quarta-feira, 10 de abril de 2019

Paris-Roubaix 2019 e a alcunha "o Inferno do Norte" !


 
 
 
E tudo termina no próximo dia 14 de abril!!!

Bem! Também não é uma visão tão catastrófica, mas o que é certo é que pelas 17h00 de domingo acaba a época fantástica das clássicas do pavê. É certo que é apenas uma opinião do Aguadeiro Trepador Blog, mas quem gosta de romantismo e de história, as 5 clássicas flamengas e o Paris-Roubaix são chocolate suíço para quem “saboreia” espetáculo e emoção. O facto dos holofotes do ciclismo mundial estarem apontados para uma região do mapa mundi onde as provas de ciclismo são comparadas com o Mundial de Futebol e os ciclistas autenticas estrelas  ajuda bastante. Na Flandres há jornais diários a escrever sobre ciclismo. Há programas de TV a discutir as performances das equipas. Porque é que o grupo de favoritos não fez a perseguição a Alberto Bettiol na Ronde? Foi o grande tema desportivo na região que faz do ciclismo o desporto rei e que é a “capital espiritual “da modalidade.  

As clássicas vão continuar depois do Paris-Roubaix e viajam até às Ardenas, mas um pouco desta magia vai terminar no velhinho velódromo de Roubaix.


 

O Paris -Roubaix já não começa em Paris. Desde meados da década de 60 que a partida da clássica que um dia alguém apelidou de “O Inferno do Norte” é realizada em Compiègne. O final mantém-se desde sempre em Roubaix e o velódromo da pequena e industrial cidade do norte de França foi o palco que mais vezes recebeu os metros finais da corrida. Hoje o Paris-Roubaix é considerada a corrida de um dia mais importante do calendário de ciclismo.

Velódromo de Roubaix
 

Nem sempre foi assim e no início da prova (1896) foram poucos os que ficaram entusiasmados com uma corrida de ciclismo que começava em Paris e que terminava num velódromo na cidade “desconhecida” de Roubaix. Afinal, naquela época tudo tinha de começar e terminar na cidade da Luz. Também a igreja Católica começou a colocar alguns entraves à realização da prova. A primeira edição estava marcada para a época da Páscoa e como é que os corredores conseguiam ir à missa dominical e no mesmo dia percorrer os cerca de 280km que ligavam Paris a Roubaix? Era impossível ! Segundo relatos da época, a patriarcado de Paris chegou mesmo a distribuir folhetos para tentar convencer a população a condenar e impedir a realização de tal blasfémia.

Theo Vienne, pai do Paris-Roubaix
Nada resultou e a prova idealizada por Théodoro Vienne, um dos fundadores do velódromo de Roubaix foi para a estrada no dia 19 de abril de 1986. O vencedor foi Josef Fisher. Até hoje apenas 2 alemães venceram: Fisher e Degenkolb (2015). Na primeira edição outros nomes de destaque marcaram presença. Entre eles estava o primeiro vencedor da Volta a França (1903) Maurice Garin que terminou na terceira posição.

O seu apelido: “Inferno do Norte “teve origem depois do interregno devido à Primeira Guerra Mundial. A região do norte de França foi bastante castigada durante o conflito armado e ninguém sabia o estado das estradas que ligavam Paris a Roubaix depois do termino da guerra. Em 1919 as informações eram escassas e contraditórias e os organizadores foram obrigados a percorrer o trajeto para verificar a possibilidade de realização da prova. O que viram foi desolador. Arvores caídas, estradas danificadas, cheiro fétido, animais mortos e até ossadas humanas. Ao chegar a Roubaix alguém ligou para Paris confirmando que estavam reunidas as condições mínimas para a prova avançar alertando também para o facto dos ciclistas estarem preparados para ver o “Inferno do Norte” . Henri Pélissier, vencedor em 1919, confirmou esta visão aterradora de morte e sofrimento: “isto não foi uma corrida, isto foi uma marcha fúnebre “disse o ciclista francês depois de cortar a meta no velódromo de Roubaix.

