres com 124km percorridos. O início em Milau e as dificuldades no terreno serão perfeitas para a formação da fuga do dia que pode conquistar vantagem suficiente para chegar com sucesso a Lavaur. Os últimos 40km da etapa serão mais planos e o vento, muito famoso nesta região de França, pode provocar estragos no pelotão. Em 2011 foi Mark Cavendish que venceu em Lavaur e em 2020 é provável que seja outro sprinter a levar a etapa 7 do Tour de France 2020. Não é de descartar o sucesso da fuga formada na parte mais acidentada da etapa.

 ETAPA 8 - Cazères-sur-Garonne - Loudenvielle, 141km, montanha, 5 setembro


Depois da região sul dos Alpes e do Maciço Central o pelotão ataca os Pirenéus. Dupla jornada pirenaica onde os favoritos a vencer o Tour terão um papel de destaque. A etapa 8 é a típica jornada dos Pirineus nos últimos anos. Distância relativamente curta, chegada a descer, mas muita dificuldade pelo meio. Nos últimos 100km teremos três contagens de montanha: duas de 1ª cat e uma de categoria especial. Um dia bastante dinâmico e que promete ser explosivo. Os primeiros 40km serão relativamente planos e indicados para a formação da fuga do dia. A primeira dificuldade do dia é o Col de Menté (6,9km , 8,1%, 1ª Cat ) com rampas iniciais de 15% de inclinação. Em 2018 foi Julian Alaphilippe o primeiro a passar nos 1340m de altitude do Col de Menté. 28km depois a primeira contagem de montanha de categoria especial do Tour: o Port de Balés (11,7km, 7,7% , Cat Esp. ). Descida de 14km e nova subida desta vez ao famoso Col de Peyresourde ( 9,7km, 7,8%, 1ª Cat ) .A par do Col du Tourmalet , o Peyresourde é uma das subidas mas famosas e conhecidas do Tour de France . Desde 1910 que marca presença assídua no percurso e em 2020 a ascensão será feita por Saint-Aventin. Foi apelidado por Jean Marie Leblanc como o “tapete de musgo “ e já falamos nele neste nosso artigo. Depois de ultrapassados os 9,7km do Col de Peyresourde serão 10km até à meta instalada em Loudenvielle que recebe pela quarta vez uma etapa da Grande Boucle. Este primeiro dia nos Pirenéus, apesar das grandes dificuldades montanhosas, pode ser decidido nos pormenores das grandes descidas. Os 10km de descida de Peyresourde até Loudenvielle serão alucinantes e os eslovenos Tadej Pogacar e Primoz Roglic em conjunto com o francês Julian Alaphilippe serão candidatos a vencer.

ETAPA 9 - Pau – Laruns, 153km, montanha, 6 setembro



A etapa antes do dia de descanso será sempre uma das mais importantes numa competição de 3 semanas. Todos os favoritos querem sair de amarelo para o primeiro repouso depois de 9 dias de intensa competição. A cidade de Pau é a localidade mais visitada no Tour de France. Em Pau já começaram 54 etapas e foi palco de 52 finais de etapas.  Foi aqui que o ano passado Julian Alaphilippe surpreendeu e colocou um país a sonhar ao vencer o contrarrelógio individual. Até Laruns serão 153km e pelo meio 5 contagens de montanha, três acima dos 1000m de altitude. As grandes dificuldades começam ao km 58 com o início da subida a Col de Hourcère (11,1km, 8,8%, 1ª Cat ) onde por diversas vezes as inclinações irão ultrapassar os dois dígitos. Apesar de estar próximo de Pierre Saint – Martin, o Col de la Hourcère terá a sua estreia este ano no Tour de France. Uma breve descida e nova contagem de montanha. O Col de Soudet (3,8km , 8,5%, 3ª Cat ) chega aos 1540m de altitude e é o ponto mais alto da etapa. A longa descida do Col de Soudet levará os ciclistas a uma zona de sobe e desce até que a 27km da meta começa a derradeira dificuldade. É o Col de Marie Blanque (7,7km, 8,6% , 1ª cat ) com a sua fase inicial bastante acessível mas os últimos 4km serão terríveis e com uma média a rondar os 12,5% de percentagem média. É aqui que deverão surgir os ataques para a vitoria em Laruns que acontecerá depois de uma rápida descida de 7km. O percurso era outro, mas em 2018 Primoz Roglic atacou na descida do Aubisque e vence em Laruns. Conseguirá fazer idêntico em 2020? Tal como o dia anterior, a etapa 9 pode dar para os homens da geral, mas também para ciclistas que gostam de atacar de longe. Thomas de Gendt , estás ai ?

 ETAPA 10 - Ile d´Oléron – Ile de Ré, 168,5km, plano, 8 setembro

Depois do descanso teremos uma etapa que irá ligar duas ilhas (inédito). Da Ile d´Oléron à Ile de Ré serão 168,5km sempre planos. A altitude mais elevada na etapa 10 será de 34m. Sempre junto ao mar o pelotão tem como principal dificuldade o vento que pode vir do oceano Atlântico. Na Ile de Ré o pelotão passará perto do Fort Boyard , famoso pelo programa de TV , mas todo o percurso é histórico : Royan, Rochefort e la Rochelle. Se o vento fizer das suas, dias como este poderá fazer mais estragos que uma etapa de montanha. Mas mesmo assim serão os homens mais rápidos do pelotão a discutir a vitória na Ile de Ré em Saint Martin de Ré.


ETAPA 11 - Châtelaillon-Plage – Poitiers , 167,5km, plano, 9 setembro

De Châtelaillon-Plage a Poitiers serão 167,5Km planos. O pelotão deixa o Atlântico e ruma para o interior. Nesta etapa apenas uma contagem de montanha de 4ª cat. A fuga do dia será naturalmente neutralizada perto do fim pelas equipas com sprinters com ambição de vencer em Poitiers. Aqui venceu Sean Kelly no Tour de 1978 e também Arnaud Demare em 2014 quando se sagrou campeão nacional.

ETAPA 12 - Chauvigny – Sarran Corrèze , 218km, acidentado, 10 setembro

Finalmente uma etapa a passar os 200km. A ligação entre Chauvigny e Sarran Corrèze e os seus 218km é a etapa mais longa da edição do Tour de 2020. É uma etapa de homenagem. Ao km 114 o pelotão irá passar em Saint- Leonard de Noblat , terra natal do eterno segundo Poupou. Raymond Poulidor, o ciclista do povo, faleceu no passado dia 13 novembro de 2019. Os últimos 50km serão acidentados e os que provocarão estragos a um pelotão que já deverá apresentar fadiga nas pernas. A Suc au May ( 3,8km , 7,7% , 3ª Cat ) será a contagem de montanha de maior dificuldade e depois de ultrapassada depressa estaremos na meta em Sarran onde em 2001 Jens Voigt venceu com 20 minutos de vantagem para o pelotão. Devido à extensão e também ao percurso acidentado dos últimos km é muito provável que a fuga consiga vingar neste longo dia de Tour de France.

