quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O Koppenberg: a pedalar, a correr …ou a andar !

O famoso Koppenberg: Flandres, Bélgica

Não fica nos Alpes, não fica nos Pirenéus, muito menos nas Astúrias nem nos Dolomitas . Uma das mais famosas subidas da historia do ciclismo está localizada na região da Flandres a oeste da Bélgica. É o Koppenberg . Lugar de culto ciclístico para qualquer flemish, lugar dos mais bizarros acontecimentos na Ronde Van Vlaanderen (RVV) , lugar de muita discussão.
O Koppenberg é talvez a única subida mítica do ciclismo onde se pode ver os grandes favoritos a atacar mas também a desmontar e percorrer o trajeto a pé.  Que o diga Fabian Cancellara em 2009 ou Merckx em 1976.

Mas o que é o Koppenberg? Bem, a mais fácil descrição é esta: é aquela subida onde se disputavam os campeonatos do mundo de trepadores da nossa rua. Mas ao mesmo tempo é aquela rua por onde todos passamos.  É isso o Koppenberg. Porque esta subida, de apenas 600metros de extensão, apesar de estar inscrita no rol das subidas mais famosas do mundo, ainda é propriedade dos flamengos da pequena aldeia de Melden. São eles que no seu dia-a-dia tem de fazer aqueles 600metros,  em trabalho ou em lazer. A pé, de carro, de trator, ou de bicicleta . Perguntem a um puto flemish , entusiasta de ciclismo, qual a subida mais difícil e famosa do mundo ? Nem há discussão : “ é o nosso Koppen com os seus 600metros de paralelos” .  
O Koppenberg não é só ciclismo. É uma rua " normal" em Melden
 E isto do pavimento empedrado tem grande importância. Enquanto os flamengos , mais pobres, pavimentaram as estradas com pedras, os seus rivais, os valões , mais ricos , escolheram o alcatrão . Para a Valónia melhores estradas para a FLandres mais ídolos das 2 rodas. Nos paralelos nascem homens e não é por acaso que a grande maioria dos nomes belgas mais importantes são todos flemish. Isto vem de pequenino : Rick van Looy , Eddy Merckx, Roger de Vlaeminck, Museew, Boonen e Avermat . Há uma excepção : Phillpe Gilbert é valão.
O Koppenberg tornou-se famoso quando foi integrado no percurso da RVV. Foi em 1976 quando Walter Godefroot, belga e rival de Eddy Merckx, o deu a conhecer aos organizadores da prova. Foi colocado entre o Oude Kwaremont e o Taaienberg e passou a ser o ponto chave na discussão da corrida. Logo no seu ano de estreia também Merckx experimentou o sabor amargo de não conseguir fazer uma subida montado na sua bicicleta . O campeão belga foi obrigado a desmontar , meter a bicicleta ao ombro e a correr par conseguir transpor aquelas terríveis 600 metros .
A polémica sempre foi enorme . Ora por causa desta “ humilhação “ a que estavam sujeitos as grandes estrelas , ora por causa do estado do pavimento numa região onde por vezes a chuva e a lama tornavam o Koppenberg quase impossível de conquistar.
Pavimento em mau estado e muita lama é assim o Koppenberg
 
O ano de 1987 ficou marcado para a historia pelos piores motivos . Jesper Skibby seguia isolado na RVV e ao entrar no “Koppen” levava cerca de 2 minutos de avanço do pelotão. A meio, quando a estrada inclinou para os 22% Skibby perde as forças e vai para o centro . Ao mesmo tempo o carro do diretor de prova ao tentar passar para a frente derruba o dinamarquês destruindo-lhe a bicicleta. O episódio foi amplamente discutido e muitos mostraram a sua indignação pelo sucedido. O Koppenberg ficou ferido e como castigo foi retirado da RVV.
1987: Skibby atropelado pelo carro do diretor prova
 
Foram anos de “ sofrimento “ para os adeptos flemish e só o esforço financeiro da Camara de Oudennarde trouxe o Koppenberg de volta. Na “ cirurgia plástica “ foram gastos mais de 300 mil euros em arranjos , principalmente das bermas e do pavimento com a substituição quase total dos paralelos. O objetivo foi alcançado e 14 anos depois , em 2002, o Koppenberg regressou para alegria e felicidade dos flamengos.
Seja na sua RVV , seja em outra prova de ciclismo , ou até no Koppenbergcross ( prova de cyclocross que se disputa sempre no dia 1 de Novembro ) os flemish podem agora encher aquela colina verde ( quando a pandemia permitir), brindar com os seus copos de cerveja parafraseando um dos mais populares provérbios por aqueles lados:
“Se não podes pedalar, ao menos podes correr. Se não podes correr, pelo menos caminha “´
Eles estão a falar do seu Koppenberg!!!!!!
Multidão no Koppenbergcross
 
Desde Melden
Altitude : 78m
Distancia: 600 metros
Desnível: 65 metros
Média: 10,8%
Máxima: 22 %
 
 
 
 
 

museew , Boonen e Avermat. Só há uma excepção : Phillipe Gilbert é valão. Roger de Vlaemink, museew , Boonen e Avermat. Só há uma excepção : Phillipe Gilbert é valão

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Il Lombardia 2019 : o fim oficioso da temporada.





