sábado, 21 de março de 2020

Milano - Sanremo : A história da " La Classicíssima"


 
Hoje seria o dia do primeiro Monumento da temporada. A Milano-SanRemo , a "La Classicíssima " ou " La Primavera" . Não fosse o maldito vírus e hoje seria também o dia onde bebíamos 10 cervejas " Abadia" para comemorar a vitória de Philippe Gilbert no único Monumento que não faz parte do seu palmarés. Hoje Gilbert junta-se ao lote dos " três Magnificos" : Merckx , Van Looy e Vlaeminck .

Mas outros mais já brilharam no final da Via Roma. Coppi até descansou para beber um café e Nibali colocou a cereja em cima do bolo extraordinário que é a sua carreira.

Aqui ficam algumas histórias da " La Classicíssima"

 

Milano-SanRemo: o primeiro “Monumento”

 
A prova foi organizada pelo jornal desportivo “Gazeta dello Sport” e teve a distância de 288km. Estavam escritos 62 ciclistas, mas na linha de partida em Milano apenas se apresentaram 33. Mais de metade desistiu durante a prova e em San Remo apenas 14 “heróis “cruzaram a linha de meta. O francês Lucien Petit-Breton foi o mais rápido a percorrer a ligação. Nesta altura fazer 288km significavam muitas horas em cima das bicicletas e Lucien “Petit-Breton” levou 11h04m. Uma média de 26km/h. Uma grande performance para a altura. Atrás do francês chegou o seu compatriota Gustave Garrigou e em terceiro o italiano Giovanni Gerbi, o famoso “Diabo Vermelho” que já falamos aqui.
Lucien " Petit Breton" o 1º vencedor
 

Nesta época provas com distâncias elevadas não tinham apenas a vertente de competição desportiva. Eram também provas de superação da resistência humana e nalgumas vezes de sobrevivência.

Além da elevada distância as estradas eram péssimas e muitas vezes as condições meteorológicas eram dantescas. Numa das primeiras edições os ciclistas tiveram mesmo de “furar” pela neve para continuar na direção de San Remo. Aconteceu em 1910.

A edição de 1910 foi particularmente difícil. Começou pelas 6 da manhã e logo nos primeiros km os ciclistas encontraram uma tempestade de neve.

MSR 1910: " a furar a neve"

Ao chegar ao Passo de Turchino , subida que se mantem e que fará parte do percurso da edição de 2019, muitos ciclistas não aguentaram e voltaram para trás. Outros pediram refúgio nas casas que encontraram e depois de aquecerem o corpo recusaram-se a continuar em prova e foram diretos para casa. Depois do Passo de Turchino apenas 30 ciclistas continuaram em prova. Um deles foi Eugène Christophe que viria a ser o primeiro em San Remo. A meio da prova Christophe foi obrigado a vestir umas calças para se proteger do frio. Ao passar por Savona , o francês assumiu a liderança mas por pouco tempo. As suas calças entalaram-se na corrente da bicicleta e Christophe viu-se obrigado a pedir ajuda numa pequena localidade. Enquanto lhe cortavam as calças, libertando-o da bicicleta, o ciclista aproveitou para se alimentar abastecendo-se convenientemente para o resto da prova. Apesar do tempo perdido Christophe ganhou um novo folego e conseguiu alcançar a frente da corrida. Sem as calças e bem alimentado passou direto para a liderança e chegou a San Remo com mais de 1 hora de vantagem para o segundo classificado. A epopeia de Eugene Christophe durou 12h24m. A mais lenta das edições da Milano – San Remo. No final o francês foi hospitalizado por queimaduras nas mãos e cara. Esteve mais de um mês no hospital de San Remo e só voltou a competir passados 2 anos.
Eugene Christophe vencedor em 1910
 
Mais recentemente a neve também fez a sua aparição durante a prova. Foi em 2013. Os ciclistas não se refugiaram nas casas por onde passavam, mas sim nos autocarros e carros das suas equipas. Mas tal como em 1910 muitos já não regressaram á competição.

Nos anos seguintes a prova foi ganha pelos grandes nomes da altura: Alfredo Binda, Constante Girardengo ou Henry Pellissier.

 
Também a Milano San-Remo foi palco de batalha da maior e mais bonita rivalidade do ciclismo: Gino Bartali vs Fausto Coppi. A luta entre os dois não se fez apenas no Izoard (Alpes) ver aqui, ou no Tourmalet (Pirenéus ) ou noutra qualquer grande subida do Tour de France ou do Giro de Itália. Para a historia ficam também as edições da década de 40 onde os dois italianos disputavam a “Classicíssima “como se fosse a última corrida da vida. Num ano era Bartali que fugia logo no Passo de Turchino conquistando a corrida com uma longa escapada de centenas de quilómetros. No ano seguinte era a vez de Coppi pedalar com elegância e distanciar-se de Bartali acabando em San Remo com muitos minutos de vantagem. Na edição de 1946 a vantagem de Coppi era tão grande que o “Campionissimo” parou para tomar café seguindo mesmo assim destacado na frente. Entre 1940 e 1950 a corrida foi disputada nove vezes (paragem de dois anos devido à Segunda Guerra Mundial). Dessas nove edições Bartali e Coppi venceram seis.

O " famoso" café onde Coppi bebeu um café em plena MSR 1946
 

O palmarés da Milano-Sanremo é vasto e rico em nomes importantes: Eddy Merckx é o seu recordista. O Belga ganhou 7 vezes. Tambem Rik van Looy e Roger de Vlaeminck venceram a prova italiana para completar o penta dos “Monumentos “. Franscesco Moser e Laurent Fignon também tem o nome inscrito na placa do primeiro lugar, assim como Laurent Jalaber, Erik Zabel, Cancelllara, Cavendish ….

 

As últimas 3 edições da prova foram espetaculares.

Em 2017 a “ La Primavera” foi ganha pelo polaco Michał Kwiatkowski num sprint muito comentado e discutido com o francês Alaphillipe e o campeão do mundo Peter Sagan. Todos os três são dos principais favoritos a ganhar a edição 2019 da “Classicíssima”.

Em 2018 foi a vez do tubarão de Messima. Vincenzo Nibali juntou ao seu vasto palmarés a Milano-SanRemo, numa vitória que ficará para sempre na memória do próprio, dos seus fãs e de todos aqueles que gostam de ciclismo espetacular. Nibali ataca no Poggio de SanRemo para ser apanhado já depois de cruzar a linha de meta na Via Roma. ( ver aqui)

O ano passado foi a vez do francês Julian Alaphillippe atacar o Poggio de Sanremo e partir a corrida para depois vencer ao sprint num grupo reduzido.
 

 

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