 ETAPA 13 - Châtel Guyon – Puy Mary Cantal, 191,5km, montanha, 11 setembro


De volta ao Maciço Central com uma etapa de 191,5km que ligará duas estreias no Tour de France: a vila termal de Châtel Guyon a Puy Mary Cantal. Um longo e decisivo dia com 7 contagens de montanha e com 4400m de desnível acumulado, o mais elevado neste Tour de France. Châtel Guyon fica situada no departamento de Puy de Dôme. A famosa subida que imortalizou o duelo entre Raymond Poulidor e Jacques Anquetil (ver aqui). A etapa é um “serrote” que só é plano até aos 25km. A primeira dificuldade do dia é o Col de Ceyssat (11,8km, 5,9%, 1ª cat ) que apenas foi ultrapassado na principal prova de ciclismo em 1951 por Raphael Géminiani. Segue-se um percurso muito acidentado, várias contagens de montanha de 3ª Cat e de 2ª Cat até que a etapa chegará aos seus últimos 15km concentrando aí as duas principais dificuldades. O Col de Neronne ( 3,8km, 9,1%, 2ª Cat ) levará os ciclistas a uma altitude de 1242m. Curto e muito explosivo o Col de Neronne deverá provocar estragos irreparáveis entre o grupo dos mais fortes até porque depois de um pequeno planalto e de uma breve descida começará a derradeira subida do dia. A estreia do vulcão Puy Mary (5,4km, 8,1%, 1ª Cat ) onde os seus primeiros 3km a média de inclinação ronda os 5% mas os últimos 2,4km da etapa serão sempre acima de 11%. Quem reservar mais forças e explosão na parte final da etapa terá mais hipóteses de sucesso. Porventura o dia mais difícil do Tour de 2020, o dia onde se fará diferenças entre os favoritos. Resta saber se eles vão lutar pela vitória da etapa se lutarão apenas pela luta do tempo.

Que grande dia de ciclismo!


ETAPA 14 - Clermont – Ferrand – Lyon, 194km, plano, 12 setembro

Quase 200km num dia que parece ser uma clássica. Com um final ao estilo da Milano-Sanremo a etapa 14, tal como o Monumento italiano, pode ser vencida por um sprinter ou por um puncheur mais audaz. Toda a ação estará reservada para o traçado citadino de Lyon onde o pelotão nos últimos 15km irá enfrentar duas contagens de montanha de 4ª Cat e uma rampa não categorizada. A Côte de la Duchère (1,4km, 5,6%, 4ª cat ) será a primeira inclinação onde a corrida vai ser acelerada. Segue-se a Montée de l’Observance - 500 metros a 10% e por fim a Côte de la Croix-Rousse (1,4km, 4,5%, 4ª Cat). Nesta fase da corrida os puncheurs vão entrar em açao para descartar os homens mais rápidos e impedir uma chegada em pelotão compacto. Em 2013 Matteo Trentin , integrado num pequeno grupo que se isolou do resto do pelotão, venceu a sua primeira etapa no Tour de France.

ETAPA 15 - Lyon – Grand Colombier , 174,5km, montanha, 13 setembro



A cordilheira do Jura será o palco principal da etapa 15. O Tour de France caminha para a sua última semana e entre os favoritos esta etapa pode ser bastante importante para recuperar tempo perdido ou para alargar vantagens. A saída de Lyon em direcção ao Grand Colombier (que se estreia no Tour de France) será feita em terreno plano durante os primeiros 100km de etapa. Depois o pelotão irá enfrentar o Grand Colombier por 3 vezes, em 3 das 4 subidas possíveis. A última coincide com a meta e sobe ao cume de um dos pontos de referência do Jura. A primeira subida é o Montée de la Selle Fromentel (11,1km, 8,1%, 1ª Cat) onde os últimos 3km vão fazer a razia no pelotão e talvez nalguns dos principais ciclistas do Tour de France. Aqui as inclinações são incríveis: 11,5%, 14,5% e 12,5% respectivamente. Há rampas de 22% de inclinação máxima. Segue-se uma breve descida e nova subida ao Grand Colombier , desta vez até ao Col de la Biche ( 6,9km, 8,9%, 1ª Cat). Por fim, a subida será mesmo até ao cume. De Culoz ao Grand Colombier (17,4km, 7,1% , Cat esp ) são 17 longos quilómetros onde no Tour de Ain em 2019 Thibaut Pinot venceu e este ano na mesma prova foi a vez de Primoz Roglic impor a sua lei. A etapa não será decisiva, mas vai descartar alguns candidatos a vencer o Tour. Os protagonistas das 3 ascensões ao Grand Colombier serão os homens mais fortes do pelotão. Será que vamos ter um domínio da Team Jumbo-Visma tal como aconteceu recentemente no Tour de Ain?


ETAPA 16 - La Tour-du-Pin – Villard de Lans, 164km, montanha, 15 setembro

A etapa 16 é totalmente percorrida em Isère, ou seja, na região norte dos Alpes e os 164km entre La Tour-du-Pin e Villard de Lans contemplam 5 contagens de montanha. O terreno será perfeito para no Col de Porte (7,4km, 6,8%, 2ª Cat ) a fuga do dia ganhar forma e ser consolidada na montanha seguinte: o Col de Revel ( 6km, 8%, 2ª Cat) que será percorrido no Tour pela primeira vez. A longa descida de 20km levará o pelotão ao inicio da principal dificuldade montanhosa do dia: La Montée de Saint-Nizier-du-Moucherotte (11,1km, 6,5%, 1ª Cat). Depois de conquistada estamos a 20km da meta onde os últimos 2,2km são em subida a 7,9% de inclinação média até chegar à estação de ski de Villard de Lans. Villard de Lans é local de eleição para Pedro Delgado. Aqui venceu a etapa em 1987 e repetiu o êxito no ano seguinte num contrarrelógio individual onde o espanhol consolidou a sua camisola amarela que levaria vestida até Paris. Mas em Villard de Lans outros nomes bem conhecidos já ergueram os braços a festejar: Erik Vanderaerden (1985); Laurent Fignon (1989); Erik Breukink (1990) e Lance Armstrong (2004) mas como sabemos esta vitória não contou 😊. A estes nomes quem se vai juntar em 2020? A etapa é alpina, mas não traz com ela as subidas míticas desta cordilheira. Tem um final explosivo que assenta bem a puncheurs se lá conseguirem chegar, mas como entramos na última semana de Tour quem triunfará em Villard de Lans deverá ser um dos primeiros classificados da geral individual. Nesta etapa muita atenção ao planalto entre o final de La Montée de Saint-Nizier-du-Moucherotte e o início da subida final para Villard de Lans pois o vento poderá fazer estragos.

ETAPA 17 - Grenoble – Méribel (Col de la Loze ) , 170km , montanha, 16 setembro




Os 170km entre Grenoble e Méribel trazem a maior novidade do Tour 2020. Ao chegar à estação de ski de Méribel os 6km seguintes foram pavimentados e o pelotão chegará pela primeira vez ao Col de la Loze. Mas as novidades nesta etapa alpina não terminam por aqui. O Col de la Madeleine já foi percorrido 27 vezes no Tour de France, mas a subida por Notre-Dame-du-Cruet é inédita. A distância de subida é a mais curta, mas a percentagem média de inclinação a mais elevada. O Col de la Madeleine (17,1km, 8,4%, Cat esp) tem as rampas mais inclinadas a 10% logo no seu início e deverá ser o palco de quem está disposto a atacar forte a corrida para minimizar perdas em dias anteriores. A subida final ao monstruoso Col de la Loze (21,5km, 7,8%, Cat esp) levará os ciclistas aos 2304m de altitude o que significa que teremos o “Souvenir Henri Desgrange”, ou seja , o prémio a quem passar em primeiro o troço de estrada a maior altitude. Mas no Col de La Loze as contas serão mesmo para a geral individual. É pouco provável que nesta etapa a fuga consiga vingar a não ser que apareça nos escapados um homem que ainda esteja a lutar por um lugar de destaque neste Tour de France. Assim ao jeito de Warren Barguil em 2017.


