Ronse é uma pequena cidade belga da
região da Flandres. A sua ligação com ciclismo é naturalmente muito forte. É
palco de passagem das várias corridas belgas de apenas um dia. Por Ronse passa normalmente
a Ronde Van Vlaanderen e o seu Kluisberg com 1km de distancia, 6,5% inclinação média
e 15% máximo.
Ronse também é conhecida pelos dois
mundiais de ciclismo aí disputados: em 1988 ganhos por Maurizio Fondriest e em
1963 vencidos pelo jovem belga Benoni Beheyt, Mundiais esses que acabaram em
polémica.
Quando o tiro de partida foi dado
em Ronse havia um ciclista favorito a vencer os 323km essencialmente acidentados
no típico terreno flamengo. Era o belga Rik van Looy.
Van Looy era na altura uma das maiores
estrelas do ciclismo mundial. Disputava o título de “estrela maior” com nomes
como: Frederico Bahamontes, Jacques Anquetil e Raymond Poulidor. Vencedor dos
mundiais de ciclismo em 1960 e 1961, Van Looy apresentava em 1963 um palmarés notável.
Com 31 anos e num grande momento de forma o belga já tinha vencido os 5
Monumentos do Ciclismo (Paris-Roubaix , Liége-Bastogne-Liége, Ronde van
Vlaanderen, Milano-SanRemo e Giro da Lombardia ). Também tinha no currículo 12
etapas do Giro de Itália e em 1963 no Tour de France venceu 4 etapas. Rik Van
Looy , o Keizer van Herentals como era conhecido, tinha uma seleção
belga preparada inteiramente para o ajudar. A tática era simples: controlar as
fugas de nomes importantes e atacar a corrida no Kluisberg a cerca de 10km da
meta. Quando a corrida passou pelo “Muur” de Kluisberg apenas 26 ciclistas estavam
na frente com os belgas a comandar a corrida com 6 elementos e o seu líder Rik
Van Looy. Tudo corria como previsto e à entrada para o último km já com o risco
de meta à vista não parecia haver grandes dúvidas: entre a multidão todos
gritavam por um nome: o herói belga , o Imperador, Van Looy que estava perto de
conquistar o seu terceiro mundial de ciclismo de estrada.
Van Looy estava prestes a cortar a
meta e a erguer os braços no ar. Mas atrás do grupo da frente vinha outro belga
que se manteve sempre na mesma posição. Era o jovem de 22 anos Benoni Beyeht
que se estreava na seleção do seu país. Aos poucos Beyeht ganhava posições e
estava agora atrás do seu líder Van Looy. Num momento de “loucura “o jovem
ciclista da equipa Wiel’s-Groene Leeuw agarrou no
selim de Van Looy e cruzou a linha de meta em primeiro. Beyeht tinha ganho os
mundiais de ciclismo. Todos estavam incrédulos. Rik Van Looy nem uma palavra dizia,
o seu rosto estava fechado e perto de explodir. A comitiva belga não sabia se
podia festejar ou se se mantinha calada e na multidão havia um silêncio geral e
todos estavam espantados com o que acabaram de ver. O seu Imperador fora
derrotado por um jovem de 22 anos . Esta cena não estava prevista na peça dos
Mundiais de Ciclismo de Ronse e muitos dos fãs de Van Looy apelidaram-na de “ a
Traição de Ronse”.
Beyeht ultrapassa Van Looy em cima da meta |
Na cerimónia do pódio o clima era tenso. Van Looy nem levantou a cabeça
, o terceiro classificado , o holandês Jo de Haan, não sabia o que fazer e
mesmo o vencedor Beyeht festejou timidamente a sua maior conquista como
profissional de ciclismo.
Benoni Beyeht provavélmente sabia o que seria a sua vida daqui para a frente.
Ninguém lhe deu os parabéns. Nem os seus companheiro de seleção. Rik Van Looy
tinha muito poder nos meandros do ciclismo e ninguém queria ficar contra o todo
poderoso Imperador belga.
A “Traição de Ronse” passou a barreira do ciclismo profissional e
nalguns bares e cafés belgas, os poucos adeptos de Beheyt discutiam
ferverosamente com os fãs de Van Looy. Muitas vezes essas discussões terminavam com socos e pontapés.
Rik Van Looy nunca esqueçeu o que Benoni Behety lhe fez naquela tarde de
11 de Agosto de 1963 e os dois nunca mais falaram deste então. Van Looy
continuou a conquistar corridas mas a carreira de Behety não foi a esperada
para um campeão do mundo. Quando o contrato com a sua equipa terminou nenhuma
equipa o quis. Deixou de ser convidado para os principais critérios e a sua
carreira terminou dois anos depois de vencer os Campeonatos do Mundo.
A “ Traição de Ronse” tinha ganho outro capítulo : “ a Maldição de Ronse”
. Ninguém se pode meter com o Keizer van Herentals…
Boas pedaladas.
AT
E nesse tempo havia muito cavalheirismo Ciclismo,mesmo assim..........
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