domingo, 3 de junho de 2018

Imagens com estória nº 1: " Finalmente ganhou o Gamito "


Para iniciar esta nova rúbrica do Aguadeiro Trepador Blog: “Imagens com estória” escolhemos um momento de ciclismo nacional. De alguma forma até pessoal.  Esta foi a etapa da Volta a Portugal que mais ficou na nossa memória e que mais vibramos.

“Finalmente ganhou o Gamito. “

Tudo se passou no segundo dia de agosto de 2000. A etapa ligava Guarda ao Alto da Torre numa extensão de 168km. Estávamos no 10º dia de competição e o dinamarquês Claus Moller (Maia MSS) liderava a prova depois de vencer no alto da Senhora da Graça.

Entre os adeptos portugueses Vítor Gamito liderava as preferências. Era o mais popular.  Gamito entrou na Volta a Portugal de 2000 pronto para quebrar o enguiço do “Raymond Poulidor” à portuguesa. Segundo classificado por 4 ocasiões: 93,94, 97 e 99, viu escapar-lhe a vitória em 1999 no “famoso” contrarrelógio de Cantanhede onde até partiu como favorito, mas foi o espanhol do Benfica David Plaza a terminar de amarelo com apenas 9 segundos de avanço. Nesse contrarrelógio o rádio-comunicador nunca funcionou e Gamito só soube que tinha perdido a Volta a Portugal quando cruzou a linha de meta e viu a equipa benfiquista a festejar.

Em 2000 o ciclista lisboeta corria pelas cores da alentejana Porta da Ravessa e à entrada para a etapa rainha ocupava apenas o 9º lugar a cerca de 1minuto do ciclista da Maia MSS. Gamito atrasou-se na subida ao Monte Farinha. Um “problema de hemorroidas”, soube-se um tempo depois. À frente do homem da Porta da Ravessa encontravam-se outros nomes de peso: José Azevedo, Joaquim Gomes e Andrei Zintchenko. Na etapa com chegada ao ponto mais alto de Portugal continental os ataques teoricamente iriam sair desta tripla, mas foi Vítor Gamito que à saída da cidade da Covilhã desferiu o ataque que mudou a história da edição da Volta a Portugal de 2000, mas também mudou a sina do “eterno segundo” e colocou de alguma forma justiça numa carreira marcada pelo azar que tinha tudo para ter sido brilhante.

Gamito acelerou na passagem pelas difíceis rampas do antigo Sanatório e lembrou-se do episódio do CRI do ano anterior. De novo o rádio não estava a funcionar. Gamito queria saber a vantagem que trazia e do outro lado apenas o silêncio. Numa mistura de indignação e irritação atirou fora o “peso morto” (todos se devem lembrar deste episódio) e arrancou à procura da frente da corrida onde estava o colombiano da Kelme, Felix Cardenas.

Á passagem pelas Penhas da Saúde já liderava a corrida com 1m30s  de vantagem para o grupo da camisola amarela Claus Moller. Gamito estava imparável e entrou para aqueles últimos 300m da chegada à Torre com uma multidão em êxtase vibrando com a fabulosa exibição do ciclista português. Ganhou a etapa, ganhou a amarela e estava com cerca de 1m30s  de vantagem para os seus rivais. Gamito tinha tudo para finalmente ganhar a Volta a Portugal em bicicleta.

No dia 2 de agosto de 2000 Gamito foi brilhante e obteve a sua vitória mais importante . Tinha dado um passo de gigante para virar a historia a seu favor e escrever o nome na lista de vencedores da Volta a Portugal em bicicleta.

A confirmação do sucesso deu-se no CRI individual entre Portalegre e a bonita vila de Marvão. Em pleno parque natural da serra de São Mamede, Gamito vence de forma categórica a etapa ultrapassando nos metros finais o segundo classificado Claus Moller. Finalmente iria acabar a prova rainha portuguesa no primeiro lugar do pódio.

Na nossa volta, o triunfo de Vítor Gamito no santuário ciclístico do Alto da Torre é provavelmente a vitória mais celebrada pelos adeptos portugueses nos últimos 20 anos. Pelo menos foi para o Aguadeiro Trepador.

Chapeau Vitor Gamito!
 

2 comentários:

  1. Boa rubrica, só comecei a acompanhar ciclismo nos últimos anos e tenho curiosidade sobre estas histórias!

    Fico a aguardar as próximas.

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