ETAPA 18 - Méribel – La Roche-sur-Foron , 175km, montanha, 17 setembro



É a última oportunidade para os trepadores e também para todos aqueles que querem subir na geral individual, mas que não se dão bem com o contrarrelógio individual. A última etapa de alta montanha (4000m de desnível acumulado) é uma jornada típica percorrida nos Alpes. Um sobe e desce constante de 175km na fronteira francesa com a Suiça e Itália. Serão 5 contagens de montanha, mas o final será em descida em La Roche-sur-Foron que recebe pela primeira vez a festa do Tour de France. Depois de anulada a sua subida em 2019 devido às condições climatéricas, este ano teremos então o Cornet de Roseland (18,6km, 6,1%, 1ª Cat ) a abrir as hostilidades do dia alpino. Rapidamente o pelotão, provavelmente já com algumas mexidas chegará ao Col des Saisies ( 14,6km, 6,4%, 2ª Cat ). Uma subida longa, mas com pendentes mais suaves que não vão provocar grandes estragos no pelotão mais numeroso. Descida de 20km e nova dificuldade. Desta vez ao conhecido Col des Aravis (6,7km, 7%, 1ª Cat) que já foi palco de inúmeras passagens no Tour de France. Por lá passaram em primeiro nomes marcantes da modalidade: Gino Bartali em 1948, ano em que vence o Tour de France e evita uma guerra civil em Itália (ver aqui) ; Charly Gaul ( 1955); Lucien van Impe (1975) e Marco Pantani ( 2000). Nova descida de 20km e teremos a última contagem de montanha de categoria especial no Tour 2020. A parede do Montée du Plateau des Glières (6km, 11,2%, Cat esp). Não basta as dificuldades de inclinação que raramente vão baixar dos 2 dígitos, como no final dos 6km de ascensão teremos 2km de estrada não asfaltada. O Plateau de Glières é um local de visita obrigatória para quem queira conhecer a história da Resistência Francesa. Antes de descer para La Roche-Sur-Foron , conhecida por ser uma das primeiras vilas da Europa a ter energia eléctrica, ainda teremos o Col des Fleuries (5,5km, 4,6% ) subida não categorizada. Os últimos 10km serão sempre em descida até à meta. Neste dia espera-se uma luta intensa entre os grandes nomes do Tour de France 2020. 


ETAPA 19 - Bourg-en-Bresse – Champagnole , 166,5km, plano, 18 setembro

Antes do decisivo contrarrelógio individual uma etapa para recuperar as forças e que será uma boa oportunidade para os sprinters que ainda restam no pelotão do Tour 2020. De Bourg-en-Bresse rumamos a norte até Champagnole, a “pérola do Jura”. Uma distância de 166,5km de terreno ondulado onde apenas teremos uma contagem de montanha de 4ª Cat. O dia será dos sprinters e as suas equipas não vão deixar que a fuga tenha sucesso. Os favoritos aos lugares cimeiros da geral individual terão a cabeça no grande dia do contrarrelógio individual.


ETAPA 20 - Lure – La Planche des Belles Filles , 36,2km, CRI, 19 setembro


As lutas pelos lugares na classificação geral individual terminam com um contrarrelógio individual de 36,2km entre Lure e La Planche des Belles Filles. Estamos nos Vosges e La Planche des Belles Fines (5,9km , 8,5%, 1ª Cat ) aparece no final de um CRI que , se as diferenças de tempo entre os favoritos forem pequenas, pode mudar drasticamente o desfecho do Tour de France 2020. A subida a la Planche des Belles Fines “nasceu “tarde para o Tour de France, mas sempre que apareceu foi marcante, muito devido às terríveis rampas finais da escalada que rodam os 20%. Chris Frome , um dos principais ausentes do Tour deste ano, foi o primeiro a vencer em 2012. Vicenzo Nibali ganhou em 2014 e o compatriota Fabio Aru em 2017.  O ano passado foi a vez do belga Dylan Teuns conquistar a sua mais brilhante vitoria. Aru é o único ciclista presente no Tour 2020 que sabe o que é vencer no local onde reza a lenda, “belas raparigas “fugiram da guerra dos 30 anos com medo de serem massacradas. Não se renderam, mas fugiram para o monte e suicidaram-se saltando de um penhasco para o lago. Sendo a última batalha para a camisola amarela saem favorecidos os dois principais nomes da Team Jumbo Visma: Primoz Roglic e Tom Dumoulin. Alguém consegue intrometer-se na luta entre os homens da equipa holandesa?

ETAPA 21 - Mantes-La-Jolie - Paris Champs Elysées, 122km, plano, 20 setembro

Dia de consagração de um Tour de France “especial “dadas as circunstâncias que vivemos. A etapa 21 é para celebrar a glória dos vencedores, mas também para enaltecer o esforço de todos aqueles que conseguiram chegar a Paris depois de 3 semanas de intenso esforço. A festa não vai ser como nos outros anos e os Champs Elysées vão estar despidos quando o pelotão percorrer por 8 vezes o tradicional circuito final da Grande Boucle. Assim esperamos. Não será o final que todos gostamos mas Elysées é a palavra francesa para Elyseum que em grego significa “local de descanso” e é justamente isso que quer todo o pelotão que percorreu os 3484km colocando um ponto final no maior evento desportivo anual. Vamos esperar que o final do Tour 2020 seja mesmo nos Champs Elysées. 

Bonificações e Pontos Bónus

Além das tradicionais bonificações no final de cada etapa para os três primeiros classificados de, respetivamente, 10s, 6s e 4s, pelo terceiro ano consecutivo haverá pontos bónus distribuídos nalgumas das principais subidas da edição 2020 do Tour de France. Serão atribuídos aos 3 primeiros a passar as dificuldades montanhosas: 8s; 5s e 2s. Foi desta forma que o italiano Giulio Ciccone ficou com a camisola amarela em 2019 no final da etapa em la Planche des Belles Filles.

Pontos Bónus no Tour 2020:

2ª etapa – Col des Quatre Chemins (a 9km da meta)

6ª etapa – Col de la Lusette (a 13,5km da meta)

8ª etapa - Col de Peyresourde (a 11,5km da meta)

9ª etapa - Col de Marie Blanque (18,5km da meta)

12ª etapa – Suc au May (a 25,5km da meta)

13ª etapa – Col de Neronne (a 11km da meta)

16ª etapa – Saint-Nizier-du-Moucherotte (a 20,5km da meta)

18ª etapa – Plateau des Glières (a 31km da meta) 

PELOTÃO 2020

São 22 equipas que irão estar na partida da 107ª edição do Tour de France. 176 ciclistas. Mantém-se a decisão de reduzir as equipas a 8 elementos. Inicialmente o pretexto era evitar o número de quedas, objectivo esse que, como sabemos, está longe de ser alcançado e muito dificilmente será atingido apenas com a redução do pelotão. Junta-se agora outro objectivo: menos ciclistas significará sempre menor risco de contágio se pensarmos numa infecção respiratória como a Covid-19.  Além de todas as equipas WorldTour, a ASO, organizadora da competição, entregou o convite dourado a 3 equipas Pro Team. A escolha, como era de esperar e como tem sido hábito, recaiu na totalidade em equipas francesas: Team Total Direct Energie, Team-Arkéa Samsic e B&B Hotels - Vital Concept p/b KTM. 