A fama do “Inferno do Norte “ foi aumentando ano após ano, ultrapassando a importância da sua rival a “Bordéus- Paris”.  Como a prova era disputada em estradas quase exclusivamente rurais muito do percurso era feito em pavimento empedrado. Era esta a essência do Paris-Roubaix, essência essa que se mantêm até aos dias de hoje. Porém quase que o Paris-Roubaix dava uma volta de 180 graus. Nos anos 60 e com o impacto mediático que a prova já tinha ninguém queria ver nas TV’s a sua terra natal percorrida em estradas completamente partidas e em mau estado. O medo de “ troça “ era enorme e houve mesmo quem tentasse alterar o percurso da prova para estradas em melhores condições. O que é certo é que a tradição manteve-se e salvo pequenas alterações ao percurso original , muito por culpa de troços em empedrado que se perderam para sempre ou novos troços descobertos por habitantes locais, o trajeto do Paris-Roubaix manteve sempre as suas características iniciais , incluindo a sua alcunha de “ Inferno do Norte” que agora já não estava associada às consequências da Primeira Grande Guerra mas sim às enormes dificuldades que os ciclistas tinham que percorrer.

Quase todos os grandes nomes ganharam em Roubaix ! Todos os especialistas em clássicas triunfaram no velódromo. Os recordistas de vitórias são belgas: Roger de Vlaeminck “o senhor Paris Roubaix” e Tom Boonen, ambos com 4 vitórias.

Monsieur Paris-Roubaix
 

De todos os troços de empedrado que normalmente fazem parte dos percursos destacam-se três: o Troueé d´Arenberg, o Mons-en-Pévèle e o Le Carrefour  de L’ Arbre.


Troueé d´Arenberg
 
O troço que percorre a floresta de Arenberg data do tempo de Napoleão. Foi percorrido pela primeira vez em 1968 e poucas foram as edições do Paris-Roubaix que dispensaram os paralelos terríveis de Arenberg. Os 2400m de distância estão normalmente a 100km da meta, muito longe. A corrida nunca foi ganha em Arenberg mas pode ser perdida. Que o diga Johan Museeuw que em 1998 teve uma queda gravíssima onde quase perde a perna esquerda. Museeuw , o “leao da Flandres” cai em 1998 e ganha a prova em 2000 e 2002 quebrando de alguma forma a maldição de Arenberg. É incrível a velocidade de entrada do pelotão no Troueé d´Arenberg. A bicicleta parece ganhar direções próprias fazendo deste troço o mais difícil da ligação centenária de Paris a Roubaix. Arenberg e as suas Minas são hoje um lugar de peregrinação de todos os fãs e os seus paralelos são dos souvernirs mais apreciados.
Mons-en-Pévèlé
 
Mons-en-Pévèle é outros dos sectores mais importantes. Aparece a cerca de 50km da meta e muitas vezes a corrida já foi decidida nos seus 3000. Em 2010 foi no Mons-en-Pévèle que Cancellara atacou para vencer o seu segundo “ Parelelo”. O ano passado foi neste troço que Peter Sagan consolidou a liderança da corrida o que lhe permitiu vencer o seu primeiro e único Paris-Roubaix.

Café de L´Arbre
 

O Carrefour de l´Arbre é dos troços mais difícil e está já muito perto de Roubaix. Quem passa na frente junto ao Café de l´Arbre tem boas possibilidades de vencer a corrida. São 2100m de paralelos que permanecem neste local desde a Batalha de Bouvines que em 1214 terminou com a guerra anglo-francesa. No Carrefour de l’ Arbre Cancellara já passou na frente e venceu em 2006 assim como Stuart O´Grady no ano seguinte. É o último sector de empedrado que pode fazer a diferença na corrida francesa.


