Para
iniciar esta nova rúbrica do Aguadeiro Trepador Blog: “Imagens com estória” escolhemos um
momento de ciclismo nacional. De alguma forma até pessoal. Esta foi a etapa da Volta a Portugal que mais ficou na nossa memória e que mais
vibramos.
“Finalmente
ganhou o Gamito. “
Tudo se passou
no segundo dia de agosto de 2000. A etapa ligava Guarda ao Alto da Torre numa
extensão de 168km. Estávamos no 10º dia de competição e o dinamarquês Claus
Moller (Maia MSS) liderava a prova depois de vencer no alto da Senhora da
Graça.
Entre os adeptos
portugueses Vítor Gamito liderava as preferências. Era o mais popular. Gamito entrou na Volta a Portugal de 2000
pronto para quebrar o enguiço do “Raymond Poulidor” à portuguesa. Segundo
classificado por 4 ocasiões: 93,94, 97 e 99, viu escapar-lhe a vitória em 1999
no “famoso” contrarrelógio de Cantanhede onde até partiu como favorito, mas foi
o espanhol do Benfica David Plaza a terminar de amarelo com apenas 9 segundos
de avanço. Nesse contrarrelógio o rádio-comunicador nunca funcionou e Gamito só
soube que tinha perdido a Volta a Portugal quando cruzou a linha de meta e viu
a equipa benfiquista a festejar.
Em 2000 o
ciclista lisboeta corria pelas cores da alentejana Porta da Ravessa e à entrada
para a etapa rainha ocupava apenas o 9º lugar a cerca de 1minuto do ciclista da
Maia MSS. Gamito atrasou-se na subida ao Monte Farinha. Um “problema de
hemorroidas”, soube-se um tempo depois. À frente do homem da Porta da Ravessa
encontravam-se outros nomes de peso: José Azevedo, Joaquim Gomes e Andrei
Zintchenko. Na etapa com chegada ao ponto mais alto de Portugal continental os
ataques teoricamente iriam sair desta tripla, mas foi Vítor Gamito que à
saída da cidade da Covilhã desferiu o ataque que mudou a história da edição da
Volta a Portugal de 2000, mas também mudou a sina do “eterno segundo” e colocou
de alguma forma justiça numa carreira marcada pelo azar que tinha tudo para ter
sido brilhante.
Gamito acelerou
na passagem pelas difíceis rampas do antigo Sanatório e lembrou-se do episódio
do CRI do ano anterior. De novo o rádio não estava a funcionar. Gamito queria
saber a vantagem que trazia e do outro lado apenas o silêncio. Numa mistura de
indignação e irritação atirou fora o “peso morto” (todos se devem lembrar deste
episódio) e arrancou à procura da frente da corrida onde estava o colombiano da
Kelme, Felix Cardenas.
Á passagem pelas
Penhas da Saúde já liderava a corrida com 1m30s de vantagem para o
grupo da camisola amarela Claus Moller. Gamito estava imparável e entrou para
aqueles últimos 300m da chegada à Torre com uma multidão em êxtase vibrando com
a fabulosa exibição do ciclista português. Ganhou a etapa, ganhou a amarela e
estava com cerca de 1m30s de vantagem para
os seus rivais. Gamito tinha tudo para finalmente ganhar a Volta a Portugal em
bicicleta.
No dia 2 de
agosto de 2000 Gamito foi brilhante e obteve a sua vitória mais importante .
Tinha dado um passo de gigante para virar a historia a seu favor e escrever o nome na
lista de vencedores da Volta a Portugal em bicicleta.
A confirmação do
sucesso deu-se no CRI individual entre Portalegre e a bonita vila de Marvão. Em
pleno parque natural da serra de São Mamede, Gamito vence de forma categórica a
etapa ultrapassando nos metros finais o segundo classificado Claus Moller.
Finalmente iria acabar a prova rainha portuguesa no primeiro lugar do pódio.
Na nossa volta,
o triunfo de Vítor Gamito no santuário ciclístico do Alto da Torre é
provavelmente a vitória mais celebrada pelos adeptos portugueses nos últimos 20
anos. Pelo menos foi para o Aguadeiro Trepador.
Chapeau Vitor
Gamito!
Boa rubrica, só comecei a acompanhar ciclismo nos últimos anos e tenho curiosidade sobre estas histórias!
ResponderEliminarFico a aguardar as próximas.
Bom post. Gostei.
ResponderEliminar