Quanto à participação de portugueses teremos apenas Nelson Oliveira que irá fazer o seu quinto Tour de France ao serviço dos espanhois da Movistar Team. 

AG2R LA MONDIALE

A pandemia de Covid-19 trocou as voltas a meio mundo. Ao líder dos franceses da AG2R também. Estamos a falar de Romain Bardet. O ciclista de Brioude tinha como objetivo principal da temporada atacar o Giro de Itália no mês de maio mais isso não foi possível pelas razoes que todos conhecemos. Assim, não havia volta a dar e o ciclista de 29 anos irá fazer o seu 8º Tour de France. Bardet fez pódio em 2016 ( 2º classificado ) e 2017 ( 3º classificado) e o ano passado foi o melhor trepador da prova. Dificilmente alcançará estes resultados e tem o companheiro Pierre Latour para plano B de Vicent Lavanu de ataque a um lugar de destaque na geral individual. Latour , o melhor jovem em 2018 , falhou por pouco um ambicionado top 10 em 2019 ao terminar na 13ª posição. É um ciclista bastante completo. Bom trepador, fez 4º lugar há pouco tempo no Mont Ventoux Dénivelé Challenge ,  mas também um bom rolador tendo sido já por duas vezes campeão nacional de contrarrelógio. Para ajudar os dois líderes da AG2R teremos o experiente Mikael Cherel, o ex campeão do mundo sub 23 Benoît Consefroy, Nans Peters que se vai estrear no Tour e também Alexis Vuillermoz. Vuillermoz, que já sabe o que é ganhar uma etapa na Grande Boucle, a par de Clement Venturini e Oliver Naesen poderá ser uma excelente opção para a equipa francesa atacar as etapas mais acidentados onde os puncheurs serão os protagonistas.

ASTANA PRO TEAM

Os homens comandados por Alexandre Vinokourov vão jogar em duas frentes para o mesmo ciclista. O colombiano Miguel Angel Lopez faz a sua estreia na principal prova de ciclismo e ambiciona um bom resultado. Excelente seria repetir os pódios do Giro e Vuelta de 2018 onde foi 3º classificado. Os resultados alcançados este ano não tem sido famosos. Destaca-se a vitória no Alto do Malhão e o terceiro lugar na prova algarvia. Este é o plano A para “ Superman" Lopez. O plano B será a camisola branca as bolinhas vermelhas. Num Tour com tanta montanha, um trepador de excelência como Miguel Angel Lopez e se estiver fora dos primeiros lugares da geral individual será sempre uma boa aposta para subir ao pódio no dia 20 de setembro em Paris. Assim, a estratégia dos homens de Vinokourov pode mudar ao longo da corrida e a Astana Pro Team tem equipa para várias opções. Os irmãos Izaguirre são ciclistas de todo o terreno, habituados a 3 semanas de elevada intensidade e se Miguel Angel Lopez precisar serão a sua linha da frente no combate pelos lugares cimeiros. Gorka e Ion podem “picar “ o ponto em etapas de elevada dificuldade onde os homens escapados terão sucesso. Luis Leon Sanchez que vem para o Tour super motivado com a sua vitória no campeonato espanhol de estrada e também o cazaque Alexey Lutsenko são as apostas da Astana Pro Team para as etapas acidentadas. Leon Sanchez já terminou num top 10 (2010) e já venceu 4 etapas, apesar de não saborear a vitória no Tour de France desde 2012. Para auxiliar Miguel Angel Lopez quando o terreno empinar teremos o experiente Omar Fraille. Será que o jovem Harold Tejada terá pernas para lutar por uma boa classificação da  camisola branca? De fora da equipa para o Tour de France ficaram os dois ciclistas em maior destaque neste retomar da competição: o russo Alexandre Vlasov que tem “voado” nos últimos tempos e o dinamarquês Jakob Fulgsang que venceu a edição 2020 da Il Lombardia. Ambos estarão presentes no Giro de Itália. 

BAHRAIN – MCLAREN

Finalmente Mikel Landa tem aquilo que desejava já há muito tempo. Uma equipa dedicada ao seu líder. E no Tour 2020 Mikel Landa é o líder da equipa do Bahrain à procura do pódio que falhou no Tour 2017 quando ficou na 4ª posição. Com altos e baixos na carreira e nem sempre consistente quer do ponto de vista desportivo quer também emocional, o basco procura no Tour 2020 o destaque na carreira que ainda não conseguiu na mais importante prova de ciclismo do mundo. A equipa comandada por Rod Ellingworth reforçou-se muita para esta temporada e parte desses reforços serão a guarda de honra de Mikel Landa. Pello Bilbao muda de “Astana para Bahrain” e será o braço direito de Landa. Ambos são bascos e regionalismos à parte a dupla poderá trazer bons resultados para os objectivos tanto de Landa como da própria equipa. Também o reforço Wout Poels ( ex Team Ineos ) com larga experiência de Tour será, se estiver em forma e aí lembramo-nos logo do episódio da "coca-cola”, uma ajuda preciosa para auxiliar Mikel Landa nas 8 etapas montanhosas. Outro reforço para a montanha será o espanhol Rafael Valls. O valenciano acompanhou Landa da Movistar Team até à Bahrain Mclaren. Por fim teremos o experiente Damiano Caruso, outro homem que pode ser importante na ajuda ao líder Landa. Mas não só de Mikel Landa vive a Bahrain Mclaren neste Tour. Há falta de Mark Cavendish para as etapas ao sprint o homem apontado para as etapas mais rápidas será o italiano Sonny Colbrelli que ainda não sabe o que é vencer numa grande prova por etapas. Por fim, Matej Mohoric , sendo um ciclista completo pode ser a aposta para os finais mais complicados, principalmente nas etapas com final em descida.

B&B HOTELS-VITAL CONCEPT

Bryan Coquard é o líder da equipa o que significa que a principal aposta da equipa serão as etapas mais rápidas e em pelotão compacto. Coquard parece estar em boa forma. O segundo lugar nos nacionais franceses e a forma como acompanhou Demare e Alaphilippe são bons indicadores para o francês. Quentin Pacher é um puncheur com alguma qualidade e o veterano Pierre Roland parece ter encontrado a boa forma mas mesmo assim não deverá ser suficiente para as performances de outros tempo. Roland vem de vencer o Le Tour de Savoie Mont Blanc. Os restantes elementos da B&B HOTELS-VITAL CONCEPT vão ser presenças habituais nas várias fugas ao longo das 21 etapas deste Tour de France.