Paris – Roubaix 2019

Paris-Roubaix 2019
 

A edição 117 do Paris-Roubaix está marcada pela homenagem a Michael Goolaerts , ciclista belga que faleceu durante a corrida de 2018. O setor Briastre to Viesly, onde Goolaerts sucumbiu, será rebatizado com o seu nome. Foi esta a forma  que a organização da corrida e o seu diretor Christian Prudhomme escolheram para relembrar para sempre um dos episódios mais tristes da corrida.
Homenagem a Michael Goolaerts
 
O percurso da edição de 2019 é idêntico a anos anteriores. São 257km entre Compiègne e o velódromo de Roubaix, 54,5km dos quais em empedrado distribuídos em 29 setores. Normalmente a corrida aquece ao passar no “inferno “que é o Trouée d ‘ Arenberg. A posição à entrada deste setor é fundamental. Ou se gasta energia para estar na frente ou se poupa esforços, mas corre-se o risco de ficar num grupo atrasado ou bloqueado devido a uma queda. A entrada na foresta de Arenberg, apesar de estar a cerca de 100km da meta, é um dos grandes momentos da corrida. Nós arriscamos a dizer que é mesmo uma das imagens mais fantásticas do ano no que diz respeito a provas ciclísticas.

A mítica passagem por Arenberg
 
O setor número 11 é Mons-en-Pévèlé e está a 48km de Roubaix. Aqui a corrida deverá rebentar e a tensão dentro do pelotão ou do que resta dele estará em máximos. Segue-se Camphin-en-Pévèlé com os seus 1800m e logo de seguida o famoso Carrefour d’ Arbre com 2100m. Quem sair destacado e sozinho do restaurante mais conhecido da zona poderá ser compensado com um banquete real na chega ao velódromo a Roubaix. E quem são os candidatos a saborear a vitória na rainha das clássicas?

Todos os candidatos a vencer o Paris -Roubaix falharam a Ronde van Vlaanderen, por isso será uma prova bastante aberta no que diz respeitos aos principais favoritos. Destaque para o “falhanço “de Zdenek Stybar na Ronde. Era um dos nomes em destaque para conquistar a prova e falhou redondamente. Estará obrigado a correr o Paris-Roubaix para vencer? Sim, Stybar , que este ano já venceu a E3 e a Omloop Het Niewsblad, tem contas a ajustar com o velódromo. O checo por 2 vezes já foi segundo e tem agora mais uma hipótese de gravar o seu nome nos balneários mais famosos do mundo: os de Roubaix.

De Peter Sagan, vencedor em 2018, não sabemos bem o que esperar. Está o eslovaco em baixo ou tudo se resume a uma gestão da época para aparecer na Liege-Bastogne-Liege com pernas suficientes para vencer mais um Monumento que este ano parece ter um perfil indicado para o tri-campeao do mundo?

Peter Sagan venceu em 2018
 
Greg van Avermaet não tem conseguido transformar em vitórias a aparente boa forma que apresenta. Falhou o seu grande objetivo que era a Ronde van Vlaanderen e pode aproveitar o “Inferno do Norte “para, tal como em 2017, triunfar e salvar a época de clássicas.

Outro nome forte é Wout van Aert. O jovem belga da Team Jumbo-Visma ainda não venceu uma grande clássica. Está sempre no grupo decisivo e algum dia a sua vez chegará. O ano passado terminou no lugar 13.

Há duas grandes ausências no pelotão que parte de Compiègne rumo a Roubaix. Um por lesão e outro por ausência da sua equipa. Niki Tersptra caiu no último domingo durante a Ronde e não recupera a tempo de disputar uma prova onde venceu em 2014. Também Mathieu van der Poel não estará presente naquele que seria o seu primeiro Paris-Roubaix . A sua equipa Corendo – Circus é Pro Continental e para tal precisava de convite, coisa que não conseguiu. A organização deu preferência às equipas francesas. É uma pena, Poel está numa forma muito difícil de bater por todos os tubarões do pelotão WT.

E por falar em tubarões? Será que o Paris-Roubaix de 2019 será ganho por um tubarão ou, tal como no último domingo, será um "underdog"  a vencer no velódromo mais famoso do mundo.

Qual a vossa aposta?

 

Starlist: aqui

Percurso: aqui

Transmissão TV: Eurosport 1 pelas 10h00

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