Mundiais 1973: vitória de Felice Gimondi |
Em
plena Vuelta a España, recuamos 45 anos e aterramos na deslumbrante Barcelona de 1973. O
motivo? Os mundiais de ciclismo.
Nunca
um final da prova de fundo masculina foi tão falado e discutido como aquele que
aconteceu no final da tarde de 2 de setembro de 1973. O sprint, depois da
subida ao castelo de Montjuic teve 4 protagonistas: os belgas Eddy Merckx (vencedor
do Giro e Vuelta desse ano) e o irreverente Freddy Maertens , o italiano Felice
Gimondi e a estrela espanhola Luís Ocaña que tinha acabado de dar a Espanha o
sei segundo triunfo no Tour de France.
Os
mundiais de 73 começaram mesmo antes do tiro de partida. Da Bélgica vinham duas figuras. O jovem de 21
anos Freddy Maertens e Eddy Merckx . Em 1973 o “Canibal” já tinha ganho tudo o
que havia para ganhar: as 3 grandes voltas, os 5 monumentos e os mundiais de
ciclismo. Mas Maertens ainda não tinha vitórias
no seu currículo. Nesse ano, a sua primeira temporada como profissional,
alcançou um prestigiante segundo lugar no Tour de Flanders e um quinto posto no
“Inferno do Norte”: Paris – Roubaix. A sua irreverência e ousadia valeram-lhe
desde cedo uma boa base de fãs. O seu potencial era muito e depressa chegou à
melhor equipa de ciclismo do mundo: a Flandria. Para todos, incluindo para a
equipa belga, o jovem Freddy seria o fiel escudeiro de Merckx na busca pelo seu
terceiro título mundial. Maertens não concordou e depressa fez saber que não iria
a Barcelona para correr para Eddy.
O
clima na seleção da Bélgica era de cortar à faca e pior ficou quando a 100km da
meta , Eddy Merckx acelera na frente da corrida ficando isolado. O seu plano era
chegar sozinho à linha de meta instalada em Montjuic. Maertens apenas teria que
controlar os adversários, mas ao contrário do esperado foi ele próprio que
persegue o seu líder e o grupo da frente rola compacto outra vez. A 30km do fim
e na penúltima ascensão a Montjuic o “Canibal” insiste novamente e elimina todos
os seus adversários. No momento ninguém responde, mas passados alguns metros é
de novo Maertens a ter as despesas da perseguição. A comitiva belga estava incrédula.
Arrastados pelo jovem belga, Felice Gimondi e Luis Ocaña alcançam Merckx e os últimos
quilómetros são percorridos por um quarteto de luxo.
Merckx
e Maertens tinham obrigatoriamente de se entenderem. Em maioria no grupo, o título
de campeão do mundo não poderia fugir às cores belgas. O acordo entre os dois
era o seguinte: Maertens iria acelerar nos km´s finais lançando Merckx para a
vitória. A recompensa seria um chorudo cheque de francos suíços. Freddy
acelerou e tudo corria como previsto, mas a 500m da meta o jovem corredor da Flandria
força ainda mais e quando olha para trás apercebe-se que Merckx não consegue
seguir na roda. Tarde demais, a meta estava a escassos 30m e era preciso
sprintar. Gimondi apercebe-se do sucedido, aproveita o desentendimento entre os belgas e lança-se nos metros finais
conseguindo assim o seu primeiro e único título de campeão do mundo de estrada.
O
escândalo e a controversa reinavam na seleção belga. Gritos e discussões junto
dos carros de apoio e mais tarde no hotel. Maertens acusa os adeptos de Merckx
de lhe lançarem água gelada e outros objetos durante a prova. Ambos acusaram um
e outro de traição. À custa do sprint do
mundial de 1973 os 2 estiveram 34 anos sem se falar.
Em
2007 , durante o Tour de France, os 2 ex – clclistas belgas tem um encontro
inesperado. Maertens está a fumar e Merckx pede-lhe um cigarro e conversa.
“
Freddy temos de falar sobre Montjuic”
“
Ok Eddy, concordo”
Estiveram
horas a falar e no final da noite apertaram as mãos como 2 grandes campeões .
Freddy
Maertens fui um dos melhores sprinters de todos os tempos. O belga alcançou 221
vitórias enquanto profissional com destaque para os dois títulos mundiais : 76 e 81, as 15 etapas no Tour de
France, as 7 no Giro de Itália e as 13 na Vuelta a Espanha numa única edição. É
um recorde que se mantém até aos dias de hoje e que lhe valeu a vitória na
geral individual da prova espanhola de 1977. É o único sprinter a vencer uma
grande volta.
O
currículo de Maertens tem uma falha: nunca ganhou um dos 5 Monumentos do
ciclismo mundial. No museu da Ronde Van Vlaanderen em Oudennarde a placa do
vencedor da edição de 1977 tem o nome de Roger de Vlaeminck . Por cima aparece
outra mais pequena: “ Vencedor Moral : Freddy Maertens” . Mas essa estória fica
para outra ocasião.
Boas
pedaladas,
AT
Excelente.
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