BORA – HANSGROHE

Uma equipa bastante solida para todos os terrenos. Poucas podem dizer o mesmo.  Dois grandes objectivos para a equipa alemã: levar Peter Sagan à oitava camisola verde e o pódio para Emanuel Buchmann que foi quarto classificado em 2019.  Peter Sagan ainda não venceu em 2020 e ainda não tivemos o “Terminador” de outros anos. Mesmo assim e pelo percurso desde ano é o principal candidato a vencer mais uma vez a segunda mais importante camisola no Tour de France. A etapa 1, etapa 5 e a mini Milano – Sanremo (etapa 14) são a cara de Sagan e é provável que o número de 12 vitórias no Tour de France seja ultrapassado já este ano. Para ajudar Sagan a alcançar estes objectivos temos o seu fiel escudeiro: o "cadelhudo" Daniel Oss. Se não for pelos pontos atribuídos nos finais de etapas já sabemos que o eslovaco não terá qualquer problema em entrar nas fugas diárias, seja em terreno plano, acidentado ou até mesmo montanhoso. E por falar em montanha será que temos o vencedor do último Paris-Nice a lutar pela camisola de melhor trepador? Estamos a falar de Maximilian Schachmann , o completo ciclista alemão que este ano perdeu ao sprint para Evenepoel a etapa no Alto da Foia no Algarve. Mesmo que não lute pela camisola às bolinhas vermelhas, Schachmann pode ser uma boa ajuda para o segundo grande objetivo da Bora-Hansgrohoe: a geral individual de Buchmann. Esperamos que Schachmann esteja totalmente recuperado do estúpido acidente que sofreu na última Il Lombardia. Emanuel Buchmann abandonou o último Critérium du Dauphiné devido a queda, mas aparentemente o alemão está totalmente recuperado das mazelas no braço esquerdo. Os austríacos Felix Grosschartner e Gregor Muhlberger, em conjunto com Buchmann serão o “comboio “da Bora-hansgrohe nas etapas de montanha. O jovem Lennard Kamna é um dos principais candidatos a ser segundo na camisola branca de melhor jovem em competição. Sim, em segundo, porque essa camisola está guardada para o colombiano Egan Bernal. O jovem alemão sobe bem, como se viu na última edição do Critérium du Dauphiné onde ganhou a etapa que terminou em Mégève, mas também é um dos melhores homens na luta contra o relógio. Kamna pode surpreender no CRI com final em La Planche de Belles Filles.  

 CCC TEAM

Quem é o líder da equipa polaca que se despede este ano das grandes competições de ciclismo? Nós vamos arriscar a resposta! Greg van Avermaet. Deverá ser no campeão olímpico que a formação comandada pelo veterano e experiente Jim Ochowicz apostará as suas fichas. O percurso do Tour de France de 2020 tem algumas etapas onde o belga pode ter uma palavra a dizer. Estamos a falar de etapas acidentadas com características de clássica. Se correr muito bem para Avermaet, a CCC Team até poderá lutar pela camisola verde e ser uma concorrente da Bora-Hansgrohe e de Peter Sagan. Na formação polaca está o russo Ilnur Zakarin, que seria a aposta para a geral individual, mas o russo desde a vitória de etapa em 2016 nunca mais se impôs como um ciclista de 3 semanas e real candidato a vencer uma grande competição. Em 2020 Zakarin apenas competiu no UAE Tour logo no inicio da temporada e recentemente na Volta à Polónia e por isso a sua forma é uma incógnita. Alessandro de Marchi e Jan Hirt, que se vai estrear no Tour, serão a ajuda de Zakarin nas etapas montanhosas se o russo apresentar pernas para andar no pelotão da frente. Simon Geschke que venceu uma grande etapa em 2015 em Pra Loup é a ficha a apostar quando a CCC Team integrar a fuga em etapas de montanha.  Matteo Trentin pode embalar a CCC Team para um bom Tour de France se vencer a etapa 1 em Nice, um percurso que é a cara do italiano que já venceu 3 vezes em território francês.

 COFIDIS, SOLUTIONS CREDITS

Oito ciclistas e dois líderes. É assim que se apresenta a histórica formação francesa que desde 2008 não vence uma etapa no Tour de France. Os líderes são Guillaume Martin para um ambicioso Top 10, ele que foi 12º classificado em 2019 e o italiano Elia Viviani para vencer as poucas etapas que se irão disputar em pelotão compacto e ao sprint. Ambos são reforços da equipa de Cedric Vasseur para atacar o Tour de France. A evolução de Martin tem sido consistente e o trepador gaulês acompanhou os melhores no Paris-Nice ( 12º ) , no Mont Ventoux Dénivelé Challenge (3º) , no Tour de Ain ( 8º) e recentemente no Critérium du Dauphiné ( 3º). Para o auxiliar no objectivo Top 10 teremos Nicolas Edet e sobretudo Jesus Herrada. De todos os ciclistas da equipa apenas Elia Viviani sabe o que é vencer na maior e mais importante prova de ciclismo. O italiano mudou de ares, trocando a Wolfpack (Deceuninck-Quick Step) pelos franceses que porventura lhe darão mais possibilidades de discutir as vitórias discutidas ao sprint. Christopher Laporte será o escolhido para encaminhar Viviani até à linha de meta.

DECEUNINCK - QUICK-STEP

Desde a formação original, em 2001 com a dominação de Domo-Farm Frites, a Wolfpack de Patrick Lefevère já tem 40 vitórias em etapas, 3 melhores trepadores e 1 classificação por pontos. Dessas 40 vitórias 10% foram conquistadas por Julian Alaphilippe que foi a grande sensação do Tour 2019 ao fazer sonhar um país inteiro sedento de encontrar alguém para suceder a Bernard Hinault. Alaphilippe é o líder inequívoco da equipa, mas a sua estratégia durante as 21 etapas ainda é uma incógnita. O francês vai lutar pela amarela num percurso que durante a primeira semana o favorece e o CRI com final em Planche de Belles Fines não o prejudica? Ou por sua vez teremos o Alaphilippe de 2018, um “caça etapas” e porventura um dos candidatos à camisola branca com bolinhas vermelhas? Uma coisa é certa. Todo o pelotão marcará Loulou e repetir os 14 dias vestido de amarelo é uma tarefa que nos parece quase impossível. Outra opção da equipa belga para vencer é Sam Bennet. O irlandês trocou a Bora-hansgrohe pela Deceuninck-Quick Step e procura em 2020 a sua primeira vitória no Tour depois de já ter vencido no Giro e na Vuelta. O seu guia é o dinamarquês Markov e também o belga Tim Declercq. O checo Zdenek Stybar vencedor da etapa 6 do Tour de 2015 no muro de Le Havre, o novo campeão dinamarquês e vencedor da clássica Kurnne-Bruxellas-Kurnne 2020 Kasper Asgreen e o luxemburguês Bob Jungels são apostas importante para aumentar o número de vitórias da Wolfpack belga. Por falar em apostas, querem apostar que a Deceuninck- Quick Step vai vencer qualquer coisa neste Tour de France?

EF PRO CYCLING

A equipa de Jonathan Vaughters não vai ter o vencedor do Tour de France 2020, dizemos nós, mas é uma das formações mais homogéneas onde a qualidade é uma das característica comum a quase todos os 8 ciclistas que irão partir de Nice. Num conjunto de ciclistas onde estão Rigoberto Uran, Tejay van Garderen, Hugh Carty , Daniel Martinez, Alberto Bettiol e Sergio Higuita é difícil escolher quem será o líder da equipa americana. Uran já fez segundo lugar no Tour, em 2017, é o único ciclista que conhece o sabor da vitória no Tour, mas está longe da forma de outros tempos. A sua prestação no Critérium du Dauphiné foi modesta demais para as ambições do colombiano de 33 anos. Tejay van Garderen não atina em provas de 3 semanas, desiludindo sempre. Os dois quintos lugares no Tour de 2012 e 2014 prometeram muito, mas o norte americano nunca mais foi capaz de estar à altura das expectativas criadas em relação a sua carreira. Van Garderen é um habitué desistente depois do dia de descanso! Hugh Carty vai estrear-se no Tour no ano em que andou com os melhores trepadores no Tour de la Provence. Por não ser um dos “tubarões do pelotão poderá ter alguma liberdade para brilhar em etapas de alta montanha. Alberto Bettiol surpreendeu ao vencer o último Tour de Flanders e o italiano é um homem que se bate com os melhores em etapas muito movimentadas de constante sobe e desce não muito acentuado. Restam os 2 jovens colombianos. Sergio Higuita é um trepador com muitas potencialidades e este ano já fez pódio (terceiro lugar) no Paris-Nice. E Daniel Martinez que de forma surpreendente venceu o Critérium du Dauphiné. Sabemos que essa vitória se deveu muito devido às desistências de Bernal e Roglic, mas também sabemos que Martinez andou sempre na frente e quando foi preciso defender a sua liderança o colombiano disse: “presente”. É uma boa aposta para o Top 10 do Tour de France 2020.