 
Disputa-se amanhã a última grande corrida do ano. O último dos “Monumentos”. A “clássica das folhas caídas”. As estradas sinuosas e estreitas da bonita região italiana da Lombardia irão coroar o último vencedor da temporada.
Il Lombardia 2019
 

Na edição 113 da “Il Lombardia” irão ser percorridos 243km que ligam a cidade histórica de Bergamo à bela Como localizada nas margens do famoso lago com o mesmo nome. Pelo meio uma passagem pela inesquecível Bellagio (para quem já visitou), uma subida a Madonna Ghisallo , uma meca do ciclismo mundial onde até existe um museu, o terrível Muro di Sormano e as suas rampas de 25% e por fim a subida a Civiglio e a descida perigosa para Como.

 

Giovanni Gerbi foi o primeiro vencedor, já falamos dele neste artigo, e Alejandro Valverde é um dos candidatos a venceu a edição de 2019. Valverde perdeu o ano passado a hipótese de ganhar e juntar-se ao restrito lote de ciclistas que já venceram o “ Giro da Lombardia” com a camisola arco-iris: Alfredo Binda ( 1947), Tom Simpson ( 1965), Eddy Merckx (1971), Felice Gimondi (1973) depois de vencer o maisfamoso dos sprints em Mundiais de Ciclismo : ver aqui , Giuseppe Saronni ( 1982), Oscar Camenzind ( 1998) e por fim o grande Paolo Bettini que em 2006 cruzou a meta em Como com as lágrimas nos olhos e os braços erguidos para o céu. Uma homenagem e dedicatória ao irmão falecido 8 dias antes num acidente de carro.
Bettini venceu em 2005 e 2006
 
Além de Valverde, dois nomes em super forma podem ser apontados como grandes favoritos: Egan Bernal e Primoz Roglic. O colombiano depois de vencer o Tour de France , com a exceção da clássica de San Sebastian, apenas competiu em território italiano. Ontem venceu o GP Piemonte " facilmente" e fez da subida ao Santuário de Oropa um verdadeiro passeio de preparação para a Il Lombardia. A Team Ineos apresenta uma formação muito equilibrada . Gianni Moscon será o plano B e Diego Rosa e Ivan Ramiro Sousa dois escudeiros de luxo para os dois lideres da equipa britânica.
Primoz Roglic venceu a Vuelta a Espanha há menos de 1 mês mas a forma do esloveno continua imparável. A forma autoritária como dominou a subida a San Luca no Giro Dell Emilia e o final da Tre Valli Varese fazem de Roglic um dos únicos ciclistas que levam 5 estrelas na classificação dos grandes favoritos a vencer o Monumento. A formula para o sucesso da equipa Team Jumbo-Visma mantem-se , uma vez que a formação apresentada neste Giro da Lombardia é praticamente a mesma que levou Roglic à vitória na Vuelta.

O tubarão de Messina já tem 2 vitórias e nunca sabemos bem o que esperar de um dos ciclistas com maior palmares de sempre. Vincenzo Nibali teve uma participação discreta nas clássicas italianas de Outono, não está tão marcado como Roglic e Bernal e por isso uma " dentada " do ciclista da Bahrain Merida pode ser fatal para os adversários.

Jakob Fuglsang , Adam Yates , Philippe Gilbert , Giulo Ciccone, David Gaudu  e Michael Woods são nomes que vão estar em destaque nas fases decisivas da corrida.

A presença portuguesa está assegurada por Rui Costa e José Gonçalves.

Pinot venceu em 2019
 

Ainda que não seja oficial, Il Lombardia encerra a época 2019. A Milan-San Remo e a vitória de Alaphillippe foi especatular. Bettiol arrancou sozinho e conquista a Ronde van Vlaanderen de forma surpreendente. Gilbert deu espetáculo ao vencer o Inferno do Norte: Paris – Roubaix e está apenas a uma vitória da Milan-SanRemo de conseguir o pleno nos 5 Monumentos e  Fugslang depois de bater na trave várias vezes durante a temporada vence categoricamente a Liége-Bastogne Liége . Quem levará para casa a mais bela roda do ciclismo mundial (troféu do Giro Lombardia).

