terça-feira, 25 de setembro de 2018

Imagens com estória nº 2 : O sprint de Montjuic


Mundiais 1973: vitória de Felice Gimondi
Em plena Vuelta a España, recuamos 45 anos e aterramos na deslumbrante Barcelona de 1973. O motivo? Os mundiais de ciclismo.

Nunca um final da prova de fundo masculina foi tão falado e discutido como aquele que aconteceu no final da tarde de 2 de setembro de 1973. O sprint, depois da subida ao castelo de Montjuic teve 4 protagonistas: os belgas Eddy Merckx (vencedor do Giro e Vuelta desse ano) e o irreverente Freddy Maertens , o italiano Felice Gimondi e a estrela espanhola Luís Ocaña que tinha acabado de dar a Espanha o sei segundo triunfo no Tour de France.

Os mundiais de 73 começaram mesmo antes do tiro de partida.  Da Bélgica vinham duas figuras. O jovem de 21 anos Freddy Maertens e Eddy Merckx . Em 1973 o “Canibal” já tinha ganho tudo o que havia para ganhar: as 3 grandes voltas, os 5 monumentos e os mundiais de ciclismo.  Mas Maertens ainda não tinha vitórias no seu currículo. Nesse ano, a sua primeira temporada como profissional, alcançou um prestigiante segundo lugar no Tour de Flanders e um quinto posto no “Inferno do Norte”: Paris – Roubaix. A sua irreverência e ousadia valeram-lhe desde cedo uma boa base de fãs. O seu potencial era muito e depressa chegou à melhor equipa de ciclismo do mundo: a Flandria. Para todos, incluindo para a equipa belga, o jovem Freddy seria o fiel escudeiro de Merckx na busca pelo seu terceiro título mundial. Maertens não concordou e depressa fez saber que não iria a Barcelona para correr para Eddy.

O clima na seleção da Bélgica era de cortar à faca e pior ficou quando a 100km da meta , Eddy Merckx acelera na frente da corrida ficando isolado. O seu plano era chegar sozinho à linha de meta instalada em Montjuic. Maertens apenas teria que controlar os adversários, mas ao contrário do esperado foi ele próprio que persegue o seu líder e o grupo da frente rola compacto outra vez. A 30km do fim e na penúltima ascensão a Montjuic o “Canibal” insiste novamente e elimina todos os seus adversários. No momento ninguém responde, mas passados alguns metros é de novo Maertens a ter as despesas da perseguição. A comitiva belga estava incrédula. Arrastados pelo jovem belga, Felice Gimondi e Luis Ocaña alcançam Merckx e os últimos quilómetros são percorridos por um quarteto de luxo.

Merckx e Maertens tinham obrigatoriamente de se entenderem. Em maioria no grupo, o título de campeão do mundo não poderia fugir às cores belgas. O acordo entre os dois era o seguinte: Maertens iria acelerar nos km´s finais lançando Merckx para a vitória. A recompensa seria um chorudo cheque de francos suíços. Freddy acelerou e tudo corria como previsto, mas a 500m da meta o jovem corredor da Flandria força ainda mais e quando olha para trás apercebe-se que Merckx não consegue seguir na roda. Tarde demais, a meta estava a escassos 30m e era preciso sprintar. Gimondi apercebe-se do sucedido, aproveita o desentendimento entre os belgas  e lança-se nos metros finais conseguindo assim o seu primeiro e único título de campeão do mundo de estrada.

O escândalo e a controversa reinavam na seleção belga. Gritos e discussões junto dos carros de apoio e mais tarde no hotel. Maertens acusa os adeptos de Merckx de lhe lançarem água gelada e outros objetos durante a prova. Ambos acusaram um e outro de traição.  À custa do sprint do mundial de 1973 os 2 estiveram 34 anos sem se falar.  

Em 2007 , durante o Tour de France, os 2 ex – clclistas belgas tem um encontro inesperado. Maertens está a fumar e Merckx pede-lhe um cigarro e conversa.

“ Freddy temos de falar sobre Montjuic”

“ Ok Eddy, concordo”

Estiveram horas a falar e no final da noite apertaram as mãos como 2 grandes campeões .

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Freddy Maertens fui um dos melhores sprinters de todos os tempos. O belga alcançou 221 vitórias enquanto profissional com destaque para os dois títulos mundiais : 76 e 81, as 15 etapas no Tour de France, as 7 no Giro de Itália e as 13 na Vuelta a Espanha numa única edição. É um recorde que se mantém até aos dias de hoje e que lhe valeu a vitória na geral individual da prova espanhola de 1977. É o único sprinter a vencer uma grande volta.

O currículo de Maertens tem uma falha: nunca ganhou um dos 5 Monumentos do ciclismo mundial. No museu da Ronde Van Vlaanderen em Oudennarde a placa do vencedor da edição de 1977 tem o nome de Roger de Vlaeminck . Por cima aparece outra mais pequena: “ Vencedor Moral : Freddy Maertens” . Mas essa estória fica para outra ocasião.

Boas pedaladas,
AT

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