GROUPAMA – FDJ

Se Thibaut Pinot vencer o Tour 2020, pondo fim a um jejum de 35 anos de ausência de vencedores franceses, entra de imediato para o lote de herói nacional e de lenda imortal. O ciclista da Groupama- FDJ é a melhor e mais real hipótese de Bernard Hinault ter um sucessor já neste Tour 2020. A forma como Pinot abandona o Tour 2019 quando era apontado como o principal favorito a vencer a prova partiu o coração a todos os adeptos de ciclismo. No entanto, abandonar o Tour de France não é novidade para o francês. Aconteceu nas 3 últimas participações: 2016, 2017 e 2019. O percurso montanhoso favorece-o e até o CRI na penúltima etapa passará à porta de sua casa. Uma boa oportunidade para Pinot se transcender e fazer sonhar um povo inteiro que ama ciclismo. Toda a equipa está montada para ajudar o francês a conquistar a camisola amarela. David Gaudu é o braço direito de Pinot. O último a abandonar o líder e se porventura algo de errado acontecer com Thibaut será Gaudu a assumir a liderança da equipa comandada por Marc Madiot. O suíço Sebastien Reichenbach , Rudy Mollard e Valentin Madouas serão os gregários onde Pinot irá depositar a confiança para o ajudar quando as coisas aquecerem no Tour 2020. Stefan Kung e William Bonnet o rolador e o sprinter da equipa, respetivamente. Agora ou nunca! Allez Allez Pinot.

 INEOS GRENADIER

Os britânicos dominaram as últimas edições do Tour de France ao ganhar 7 edições nos últimos 8 anos com Chris Froome, Geraint Thomas e Egan Bernal. De todos estes 3 homens, surpreendentemente, apenas Egan Bernal irá marcar presença no Tour 2020. Aliás, há uma grande curiosidade neste Tour 2020: dos 176 ciclistas presentes apenas Bernal já venceu a Grande Boucle. O colombiano é o detentor do título, um dos grandes favoritos a vencer e com as ausências de Geraint Thomas e Chris Froome é o único líder da equipa de Dave Brailsford. As ausências de Thomas de Froome não deixam de ser estranhas por um lado e naturais por outro. Era espectável que ex vencedores da Grande Boucle fizessem parte dos planos para a edição 2020. Mas Thomas, por falta de ritmo e aparentemente em baixo de forma como se viu no Crtérium du Dauphiné e no Tour de Ain e Froome porque provavelmente tem o pensamento na sua nova equipa, saíram das escolhas da equipa britânica para atacar a edição 107 do Tour. Não deixa de ser estranho a ausência de Froome. O ciclista nascido no Quénia perde mais uma oportunidade de se juntar ao lote dos imortais com 5 títulos. O ano passado falha a Grande Boucle por lesão, este ano por opção. Quando Froome fizer o Tour 2021 com a sua nova equipa, a Israel Start-Up Nation terá 36 anos…. É o virar da página da Ineos. O fim de um ciclo que a levou ao topo do ciclismo mundial e onde dominou a principal e mais importante prova de ciclismo. E Bernal terá a difícil tarefa e a responsabilidade de dar continuidade a esse sucesso. É curioso que o futuro da Ineos estará dependente de ciclistas que não são britânicos e isso é bem evidente no Tour 2020. Apenas o “road capitain “ Luke Rowe nasceu em terras de sua majestade. Para atacar o seu segundo Tour, Bernal conta com o russo Pavel Sivakov como principal ajuda. Os dois tem formado uma boa dupla nas provas que antecederam o Tour de France. Michał Kwiatkowski é talvez o melhor gregário do mundo e nunca o vimos virar as costas aos seus líderes numa prova de três semanas. O carácter do polaco funciona assim: sabe que é líder da equipa nalgumas provas durante o ano, mas para ganhar a confiança de todos dentro da equipa e quando a ordem é para trabalhar, Kwiatkowski veste o fato-macaco e poucos conseguem fazer melhor que ele. Nada tem a provar no pelotão internacional e nós como adeptos apenas temos a agradecer o prazer que é ver correr um ciclista como o campeão do mundo Michal Kwiatkowski. Richard Carapaz, que venceu de forma surpreendente o Giro 2019, é o plano B da Ineos Grenadier se alguma coisa de errado acontecer a Bernal. Mesmo com o plano A em açao, Carapaz tem qualidades para fazer um grande Tour, o seu primeiro, e estrear-se com um valioso Top 10. Andrey Amador que tal como Carapaz deixou a Movistar Team e Jonathan Castroviejo que andou muito bem na alta montanha no Critérium du Dauphiné e Tour de Ain serão elementos a ter em conta para o comboio da Ineos Grenadier. Para a equipa britânica o Tour de France é o inicio de um novo ciclo de vitórias com o líder Egan Bernal ou o fim da hegemonia no ciclismo mundial e a primeira derrota para a …Team Jumbo Visma ? A 20 de setembro, em Paris, logo responderemos a esta pergunta.

ISRAEL START-UP NATION

Será a estreia da equipa israelita no Tour de France e a primeira vez que o pelotão da Grande Boucle tem a presença de um ciclista israelita: Guy Niv. Mas a grande figura da equipa é Daniel Martin. O irlandês, que tem no palmarés três top 10 na prova francesa, não é dos principais candidatos aos lugares cimeiros da geral individual e por isso poderá ter alguma margem de manobra para tentar a sua sorte em etapas mais montanhosas. Martin sabe que o seu estatuto de líder irá acabar com a contratação de Christopher Froome e irá partir em Nice com a ambição e o desejo de ganhar redobrados. Para as etapas ao sprint teremos o veterano André Greipel que muito dificilmente conseguirá aumentar as 11 vitória no Tour que já tem no seu currículo. Ben Hermans pode ser uma aposta para integrar as fugas em etapas de alta montanha e Nils Polit um bom rolador que gosta de aproveitar o desnorte do pelotão nos últimos quilómetros das etapas mais rápidas. Para a estreia da Israel Start-Up Nation uma vitória numa etapa já seria um grande resultado.

