sábado, 9 de setembro de 2017

Alto de Angliru : " Olimpo del Ciclismo "


O mítico Angliru !  
Mas o que faz uma subida que foi percorrida apenas 7 vezes em competição ser alvo de tanta adoração, curiosidade e respeito? A resposta é simples : a  sua dureza e a forma como foi descoberta fizeram com que  El Gamonal ( o outro nome ) figurasse nalgumas listas das ascensões  lendárias. É justo ? Veremos.
Vamos por partes, primeiro a geografia.
 
O Angliru fica situado no norte de Espanha , na região das Astúrias. No meio de uma vasta zona de pastagem. Os seus 1570m de altitude fazem parte do coração da serra de Aramo no concelho asturiano de Riosa. Quem tiver coragem para subir ao alto terá de se deslocar à aldeia de La Vega de Riosa. A subida ao “Olimpo do Ciclismo” começa aí…

El Angliru: serra de Aramo nas Astúrias

Mas porque é que a 1ª subida ao alto do Angliru apenas foi percorrida em competição em 1999? Pela mesma razão que as “montanhas “que só nós conhecemos nas nossas voltas de domingo raramente fazem parte da Volta a Portugal. Não são conhecidas.  O Angliru também não o era.  A primeira vez que se deu a conhecer ao mundo do ciclismo foi na edição de fevereiro de 1996 da revista espanhola “Ciclismo a Fundo” . Apartir daí a sua “vida” mudaria por completo.
O responsável pela sua descoberta foi Miguel Prieto, diretor de comunicação da Organização Nacional de Cegos Espanha ( ONCE) para sempre conhecido como o “ visionário cego “ . Prieto não fez por menos.  A 23 de setembro de 1997 escreveu uma carta (ver a carta)  aos responsáveis máximos da organização da Vuelta : Enrique Franco e Alberto Gadea. Tentava então convencê-los que a subida ao Angliru seria umas das mais espetaculares de sempre… Apenas conhecida por pastores locais que a utilizavam para movimentar o seu gado , agora que foi pavimentada não havia razões para não fazer parte do percurso. Para Prieto , se a Itália tinha o Mortirolo e a França o Mont Ventoux então a Espanha não podia ter “apenas “ os Lagos Covadonga. Tinha de ter algo mais difícil e duro. A resposta só podia estar em La Veja de Riosa e no seu Angliru.
Zona de pastagem de gado, El Gomonal nasceu para o ciclismo em 1999
 
Franco e Gadea acompanhados de Prieto fizeram o seu reconhecimento em 1998 e encontraram “ a misteriosa montanha asturiana. A mais dura subida jamais vista” . Passados 13 dias na apresentação da Vuelta a surpresa. Era oficial, o Angliru iria ser palco de um final de etapa. O mundo ciclístico tinha então os olhos postos neste monstro asturiano e as reações não se fizeram tardar. Um dos melhores trepadores de então, o italiano Leonardo Piepoli, visitou o Angliru uns dias antes do inicio da Vuelta 1999 e descobriu como “era impossível “ principalmente a zona de Cueña les Cabres e as suas rampas de 24% de inclinação . Outros críticos perguntavam o que queria a organização: “sangue ?”. Vicente Belda, diretor desportivo da equipa Kelme , estava indignado. “Como queriam um ciclismo limpo se depois os corredores subiam estas barbaridades …” antecipando-se ao escândalo de doping onde a sua equipa esteve envolvida anos mais tarde.
Cuenã les Cabres : rampas de 24% inclinação
 
José Maria Jiménez: primeiro vencedor no Alto de Angliru
Mas o grande momento chegou. A etapa ligava a cidade de Léon ao Alto do Angliru e num duelo digno de um filme de suspense o espanhol José Maria Jiménez bate o russo Pavel Tonkov sobre a linha de meta e torna-se o primeiro a conquistar El Gamonal. No final dedica a vitoria ao seu amigo Pantani : “ Nunca subi uma montanha tão dura. É exageradamente forte. Aqui Pantani e eu faríamos estragos “. Com apenas meses de diferença, no Inverno de 2003 a 2004, Pantani e Jiménez, dois dos trepadores mais talentosos da sua geração morriam de overdose de cocaína. Ao dar a noticia da morte de “ Chava “ Jiménez o jornal ABC escreveu “ El primer hombre en la luna ( o al menos en el Angliru )” .
 O Angliru regressou no ano seguinte ( 2000) e o seu vencedor foi o italiano Gilberto Simoni. O impacto da sua vitória no colosso espanhol foi tão grande que em Itália os responsáveis pelo Giro estavam desesperados para recuperar o título de “subida mais dura” que o Angliru tinha roubado ao Mortirolo. Como solução em 2003 incluíram no percurso do Giro de Itália o Monte Zoncolan e também o Col de Finestre com os seus famosos 8km em terra.
Mais 4 edições da Vuelta escalaram a subida: 2002 ( Roberto Heras) , 2008 ( Alberto Contador), 2011 ( Juan Cobo), 2013 ( Kenny Elissonde) e 2017 ( a ultima vitória de Alberto Contador ).
" El Olimpo de Ciclsmo" - Ayuntamiento de Riosa
El Gamonal ganhou fama , e La Veja de Riosa é hoje procurada por quem quer testar as suas capacidades físicas e mentais. Seja a pé ou de bicicleta todos aqueles que visitam a região de Riosa querem conquistar o “Olimpo do Ciclismo “ . A expressão é do Alcaide José Antonio Muñiz que viu na ascensão ao Angliru uma boa forma de promover o seu concelho. Será com certeza exagerada, mas na Serra de Aramo os argumentos esgotam-se tão rapidamente como as forças nas pernas e o ar nos pulmões quando temos pela frente rampas tao duras a ultrapassar os 20% de inclinação.
 
Se o Angliru fará parte do “ Olimpo do Ciclismo” ao lado do Mont Ventoux, Tourmalet, Izoard ou  Alpe D´Huez isso não sabemos . Precisa de muita coisa, principalmente de história. E também no ciclismo a história precisa de tempo e o Angliru ainda é muito novo.
Teremos hoje mais um capítulo rumo à lenda?
Desde La Vega de Riosa
Altitude : 1573m
Distancia: 12,5k
Desnível: 1266m
Média: 10,13%
Máxima: 23,5%
 
 
 
Boas pedaladas, AT
 
 
 

2 comentários:

  1. Só uma pequena retificaçao, a primeira foto da publicação não é o angliru, é uma subida nos pirineus franceses, chamada Luz Ardiden, perto de Luz San Saveur. Texto muito bom, parabéns.

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  2. Tem toda a razão . Obrigado pela observação

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