#IlLombardia
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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Milano-Torino: quando o Ciclismo se junta ao Futebol





Num blog de ciclismo e na véspera  da mais antiga clássica italiana, vamos falar essencialmente de futebol.
Para já o ciclismo.
Corre-se amanhã a 100ª edição da Milano-Torino.  São 178km que ligam Magenta, nos arredores da cidade capital da moda: Milano, à cidade plantada nos Alpes italianos: Torino. A primeira edição realizou-se à 141 anos e foi ganha por Paolo Magretti. Da lista de vencedores consta: Giovanni Gerbi, mas também Constantino Girardengo, recordista de vitórias com 5 triunfos, Fiorenzo Magni , aquele ciclista que disputou um Giro com uma fractura da clavícula, o grande Roger Vlaeminck , Francesco Moser , Laurent Jalabert e até Alberto Contador. O último vencedor foi o francês Thibaut Pinot, com um ataque vitorioso na subida final a Superga.

Pinot, vencedor em 2018


A Milano –Torino é hoje a principal prova de preparação para o último “ Monumento” da temporada: o Giro di Lombardia.

Milano-Turim 2019
A prova é essencialmente plana até aos 20km finais. As 2 subidas à Basílica de Superga ( são 4,9km à média de 9,1% com rampas a 14% ) irão fazer a diferença . A meta coincide com o final da 2ª passagem por Superga e, tal como o ano passado, deve ser nos últimos 4km que a corrida se decide.
A starlist é de luxo. No entanto, os 3 dias que separam a Milano-Torino do momento mais esperado: " Il Lombardia" , podem "obrigar" os favoritos a levantar o pé do "acelerador". Nomes de "segunda linha" podem ter aqui uma boa oportunidade para triunfar. Destacam-se 3 nomes. Dois italianos e um colombiano: Giulio Ciccone ( Trek-Segafredo ) e Fausto Masnada ( Androni)e também Sergio Higuita ( EF Education First) Caso contrário teremos  Valverde, Fulgsang , Angel Lopez , Adam Yates, Formolo, Egan Bernal, Mikel Landa e Rui Costa a discutir a subida final à Basílica de Superga.


Mas que estória é essa que hoje também temos de falar obrigatoriamente de futebol? Ok o AC Milan e a Juventus de Turim são dois dos principais e mais importantes clubes italianos, mas vamos falar do Torino, principalmente do Grande Torino.
Il Grande Torino , 1949
O Torino FC dominou o futebol italiano no pós Segunda Guerra Mundial. Era uma equipa praticamente invencível. Em 1949 eram tetra campeões italianos. Base da selecção italiana de futebol . Nesse mesmo ano a 27 de Fevereiro a selecção italiana, num jogo amigável disputado contra Portugal goleou a selecção lusa por 4-1 mas nesse mesmo dia ficou combinado entre Francisco Ferreira, capitão da selecção portuguesa e jogador do Benfica e Ferrucio Novo, presidente do Torino FC, um jogo amigável entre as duas equipas a disputar em Lisboa no Estádio da Luz. Seria uma honra para a equipa portuguesa receber a melhor equipa de futebol do mundo: Il Grande Torino. Assim foi, a 3 de Maio de 1949, perante uma enchente nunca vista , O Sport Lisboa e Benfica ganha por 4-3 ao grande Torino FC.
Mas na lembrança de todos, não foi o resultado que ficou na memória. Perante a tragédia que aconteceu horas depois, a vitória do Benfica para pouco ou nada serviu para festejar.
Ao chegar a Turim , o avião que transportava a equipa do Torino, devido ao forte nevoeiro e já na aproximação à pista, embate no muro da Basílica de Superga. Eram 17h00 de 4 Maio de 1949. Não há  sobreviventes . Il Grande Torino morreu fisicamente.
Nesse ano a equipa acaba o campeonato italiano a jogar com os juniores e numa demonstração de desportivismo e de respeito todas as outras equipas italianas fazem o mesmo. O Torino FC foi penta campeão italiano.
Todos os anos os adeptos do TorinoFC prestam homenagem ao " Il GrandeTorino


A Basílica de Superga, local onde amanhã termina a Milano-Torino, será palco de glória para quem conseguir superar as dificuldades da subida, mas também foi o palco de uma das mais tristes estórias da história do futebol.

Boas pedaladas,

AT
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Tre Valli Varesine 2019