 LOTTO – SOUDAL

A equipa da Lotto-Soudal não tem uma equipa para lutar pelo primeiro lugar da geral individual e aparece no Tour com a ambição de vencer etapas. O ano passado esse objectivo foi alcançado de forma brilhante e a equipa do diretor geral Jonh Lelangue alcançou 4 triunfos: três com o sprinter Caleb Ewan e uma por Thomas de Gendt, em solitário, claro. Com a ausência de última hora por lesão de Tim Wellens são precisamente estes 2 homens juntamente com o super Philippe Gilbert as principais referências da equipa belga. Caleb Ewan está em 2020 numa forma soberba e já venceu por 5 ocasiões. A dupla Ewan-Degenkolb pode ser terrível para os adversários nas chegadas discutida ao milímetro. Depois teremos Gilbert que a qualquer momento, numa etapa mais movimentada de sobe e desce constante, pode escapar ao pelotão e chegar isolado à meta. Gilbert tinha como grande objectivo da temporada a Milano-Sanremo, o único Monumento que lhe falta, mas o puncheur da Lotto-Soudal quer juntar ao seu vasto palmarés mais uma vitória numa grande volta. Aos 38 anos, ainda existe muita qualidade e etapas ao seu jeito existem algumas neste Tour. Depois teremos o romântico Thomas de Gendt, Romântico porque de Gendt é um dos expoentes máximos do ciclismo romântico. Aquele ciclismo que nos faz acreditar que David por vezes ganha a Golias, ou seja , quando um homem apenas consegue derrotar um pelotão inteiro. Quando de Gendt ganha é sempre isolado e por isso é sempre bonito e …romântico.

MITCHELTON-SCOTT

Da Austrália vem a Mitchelton-Scott que traz Adam Yates para lutar pelos primeiros lugares da geral. O britânico nunca mais repetiu a boa prestação de 2016 onde foi 4º classificado e levou a camisola branca para casa. Este ano entrou a vencer ao conquistar uma etapa no UAE Tour e também a geral individual. Depois disso pouco mais competiu. As indicações dadas no Critérium do Dauphiné não foram as melhores, mas se há ciclista onde o bluff é uma das suas características, esse homem é Adam Yates. O britânico já tem contrato com a Ineos Gredanier para 2021 e pode ambicionar uma despedida em grande da sua equipa de sempre. Para o ajudar teremos o colombiano Esteban Chaves, bom trepador, mas as suas grandes performances sempre foram em território italiano. Para a montanha a equipa australiana terá ainda o experiente Mikel Nieve e porventura o dinamarquês Christopher Juul-Jesen. O sprinter da equipa é o esloveno Luka Mezgec auxiliado por Jack Bauer e Sam Bewley. Daryl Impey , o único ciclista da Mitchelton-Scott que já venceu no Tour de France é o homem para as chegadas mais selectivas onde a explosão em terrenos inclinados é um factor preponderante e fundamental.

MOVISTAR TEAM

Os espanhóis da Movistar Team arrumaram a casa para a temporada 2020 com as saídas de Mikel Landa, Nairo Quintana, Richard Carapaz e Andrey Amador.  O que nos anos anteriores era uma confusão para a equipa e para o próprio Eusébio Unzué , com vários lideres para a mesma prova , em 2020 essa questão parece estar perfeitamente definida . A contratação de Enric Mas leva o espanhol para liderança da Movistar num Tour onde se não fosse Bernal, Mas seria um dos principais candidatos a vencer a camisola branca. O espanhol ambiciona um top 5 e repetir a Vuelta de 2018 onde foi segundo classificado seria um sonho. Com ele estará o veterano Alejandro Valverde. Faltam palavras para descrever o Bala. Com 9 pódios nas três grandes voltas, o murciano não sabe andar mal e pode ganhar ainda mais protagonismo numa equipa onde já não estão Landa e Quintana. Para a montanha teremos ainda o reforço Dário Cataldo e sobretudo o espanhol Marc Soler. O catalão venceu o Paris -Nice de 2018 mas sempre correu um pouco na sombra dos três grandes lideres da equipa espanhola: Valverde, Landa e Quintana. Pode agora no Tour 2020 ter margem de manobra para mostrar o seu valor. Nelson Oliveira, Imanol Erviti e Carlos Verona são os roladores da Movistam Team e serão os candidatos da equipa para entrar nas fugas diárias.

 NTT PRO CYCLYNG TEAM

Quem é o líder dos sul africanos? Michael Valgren, um bom puncheur, mas com muita concorrência? Giacomo Nizzolo que é o novo campeão italiano, campeão europeu e já leva 4 vitorias em 2020? O Doutor Domenico Pozzovivo que mudou da Baharain Merida para a NTT Pro Cycling para liderar a equipa nas etapas de montanha? Ou o líder será o experiente Edvald Boasson Hagen que já ergueu os braços por três vezes no Tour de France (duas em 2011 e uma em 2017)? Ou será Roman Kreuziguer que já terminou em 5º lugar, mas que nunca venceu uma etapa na Grande Boucle. Não sabemos. A estrada tratará de nos indicar quem é o líder da NTT Pro Cycling Team. Se saírem de França com uma vitória no bolso já será um grande resultado.

 TEAM ARKEA – SAMSIC

A equipa da Team Arkea-Samsic não pertence ao principal escalão do ciclismo mundial, mas mesmo assim os franceses apresentam nomes bem conhecidos do pelotão. A começar o seu líder. A contratação de Nairo Quintana modificou a estratégia da equipa francesa que passou a olhar para a geral individual como o grande objectivo. Nairo Quintana começou o ano numa forma impressionante para relembrar a todos que é um dos melhores trepadores do mundo. O percurso do Tour 2020 pode favorecer o colombiano de 30 anos que já venceu o Giro e a Vuelta e já terminou por três vez no pódio do Tour de France, mas nunca no lugar mais alto. As três ultimas prestações de Quintana em França não deixaram saudades (12º em 2017; 10º em 2018 e 8º em 2019), mas agora o ciclista de Combita nesta nova equipa pode ambicionar às performances do passado, ainda por cima, ao contrário do que acontecia na Movistar Team, é o líder inquestionável da equipa. A Team Arkea-Samsic traz uma formação onde se destacam os bons trepadores. Além de Quintana teremos Warren Barguil que deslumbrou no Tour 2017 e Winner Anaconna que acompanhou Nairo Quintana na mudança de equipa. O italiano Diego Rosa pode ser a aposta da equipa para integrar as fugas com nomes importantes em etapas de montanha. 

