quinta-feira, 18 de março de 2021

Milano- SanRemo 2021 - O primeiro Monumento

 



Os Monumentos do Ciclismo começam com "La Classicissima " ou “La Primavera” . É já no próximo sábado.

São 299km que ligam Milano a San Remo. Mais ou menos de Lisboa ao Porto. O mais longo dos Monumentos. Uma das provas mais longas do calendário mundial.

 

Quando recentemente se discutiu se a Strade Bianche já era um dos monumentos do ciclismo ou se um dia iria ser, a nossa resposta foi bastante clara. Concluímos que não! Pelo menos por agora! Está a fazer o seu percurso, mas para ser “Monumento “há um longo caminho a percorrer e muitas estórias para contar. Na Milano-San Remo esse caminho começou em 1907. A Strade Bianche ainda é uma jovem com 15 anos de idade.

 

Milano-SanRemo: o primeiro “Monumento”

A prova foi organizada pelo jornal desportivo “Gazeta dello Sport” e teve a distância de 288km. Estavam escritos 62 ciclistas, mas na linha de partida em Milano apenas se apresentaram 33. Mais de metade desistiu durante a prova e em San Remo apenas 14 “heróis “cruzaram a linha de meta. O francês Lucien Petit-Breton foi o mais rápido a percorrer a ligação. Nesta altura fazer 288km significavam muitas horas em cima das bicicletas e Lucien “Petit-Breton” levou 11h04m. Uma média de 26km/h. Uma grande performance para a altura. Atrás do francês chegou o seu compatriota Gustave Garrigou e em terceiro o italiano Giovanni Gerbi, o famoso “Diabo Vermelho” que já falamos aqui.

Lucien " Petit Breton" o 1º vencedor


Nesta época provas com distâncias elevadas não tinham apenas a vertente de competição desportiva. Eram também provas de superação da resistência humana e nalgumas vezes de sobrevivência.

Além da elevada distância as estradas eram péssimas e muitas vezes as condições meteorológicas eram dantescas. Numa das primeiras edições os ciclistas tiveram mesmo de “furar” pela neve para continuar na direção de San Remo. Aconteceu em 1910.

A edição de 1910 foi particularmente difícil. Começou pelas 6 da manhã e logo nos primeiros km os ciclistas encontraram uma tempestade de neve. 

MSR 1910: " a furar a neve"

Ao chegar ao Passo de Turchino , subida que este ano devido a um deslizamento de terras não fará parte do percurso, muitos ciclistas não aguentaram e voltaram para trás. Outros pediram refúgio nas casas que encontraram e depois de aquecerem o corpo recusaram-se a continuar em prova e foram diretos para casa. Depois do Passo de Turchino apenas 30 ciclistas continuaram em prova. Um deles foi Eugène Christophe que viria a ser o primeiro em San Remo. A meio da prova Christophe foi obrigado a vestir umas calças para se proteger do frio. Ao passar por Savona , o francês assumiu a liderança mas por pouco tempo. As suas calças entalaram-se na corrente da bicicleta e Christophe viu-se obrigado a pedir ajuda numa pequena localidade. Enquanto lhe cortavam as calças, libertando-o da bicicleta, o ciclista aproveitou para se alimentar abastecendo-se convenientemente para o resto da prova. Apesar do tempo perdido Christophe ganhou um novo folego e conseguiu alcançar a frente da corrida. Sem as calças e bem alimentado passou direto para a liderança e chegou a San Remo com mais de 1 hora de vantagem para o segundo classificado. A epopeia de Eugene Christophe durou 12h24m. A mais lenta das edições da Milano – San Remo. No final o francês foi hospitalizado por queimaduras nas mãos e cara. Esteve mais de um mês no hospital de San Remo e só voltou a competir passados 2 anos.
Eugene Christophe vencedor em 1910


Mais recentemente a neve também fez a sua aparição durante a prova. Foi em 2013. Os ciclistas não se refugiaram nas casas por onde passavam, mas sim nos autocarros e carros das suas equipas. Mas tal como em 1910 muitos já não regressaram á competição.

Nos anos seguintes a prova foi ganha pelos grandes nomes da altura: Alfredo Binda, Constante Girardengo ou Henry Pellissier.