TEAM JUMBO – VISMA

A formação da Jumbo -Visma é a equipa do momento. Um super bloco que apareceu na fase de “desconfinamento" a ganhar tudo, a dominar e a deslumbrar. O duelo Team Jumbo Visma vs Ineos Gardenier no Tour de 2020 será dos mais interessantes, equilibrados e emotivos dos últimos anos. Mesmo com a saída por lesão de Steven Kruijswijk a formação da equipa holandesa é poderosa. O esloveno e vencedor da Vuelta 2019 Primoz Roglic será a aposta principal de Richard Plugge para vencer o Tour. Apesar da desistência no último Critérium du Dauphiné, este ano, tudo onde Roglic tocou foi transformado em ouro. A sua forma é impressionante. Roglic já ganhou em alta montanha, mas também já ganhou a rolar. Quando em confronto directo com Egan Bernal, teoricamente o seu principal adversário, o esloveno tem levado sempre a melhor. Tem também a seu favor o percurso montanhoso com algumas etapas com percentagens a ultrapassar os 20% e também o CRI da penúltima etapa que termina com uma cronoescalada a La Planche des Belles Filles. Se Roglic é o líder o que dizer então de Tom Dumoulin que nas últimas três grandes voltas onde participou fez sempre pódio. O holandês, depois de uma longa lesão contraída no Giro 2019, mudou para a Jumbo-Visma à procura de continuidade ao triunfo alcançado em território italiano em 2017. Dumoulin, tal como Roglic, é um ciclista completo. Bom rolador e cada vez melhor a subir, sendo que a sua grande especialidade é a luta contra o relógio. Em 2017 foi campeão do mundo da especialidade num CRI em Bergen em tudo idêntico àquele que iremos ver na penúltima etapa do Tour. Curiosamente Roglic foi segundo classificado nesse dia.  A restante equipa é de luxo. Tony Martin uma locomotiva que fará também o papel de capitão da equipa holandesa. Robert Gesink um trepador de excelência que dispensa apresentações com vários Top 10 na Vuelta e no Tour. Sepp Kuss, a promessa que vem dos USA, tem sido o “ultimo” gregário a abandonar os líderes Roglic e Dumoulin já muito perto da meta. Vai estrear-se no Tour de France depois de brilhar o ano passado na Vuelta ao ganhar de forma espectacular no Santuário de Acebo. O neozelandês George Bennett vem de Itália a “voar “depois de vencer o Gran Piemonte e ser segundo na Il Lombardia. Além disso tem demonstrado fidelidade aos líderes e veremos Bennett sempre nos lugares da frente do pelotão quando a estrada inclinar. E depois temos ainda um super Wout van Aert que ainda não sabe muito bem qual a sua especialidade. Ele ganha no CRI, ele ganha a sprintar, mas ganha também corridas como a Strade Bianche. É um ciclista completo que impõe ritmos diabólicos ao pelotão nas etapas de montanha, mas é também um ciclista que é capaz de finalizar uma etapa discutida ao sprint, tal como aquela que ganhou no Tour 2019 logo na sua estreia. Se o Tour 2020 pode ser o fim do ciclo para a Ineos Gradenier, pode também ser o início de uma nova era no ciclismo. A era onde iremos ver o comboio amarelo da Jumbo-Visma montanha acima com Aert , Kuss, Bennett , Gesink, Martin  e os lideres Roglic e Dumoulin.  

TEAM SUNWEB

Em 2021 escreveremos que a Team Sunweb irá estar de olho na geral individual com a contratação de Romain Bardet, mas este ano a equipa alemã está focada em caçar alguma etapa. Subir ao lugar mais alto numa etapa do Tour 2020 seria um bom resultado para a Team Sunweb que deixou de fora Michael Matthews vencedor da camisola verde do Tour 2018 e com três etapas ganhas em território francês. Assim, as apostas serão em Tiesj Benoot para as etapas acidentadas a lembrar as clássicas de primavera e porventura as chegadas ao sprint com o jovem holandês Cees Bol que em 2020 ganhou ao sprint em Tavira a nomes importantes como Jakobsen, Viviani e Kristoff. O veterano Nicolas Roche procura um top 10 muito difícil de alcança e o jovem holandês Joris Nieuwenhuis pode ser a surpresa da Team Sunweb.

TOTAL DIRECT ENERGIE

A equipa francesa já foi a casa das esperanças Thomas Voeckler e Sylvain Chavanel. Hoje tem nas suas fileiras os franceses Lilian Calmejane e Anthony Turgis. Se Calmejane estiver em boa forma será sempre uma ameaça nas fugas e se a fuga chegar aos quilómetros finais é Turgis que tem uma palavra a dizer para o desfecho da etapa. O francês gosta de longas etapas e é um puncheur promissor.  Depois temos o italiano Nicollo Bonifácio que é o sprinter da equipa e este ano venceu uma etapa do Paris-Nice a nomes importantes do pelotão. De resto a Total Direct Energie será das equipas que mais vai animar as etapas longas ao integrar diariamente as fugas do dia.

 TREK SEGAFREDO

Os americanos da Trek Segafredo tem em Richie Porte o seu natural líder. O australiano aparece no Tour 2020 sendo um dos ciclistas com mais quilómetros nas pernas. Como é tradição começou o ano a vencer no seu pais o Tour Down Under e conseguiu andar com o pelotão na frente nas restantes provas realizadas antes deste Tour. Mas Porte nunca conseguiu melhor que o 5º lugar em 2016. Quedas em 2017 e 2018 impediram o australiano de chegar ao desejado pódio final na Grande Boucle. Será Porte um ciclista de 3 semanas ? Com 35 anos começam a escassear as oportunidades de Porte se afirmar como um dos candidatos a vencer uma das três grandes voltas. Quem deverá acompanhar Richie Porte na alta montanha é o experiente holandês Bauke Mollema que tem no seu palmarés uma etapa no Tour de 2017 em Le Puy-en-Velay. Em 2020 Mollema tem andado muito bem. O pior resultado foi o oitavo lugar na Volta ao Algarve. Repetir o Tour de 2013 onde foi sexto classificado seria excelente para Mollema e para a sua equipa. Para auxiliar Mollema e Porte na alta montanha a equipa de Luca Guercilena traz o francês Kenny Elisonde que depois de sair da Team Ineos continua a ser um dos melhores gregários do pelotão. Na Trek Segrafredo ainda teremos Jasper Stuyven, Edward Theuns e o campeão do mundo Mads Pedersen para caçar etapas onde o pelotão esteja muito reduzido.

UAE TEAM EMIRATES

Não há volta a dar. Mesmo com Fabio Aru que já venceu uma grande volta (Vuelta 2015 ) , o líder da equipa árabe é o jovem Tadej Pogacar. O esloveno estreou-se em grandes voltas o ano passado na Vuelta logo com um pódio (3º lugar) e três etapas ganhas. Um resultado soberbo que faz com que Pogacar seja uma das principais figuras desde Tour de France e sério candidato ao pódio final. Ao contrário do que aconteceu na Vuelta 2019 Pogacar terá a atenção de um pelotão inteiro o que poderá dificultar o esloveno a cumprir os seus principais objectivos nesta Grande Boucle. Fábio Aru não consegue recuperar a forma e as performances do passado, no entanto os resultados alcançados já este ano podem indicar um Aru de ataque à procura da sua segunda etapa no Tour de France. Para o terreno montanhoso a UAE Team Emirates leva para o Tour o espanhol David de la Cruz e o italiano Davide Formolo que até pode ser um bom candidato à camisola de melhor trepador da prova. Alexander Kristoff é o homem escolhido para os sprinters e traz consigo o seu compatriota Stake Vegard Laengen. Marco Marcato e Jan Polanc podem ser boas apostas para fugas vitoriosas. 

Os prémios no Tour de France

No Tour de France não há maior prémio que a glória de uma vitória. Seja da geral individual ou outra qualquer camisola, mas também o prestígio de vencer uma etapa na maior e mais importante prova de ciclismo do mundo. Muito se falou sobre um eventual top 10 do português Rui Costa que infelizmente nunca chegou, mas para a história e carreira do campeão nacional ficarão as 3 etapas vencidas na Grande Boucle. Afinal quem se lembra quem foi o 7º classificado do Tour 2010? Pois ninguém!  

Peter Sagan - crónico vencedor da camisola verde

Além de muito importante para o palmarés de cada ciclista, vencer no Tour de France também significa muito dinheiro. Ora vamos aos números para o Tour 2020:

- Camisola Amarela: 500 mil euros

- Camisola Verde: 25 mil euros

- Camisola Branca às Bolinhas Vermelhas – 25 mil euros

- Camisola Branca – 20 mil euros

O vencedor de cada etapa leva para casa 11 mil euros e a equipa que ganhar a geral o prémio é de 50 mil euros

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Transmissão TV : Eurosport 1 e RTP

Hastag: #TDF #TDF2020 #TDF20

Boas pedaladas

AT

Nota: ao longo da competição iremos publicar algumas crónicas aqui no Blog: as já nossas famosas “estórias de ciclismo” e “subidas com estória.