Também a Milano San-Remo foi palco de batalha da maior e mais bonita rivalidade do ciclismo: Gino Bartali vs Fausto Coppi. A luta entre os dois não se fez apenas no Izoard (Alpes) ver aqui, ou no Tourmalet (Pirenéus ) ou noutra qualquer grande subida do Tour de France ou do Giro de Itália. Para a historia ficam também as edições da década de 40 onde os dois italianos disputavam a “Classicíssima “como se fosse a última corrida da vida. Num ano era Bartali que fugia logo no Passo de Turchino conquistando a corrida com uma longa escapada de centenas de quilómetros. No ano seguinte era a vez de Coppi pedalar com elegância e distanciar-se de Bartali acabando em San Remo com muitos minutos de vantagem. Na edição de 1946 a vantagem de Coppi era tão grande que o “Campionissimo” parou para tomar café seguindo mesmo assim destacado na frente. Entre 1940 e 1950 a corrida foi disputada nove vezes (paragem de dois anos devido à Segunda Guerra Mundial). Dessas nove edições Bartali e Coppi venceram seis.

 

O " famoso" café onde Coppi bebeu um café em plena MSR 1946


O palmarés da Milano-Sanremo é vasto e rico em nomes importantes: Eddy Merckx é o seu recordista. O Belga ganhou 7 vezes. Tambem Rik van Looy e Roger de Vlaeminck venceram a prova italiana para completar o penta dos “Monumentos “. Franscesco Moser e Laurent Fignon também tem o nome inscrito na placa do primeiro lugar, assim como Laurent Jalaber, Erik Zabel, Cancelllara, Cavendish, Nibali , Alaphilippe e Wout van Aert. 

As  edições de 2017 e 2018 da prova foram espetaculares.

Em 2017 a “ La Primavera” foi ganha pelo polaco Michał Kwiatkowski num sprint muito comentado e discutido com o francês Alaphillipe e o campeão do mundo Peter Sagan. Kwiatkowski e Sagan são ciclistas a ter em conta na edição deste ano , mas estão longe de serem dos principais favoritos a ganhar a “Classicíssima”.

Michał Kwiatkowski vence em 2017

Em 2018 foi a vez do tubarão de Messima. Vincenzo Nibali juntar ao seu vasto palmarés a Milano-SanRemo, numa vitória que ficará para sempre na memória do próprio, dos seus fãs e de todos aqueles que gostam de ciclismo espetacular. Nibali ataca no Poggio de SanRemo para ser apanhado já depois de cruzar a linha de meta na Via Roma.

Nibali 2018

Milan-San Remo 2021

A edição de 2021 não deve fugir muito ao filme dos últimos anos. No entanto, o percurso é diferente. Não haverá Passo del Turchino devido a um deslizamento de terras, mas teremos o Colle di Giovo. Quem regressa ao percurso são os 3 famosos Capos: Capo Mele , Capo Cerve e o Capo Berta. 

 

MSR 2021

Mas temos também a Cipressa e Poggio di Sanremo. Na Cipressa o posicionamento é fundamental pois a corrida começa a desenrolar-se a uma velocidade bastante elevada. Uma boa entrada no Poggio di Sanremo é sinonimo de sair dele numa posição bastante razoável e em condições de discutir a corrida na Via Roma. O Poggio di Sanremo com os seus 3,7km com média de 3,7% e max 8% fará a seleção dos candidatos uma vez que os restantes 5km serão em descida até entrarmos no km final.

 


Em 2017 foi na parte final do Poggio di Sanremo que Sagan atacou levando na roda Alaphillipe e Kwiatkowski que acabou por ser o vencedor ganhando o seu primeiro monumento. Foi também no final da subida que em 2018 Nibali ganha metros importantes ao restante pelotão para conquistar a mais bela vitória da sua carreira.

Será que vamos ter Philippe Gilbert com pernas para fugir na curta e derradeira subida e assim ganhar o único Monumento que lhe escapa ? 

Poggio di SanRemo




Favoritos: 

***** Mathieu van der Poel, Wout Van Aert, Julian Alaphilippe
**** Michael Matthews, Maximilian Schachmann, Matej Mohoric
*** Peter Sagan, Matteo Trentin, Arnaud Démare, Iván García
** Michal Kwiatkowski, Alexander Kristoff, Giacomo Nizzolo
* Tim Wellens, Sam Bennett, Nacer Bouhanni, Caleb Ewan, Davide Ballerini

Startlistaqui

Percursoaqui


Transmissão TV: Eurosport 1 pelas 11h45m


Hastag: #MSR #MSR21 #MSR2021


 
Boas pedaladas !


AT

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